Quisera ser a voz das cousas mortas,
Plagiar o vento e as sombras do crepúsculo
E o silêncio das eras primitivas,
Refugiado ainda nos mais altos,
Inacessíveis montes, sobre os quais
Ganhou a densidade dos penedos
E aquela tosca forma escultural,
Porque o silêncio é Deus e a sua imagem
Num grande altar, se eleva à luz dos astros...
Em nome da tristeza eu te bendigo
Silêncio das alturas! Ó silêncio
Divino do Marão, que vais crescendo,
E enches léguas e léguas de paisagem,
E sobes no Infinito - como eu sinto
Estes campos e outeiros oprimidos,
Sob o teu brônzeo peso que me envolve
E envolve a minha casa solitária,
De espantadas janelas, sempre abertas."
Teixeira de Pascoaes, in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes", de Maria José Teixeira de Vasconcelos
Sem comentários:
Enviar um comentário