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13/10/23

Lugares abandonados - Portugal. Vilarinho da Furna (Braga), uma aldeia no Parque Nacional da Peneda-Gerês… submersa pela albufeira da barragem de Vilarinho das Furnas, em 1971.



«9 sítios que assustam: as cidades e aldeolas mais arrepiantes (uma é em Portugal)

Uma cidade-fantasma, um silêncio assustador, uma experiência inesquecível. Há quem nem pense nisso, há quem adore.

Os locais abandonados, ou cidades-fantasma, assustam algumas pessoas, que recusam sequer aproximar.

Para outras pessoas, que gostam mais de aventura, este arrepio é um fascínio; querem descobrir as histórias dos edifícios em ruínas e passear pelas ruas desertas sob um silêncio assustador.

Outubro, dizem, é mês “das bruxas” e a plataforma Musement partilhou com o ZAP uma lista de 9 cidades ou aldeolas abandonadas, assustadoras – ou cativantes. Há um exemplar português.

Começamos pela Turquia: Kayakoy, uma cidade-fantasma. Ficou sem habitantes há cerca de 100 anos por causa da guerra com a Grécia. Só vemos ruínas de centenas de casas de pedra, sem telhado. Mas ainda estão lá, entre a vegetação rasteira. É uma visão verdadeiramente apocalíptica.

Atravessamos o oceano Atlântico até à cidade-fantasma Nelson, nos Estados Unidos da América. O famoso “Velho Oeste”. Era um dos principais depósitos de ouro e prata do sul de Nevada, era o lar de criminosos – nem a polícia ia lá. As minas fecharam em 1945 e houve uma cheia forte pouco depois. A cidade ficou sem pessoas mas ainda tem prédios, máquinas de extracção e uma estação da petrolífera Texaco.

Continuamos nos EUA e em Nevada: Rhyolite era também local de minas. Chegou a ter hotéis, hospital, escola, centrais energéticas… Até que chegou a crise financeira de 1907; minas encerradas, bancos falidos, cidade sem electricidade e vazia. Há por exemplo ruínas de um prédio de três andares que era a sede de um banco ou partes da antiga prisão.

Aqui ao lado temos Belchite, perto de Saragoça. Uma aldeola que é um dos retratos mais fiéis da Guerra Civil em Espanha. Ficou a arquitetura, ficaram as ruínas da Torre do Relógio ou da Igreja de San Martín de Tours. E há quem diga que viu… actividades paranormais naquele local.

Old Sinies, na Grécia, cujas origens remontam à Idade Média, é uma aldeola de acesso difícil. Na altura, era um local perfeito para se proteger contra ataques de piratas. Mas os seus habitantes foram mudando de casa para mais perto do mar, com o passar das décadas e dos séculos, e ficou deserto. Mais ruínas das casas de pedra cercadas por vegetação, além de três templos que ainda resistem.

Ainda na Grécia, Spinalonga é uma ilha famosa pelas suas inúmeras batalhas e por ter sido a casa de leprosos durante a primeira metade do século XX. Agora só há casas abandonadas, hospital abandonado, escola abandonada… É um local para ver como viviam os doentes, em parte.

Na Índia está Fatehpur Sikri, que chegou a ser a capital do Império Mogol. Mas faltava um “pormenor” naquela cidade: água. Fatehpur Sikri foi completamente abandonada poucos anos depois. Ficaram os edifícios de arenito vermelho.

Quase a fechar, voltamos à Europa: Craco, em Itália, fica no topo de uma colina com quase 400 metros de altura e rodeado de ravinas. Viveu uma época de esplendor na Idade Média mas um grande deslocamento de terras há 60 anos “esvaziou” Craco. É um silêncio sepulcral, agora, com ruínas de casas, igrejas e palácios.

Por fim, Portugal. Vilarinho da Furna (Braga), uma aldeia no Parque Nacional da Peneda-Gerês… submersa pela albufeira da barragem de Vilarinho das Furnas, em 1971. Um local com grande riqueza etnográfica que ainda é possível – quando o nível da água baixa: vemos casas, caminhos, muros.

ZAP //» in https://zap.aeiou.pt/cidades-fantasma-visitar-561852

(Documentário Vilarinho das Furnas de 1971)

#portugal    #penedagerês    #vilarinhodasfurnas    #aldeiasabandonadas

03/01/16

Aldeia dos Sonhos - No âmbito de uma candidatura apresentada pela Câmara de Mértola, São Miguel do Pinheiro venceu a segunda edição do projeto, que realiza sonhos de natureza turística, cultural e desportiva de aldeias com menos de 100 habitantes.



«Habitantes de São Miguel do Pinheiro saem da pequena aldeia para viagem de "sonho"

Com "as mãos na massa", enquanto prepara uma fornada de pão, a padeira da aldeia, Iria Reis, de 63 anos, conta à agência Lusa que trabalha "todos os dias" e a viagem será "uma oportunidade única de fechar a padaria", mas irá compensar, porque servirá para "cumprir um sonho".

O "sonho" dos habitantes de São Miguel do Pinheiro, no concelho de Mértola, no distrito de Beja, de conhecer a cidade do Porto e a região do Minho será concretizado no início da primavera deste ano, através do projeto "Aldeia dos Sonhos", da Fundação INATEL.

No âmbito de uma candidatura apresentada pela Câmara de Mértola, São Miguel do Pinheiro venceu a segunda edição do projeto, que realiza sonhos de natureza turística, cultural e desportiva de aldeias com menos de 100 habitantes.

"Nunca tive férias, trabalho todos os dias e, desde que tenho a padaria nova, é impossível, não há um fim de semana, não há nada", desabafa Iria Reis, referindo que "nunca" passou de Lisboa e está "muito ansiosa" para fazer a viagem, porque "é um desejo muito grande" e "há muito tempo que gostava de ir ao norte para ver um sítio diferente".

A viagem vai durar dois dias e decorrer num fim de semana, já que algumas pessoas não podem ausentar-se por mais tempo, e inclui uma noite numa unidade hoteleira da Fundação INATEL, explica à Lusa o diretor do Departamento de Inovação Social da instituição, Rui Calarrão.

Durante a viagem, a fundação irá concretizar os "pequenos sonhos" de cada uma das pessoas, diz Rui Calarrão, indicando, a título de exemplo, que, no Porto, uns vão querer visitar a Torre dos Clérigos e outros a Casa da Música, e, no Minho, uns gostarão de ir ao Santuário do Bom Jesus de Braga e outros a Viana do Castelo.

"O meu sonho é ir ao Porto conhecer a Casa da Música, porque gosto muito de música e gostava de a conhecer. Acho que deve ser muito interessante", conta à Lusa Deonilde Marques, de 22 anos, reconhecendo ser "a primeira vez" que vai fazer "uma grande viagem" e quer "conhecer e aproveitar tudo ao máximo e desfrutar de tudo".

Já Maria José Ruas, de 63 anos, que "pouco" tem saído da aldeia e também é "a primeira vez" que vai fazer uma viagem do género, quer "ver tudo o que ainda não viu", mas prefere visitar o Santuário do Bom Jesus de Braga, porque tem "ouvido dizer que é bonito" e, por isso, tem "o sonho de o ver".

A viagem "é muito importante para nós", porque "quase nunca saímos" da aldeia, normalmente "vamos a Mértola, a Almodôvar e a Beja e pouco mais", conta à Lusa Maria José Ruas, sublinhado que vai "gostar imenso de ir" e espera que "tudo corra bem".

Será "uma oportunidade de sair da aldeia e conhecer outros sítios", diz à Lusa Rodrigo Tomás, de 18 anos, frisando que também é "a primeira vez" que vai fazer uma viagem do género e espera que "corra tudo bem" e todos possam divertir-se.

O técnico de ação social da Câmara de Mértola, António Simão, explica à Lusa que o município candidatou São Miguel do Pinheiro ao projeto por ser uma aldeia que "tem perdido muitos" habitantes e tem uma população "envelhecida", mas que "participa muito" em atividades e pequenos passeios promovidos pela autarquia.

Para a escolha do "sonho", a autarquia reuniu "aleatoriamente" um grupo de habitantes da aldeia, a maioria idosos, que escolheu visitar a cidade do Porto e a região do Minho, por não as conheceram e devido à "maior distância geográfica entre o Alentejo e o norte e pela diferença da paisagem", explica António Simão.

Segundo o presidente da Junta de Freguesia, António Peleja, os habitantes estão "muito orgulhosos e bastante contentes" por São Miguel do Pinheiro ter sido escolhida como a "Aldeia dos Sonhos" de 2015.

"Foi muito importante", porque muitos dos habitantes "tinham o sonho" de visitar o Porto e o Minho, refere o autarca, sublinhando que "há várias pessoas que nunca saíram" da aldeia para gozar férias ou viajar por mais de um dia.

"Têm saído, fazem um passeio, dos que organizamos através da autarquia", mas "vão e vêm no próprio dia, um passeio de um fim de semana fora nunca tiveram muitos deles, portanto, esta será uma oportunidade" para poderem fazer uma grande viagem, frisa o autarca.

São Miguel do Pinheiro é "uma aldeia pacata", tem 87 habitantes, entre os 3 e 82 anos, "um património histórico e cultural bastante enriquecedor", do qual se destaca um moinho de vento e um núcleo museológico dedicado à agricultura tradicional e à história da moagem da região, conta o autarca.

Por ser uma "Aldeia dos Sonhos", São Miguel do Pinheiro, além de realizar o "sonho", vai passar "a figurar no mapa turístico" da Fundação INATEL e a ser visitada pelos "milhares" de pessoas que viajam através de programas da instituição, como o "Turismo Sénior", explica Rui Calarrão.

LL // JLG

Lusa/Fim» in http://24.sapo.pt/article/lusa-sapo-pt_2016_01_03_948341457_habitantes-de-sao-miguel-do-pinheiro-saem-da-pequena-aldeia-para-viagem-de--sonho

(Mértola Ambiente | Global comemora dias mundiais da água e da floresta.)

01/07/15

Portugal - A Aldeias Históricas de Portugal - Associação de Desenvolvimento vai apresentar uma candidatura para classificação como Património Mundial da Humanidade das 12 localidades que integram a rede, disse hoje António Dias Rocha, presidente desta associação.



«Aldeias históricas de Portugal candidatadas a Património Mundial da Humanidade

A Aldeias Históricas de Portugal - Associação de Desenvolvimento vai apresentar uma candidatura para classificação como Património Mundial da Humanidade das 12 localidades que integram a rede, disse hoje António Dias Rocha, presidente desta associação.

"Tendo em conta o património histórico, social e cultural e tendo em conta o que estas localidades representam não só para o interior mas para todo o país, achamos que devemos começar a trabalhar numa candidatura para Património Mundial da Humanidade", afirmou, em declarações à agência Lusa.

António Dias Rocha, que é também presidente da Câmara Municipal de Belmonte, reconheceu que o processo -- hoje já citado em alguns órgãos de comunicação social - "não será fácil, além de ser longo e trabalhoso", mas mostrou-se "confiante" relativamente ao desfecho.

"A nossa ambição é conseguirmos que dentro de cinco anos esta distinção seja atribuída às 12 aldeias", adiantou.

O autarca lembrou ainda que o selo da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) poderá ter "um forte impacto em termos da divulgação, promoção e desenvolvimento turístico e cultural de toda a região".

Relativamente ao que será feito entretanto, sublinhou que a rede das Aldeias Históricas continuará a trabalhar no "sentido de desenvolver, defender e salvaguardar o património destas aldeias, não só em termos materiais e imateriais".

Para tal, deverá contar com o apoio de fundos comunitários nomeadamente através do PROVERE - Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos - Aldeias Históricas e Património Judaico que, no último quadro comunitário de apoio, envolveu 4,5 milhões de euros.

"Com certeza que vamos ter oportunidade e condições para ter mais verbas em termos do PROVERE, até porque sabemos que a verba total a distribuir se manterá na ordem dos 35 milhões de euros, sendo que as áreas abrangidas não serão oito, e sim, ao que tudo indica, apenas cinco. Portanto, neste ponto, estamos otimistas", referiu.

A Aldeias Históricas de Portugal - Associação de Desenvolvimento Turístico foi fundada em 2007 e integra 12 localidades do interior do país, designadamente Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso.

Diário Digital / Lusa» in http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=780147

21/02/15

Arte Cinema - As montanhas ficavam perto de Arouca, vila a uma hora de carro do Porto e a três de Lisboa e tinham sido cenário de filme, sim, mas do documentário "Drave - Uma Montanha do Tamanho do Homem".



«Pelos caminhos de Drave

Quando soubemos que um documentário sobre uma aldeia de xisto desabitada tinha esgotado em três semanas, pedimos boleia a um rebanho de cabras. E partimos de olhos e ouvidos bem abertos.

O sino da capela de Regoufe avisa que é uma da tarde quando as cabras começam a partir o gelo entre as pedras da encosta, à frente da aldeia. Vamos com elas, e Fátima e os seus dois cães fecham o rebanho, cuidando para que nenhum bicho arrepie caminho e regresse ao curral. Está um daqueles dias de inverno gloriosos: céu azul, algumas nuvens dispersas, frio de barrete e luvas. E nós já estamos a gostar desta reportagem que começou com uma gripe.

Doente em casa numa tarde de semana, a jornalista Sónia Calheiros saltava entre canais de televisão quando ficou suspensa nas imagens de umas montanhas a pedir adjetivos em correnteza. "Há quem julgue ser na Nova Zelândia", ouviu e não estranhou. Sabia que a trilogia O Senhor dos Anéis tinha sido rodada nos antípodas, num cenário assim magnífico, verde, verde. Foi então que João Baião lhe apareceu no estúdio da SIC, a achar piada ao que contava um dos convidados.

As montanhas ficavam perto de Arouca, vila a uma hora de carro do Porto e a três de Lisboa. Tinham sido cenário de filme, sim, mas do documentário Drave - Uma Montanha do Tamanho do Homem. E o realizador e dono da produtora Cimbalino Filmes não esperava que os primeiros mil DVD esgotassem em três semanas.

Se antes tivera dúvidas, João Nuno Brochado sentia-se feliz por ter dedicado quase um ano e meio a Drave, uma aldeia desabitada desde 2000, situada no fundo de um vale entre as serras da Freita e de São Macário. Chamam-lhe A Aldeia Mágica - é esse, aliás, o nome do percurso pedestre proposto pelo Geoparque, 4 quilómetros com partida em Regoufe. E nós, que sorte!, vamos conhecê-la na companhia de uma ex-educadora de infância que leva um rebanho comunitário a pastar por ali três ou quatro vezes por semana.

Vitela para o lobo mau

São umas oitenta cabras, agora penhascos acima. Fátima não as contou porque o seu número vai variando - depende se alguma pariu, por exemplo. É dela a maior quantidade, umas 42 ou 44, nem sabe; as restantes pertencem a duas vizinhas que com ela se revezam. "A última vez que contei tinha cinquenta e tais, entretanto o lobo matou umas quantas."

O lobo. Na televisão, Fátima comparou-o ?com o Estado Islâmico, exagerando na metáfora tal é a raiva "aos do ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] que largam para aí lobos ibéricos". Como quase não há saída sem lobo mau por perto, vale-lhe que os cães dão sinal. Max e Lira ladram de um jeito diferente e logo as cabras desarvoram, mas o prejuízo tem sido grande.

O ICNF paga por cada animal morto mas não paga o que os donos iriam lucrar no futuro nem as horas perdidas quando ficam para trás cabritinhos que é preciso alimentar a biberão. Fátima não se conforma. "Deviam pôr os lobos cercados. Até ia lá dar-lhes vitela!"

Não é raiva ao lobo - é vontade de sobrevivência, percebe-se ao ouvi-la contar que Regoufe já só tem duas dezenas de pessoas. Ela, com 52 anos, é das mais novas. E crianças? "Zero!" Os jovens saem para estudar e não voltam porque a única viabilidade económica da aldeia é o rebanho e nem toda a gente gosta de andar com cabras. Fátima é das que gostam. "Até já nos habituámos à chuva, o lobo é que não dá paz."

Regoufe foi uma aldeia com muito movimento, e nem é preciso recuar ao início dos anos 40, altura em que as minas de volfrâmio davam bom dinheiro a ganhar na região. Tem uma zona de várzea belíssima, compartimentada como é uso por aqui, com pequenos muros de pedra solta a dividirem as leiras. Há quem tenha várias leiras mas estão umas longe das outras, uma canseira. Nas décadas seguintes, os mais velhos ficaram a ver emigrar quem podia.

E chegaram os escuteiros

Se escrevemos sobre Regoufe é porque o que aconteceu a Drave não é muito diferente. Drave é mais pequena e só tinha três famílias que viviam da agricultura e, em tempos idos, do carvão. Não havia luz, gás ou água canalizada. E os acessos eram difíceis. De lá também foram partindo os jovens, eles para arranjarem um trabalho melhor e elas maridos.

Em 1971, a aldeia alegrava-se com o último nascimento. Em 1993, quando já só lá morava um casal, chegou uma linha telefónica e energia solar. Até que, há quinze anos, partiria o último habitante, Joaquim Martins, viúvo e cansado do isolamento. Algumas das casas e currais de xisto ameaçavam ruína, os campos eram grandes para um homem, as ruas só se enchiam de vozes a 15 de agosto, dia da Senhora da Saúde, a padroeira da capelinha.

Fátima assistiu a toda a história da aldeia. De longe quando esteve no Porto a tirar o curso de educadora de infância, mais de perto ao decidir trabalhar na região de Regoufe, onde nasceu. Em 2003, já com Drave desabitada há três anos, também viu como chegavam os escuteiros da IV Secção, rapazes e raparigas entre os 18 e os 22 anos, os Caminheiros, que fizeram negócio com uma das famílias e começaram a reconstruir o seu terço da aldeia. Hoje, são deles oito casas, oito terrenos, a eira, o moinho e o espigueiro.

Foi logo em 2003 que João Nuno Brochado conheceu Drave. Nesse verão, ajudou a fazer o telhado da futura cozinha da Base Nacional da IV do Corpo Nacional de Escutas, carregando às costas as lajes de xisto num vaivém muito parecido com o que iria filmar dez anos depois, a convite do dirigente Paulo Natividade. Desde então, todos os fins de semana há escuteiros em Drave. O trabalho é contínuo - de manutenção (de telhados, de pontes), de construção (carpintaria), de espiritualidade (acreditam que ela é favorecida em contacto com a natureza).

Graças a Deus que é quinta-feira e estamos no inverno e a uns dias das férias do Carnaval. Os treinos para o Ultra Trail da Serra da Freita ainda vêm longe e à semana são raros os entusiastas do BTT e os "turistas de salto alto". Chamem-nos egoístas com razão - queremos ter Drave só para nós. Gostamos de imaginar como era o quotidiano desta aldeia embalados apenas pelo som da água a correr com força montanha abaixo e pelos balidos das cabras.

O frio, a rudeza, a simplicidade

As explicações de Fátima, que aqui aponta a adega, ali a eira, acolá a entrada dos homens na capela caiada - de branco como já foi o Solar dos Martins, morada dos "grandes" da aldeia -, parecem dar vida ao lugar. Quando a "pastora" nos incita a entrar nas casas recuperadas pelos Caminheiros percebemos porque Drave está parada no tempo mas não abandonada.

Para lá das portas, de madeira grossa e com cravelhas no lugar de chaves, houve mil cuidados em manter as traças originais. As casas estão adaptadas ao dia a dia dos escuteiros, há beliches estreitos, mesas e bancos corridos, tudo de madeira, e um forno a lenha a contrastar com uma instalação elétrica rudimentar (que era alimentada a geradores, entretanto furtados), mas o princípio foi o de deixá-las apenas tão cómodas como eram antigamente. "Queríamos que estes jovens que estão a ir para adultos sentissem o frio que se passava, a rudeza, a simplicidade", há de dizer-nos Paulo Natividade.

Os dias, por aqui, querem-se espartanos e próximos da natureza. Se ainda é possível beber água diretamente do rio (juntam-se ali três, na verdade) é porque a IV Secção faz parte da organização Leave No Trace. Para não deixar vestígios, os detergentes e os champôs devem ser biodegradáveis e nunca pode haver poluição direta do rio, das cascatas ou das lagoas. "Estão a ver? Isto é culpa do Paulo!", ri-se Fátima, mostrando o fundo de uma chávena de plástico, cheio de sarro, antes de a usar.

Sentamo-nos num caminho de lajes de xisto que aqueceram ao sol. Devem ser três da tarde. Dali a uma hora vai ser preciso começar a juntar as cabras que se espalharam pela leira do outro lado da aldeia e pelo monte sobranceiro onde ainda há muitas bolotas de sobreiro. Os bichos pelam-se por bolotas, mais ainda por penhascos. "É da natureza delas", lembrara Fátima à saída de Regoufe.

Na hora e picos que levámos para chegar a Drave, num ritmo de passeio que deu para beber água das nascentes, espreitar abrigos de mineiros e encher os olhos com a paisagem, nós seguíamos pela estrada (primeiro um estradão, mais à frente um caminho de xisto) e elas pelo cume das montanhas. À cata de bolotas, pois claro.

Benditos 'drones'

Ser cabra-bicho deve ser coisa boa, mas levantarão elas a cabeça para apreciar as montanhas "de pele lisa e ondulada" descritas por Afonso Reis Cabral, em O Meu Irmão (Prémio Leya 2014?

O romance começa no Tojal, que "é perto de Arouca e longe de tudo o resto". A aldeia, com catorze casas de xisto, dez abandonadas, três de um casal mais filho, e a décima quarta da família do narrador, só existe na cabeça do escritor. "Pus lá um pezinho na imaginação", ri-se, quando lhe telefonamos a tirar teimas. Mas podia ser Drave ou mesmo Cando, em plena serra da Freita, onde já moraram trinta pessoas e agora sobram quatro, duas mães e dois filhos adultos.

A situação geográfica é outra se pensarmos que o Tojal-inventado fica muito perto de Ponte de Telhe, essa sim com direito a nome no mapa, escola básica e promessa de bons banhos no rio Paivô (que na região se pronuncia Paivó). Já as montanhas que "parecem uma mulher sem roupa, mas em verde" são as mesmas. E a inaptidão para descrevê-las, de que se queixa ironicamente o escritor, também é a mesma.

O melhor será pedir ajuda às fotografias publicadas nestas páginas e ao documentário que nos trouxe a Drave. O filme esgotou mas já está a ser preparada uma 2.ª edição, a lançar a 7 de março, em Lisboa. Além de contar a história da aldeia e de acompanhar o trabalho dos escuteiros, a voz do ator e encenador António Durães leva-nos até às montanhas que a escondem, num inebriante voo de pássaro só possível com câmaras instaladas em drones.

Não é assim tão estranho termos desejado ser cabras e agora inventarmo-nos aves. Estas montanhas são especiais, são muito diferentes do resto do País, comunga connosco o realizador que delira com o Vale do Paivô, à volta de Drave, e com o Portal do Inferno, do outro lado da aldeia. "Parece um manto que caiu ali e ficou cheio de rugas."

Só iremos ouvir uma metáfora igualmente bonita no dia seguinte, quando visitarmos Cando. "Estão a ver aquela vagazinha?", aponta António Alves, 47 anos, neto do dono das antigas pedreiras de xisto junto à aldeia. "Logo atrás é Drave, onde estiveram ontem."

Matar saudades do mar

É sexta-feira, um dia de inverno rigoroso: céu cinzento, gelo na estrada e neve a cair miudinha. Por aqui os montes são "vagazinhas", a lembrar o mar lá ao longe. Mesmo vê-lo só ao longe quebra o isolamento, percebe-se quando vamos até à aldeia da Castanheira, também na serra da Freita, e um dos doze habitantes, Manuel Tavares, 68 anos, a maioria deles emigrado em França, promete: "Quando o nevoeiro alisar vê-se bem a queda de água [a Frecha da Mizarela]. E até o mar!"

O mar merece exclamação. Já na véspera, vendo-nos a repetir "Isto é lindo!", "As montanhas são lindas!", a emoção a comer-nos o vocabulário, Fátima confessara as saudades do mar. Quando apertam, lá vai ela matá-las no seu carro; mas logo regressa aos montes que tão bem conhece.

A "pastora" dava uma bela guia da natureza, arriscamos e recebemos uma gargalhada de volta. "Mais tarefas? Às vezes, trabalho tanto que até me arde o coração. É porcos, é galinhas, é cabras, é o restaurante! [O Mineiro, à entrada de Regoufe]. Por acaso, pensei que era giro criar um programa de pastor por um dia para turistas, mas as outras duas senhoras não quiseram."

"Giro" não será a palavra certa para descrever o que sentimos quando uma cabrita ainda nova, com menos de um ano, resolve parir no regresso à aldeia. Nenhuma das três assistiu ao parto porque ela se deixou ficar para trás, mas posso escrever que pegar num cabritinho acabado de nascer é emocionante. Obrigada, Sónia.



Pelos caminhos de Drave

O QUE FAZER

Casa das Pedras Parideiras - Um filme em 3D ajuda a perceber um fenómeno de granitização único no mundo que aqui também pode ser visto "ao vivo" - Castanheira, Albergaria da Serra T. 256 484 093 Seg-dom 9h30-12h30, 14h-17h

Minas de Regoufe - Complexo mineiro Poça da Cadela, em ruínas. ?O volfrâmio, que era conhecido por "ouro negro", deu muito dinheiro a ganhar na região - Regoufe, Covelo de Paivô

PR Aldeia Mágica - Percurso pedestre entre Regoufe e Drave, por caminhos tradicionais. O início é pedregoso e são 4 km para cada lado. Mas faz-se bem e a paisagem tudo perdoa - geoparquearouca.com

PR Nas Escarpas da Mizarela - Percurso pedestre com partida e chegada no Parque de Campismo do Merjual (serra da Freita), por caminhos de montanha. São 8 km e o nível de dificuldade é alto - geoparquearouca.com

O QUE COMPRAR 

Doçaria - Em bola ou à fatia, o pão de ló da casa A. Teixeira Pinto é afamado. E as suas pedras parideiras são uns deliciosos biscoitos de nozes - Burgo, Arouca T. 256 944 246
Mel - As abelhas de António Azevedo, da Quinta do Lobo, produzem mel de urze ou de eucalipto. O de urze é escuro, denso e tem um sabor forte - Pode comprá-lo na Casa das Pedras Parideiras

ONDE FICAR

Casas de Aldeia - Dois T1 e um T3, com forno e lareira, numa pequeníssima aldeia de xisto em plena serra da Freita - Cando, Cabreiros T. 91 751 5506

Hotel S. Pedro - Um três estrelas renovado, com uma receção que faz concorrência ao posto de turismo do Geoparque - Av. Reinaldo Noronha, 24, Arouca T. 256 944 580

Quinta da Vila - A única dificuldade será escolher entre os quartos dos lagares e os das piscinas - Lugar da Vila, Alvarenga T. 91 852 8478 ?ou 91 459 7826

ONDE COMER

Caetano - Foi nesta casa que começou a tradição dos bifes de Alvarenga. A carne é arouquesa e o molho é feito só com o seu sangue - Trancoso, Alvarenga T. 256 955 150

Casa no Campo - Posta de vitela arouquesa grelhada num ai ou outros pratos por marcação. - Espinheiro, Moldes T. 91 425 2284

O Mineiro - Cabrito no forno, vitela assada e arroz de frango, de frente para a várzea. Produtos caseiros cozinhados pela "pastora" Fátima Martins - Regoufe, Covelo de Paivô T. 96 011 0195» in http://visao.sapo.pt/pelos-caminhos-de-drave=f810728


(Aldeias - Arouca - Drave)

21/09/13

Aldeias de Portugal - Colo de Pito é uma aldeia portuguesa da freguesia das Monteiras no concelho de Castro Daire, Distrito de Viseu, Colo de Pito tem 149 habitantes (2006), sendo de população genericamente católica, pertencente à Paróquia das Monteiras e Diocese de Lamego.



«Colo de Pito

Colo de Pito é uma aldeia portuguesa da freguesia das Monteiras no concelho de Castro Daire, Distrito de Viseu. Colo de Pito tem 149 habitantes (2006), sendo de população genericamente católica, pertencente à Paróquia das Monteiras e Diocese de Lamego.

Colo de Pito é um airoso lugar, que fica situado na parte noroeste da Beira Alta, no coração de Portugal, a cerca de 900 metros de altitude. Situa-se num planalto tendo como fundo a grandiosa Serra de Montemuro. 

Localiza-se junto à Estrada Nacional nº 2, distando cerca de 10 km de Castro Daire e 20 km de Lamego, tendo sido diminuídas estas distâncias em consequência da construção da nova auto-estrada A24 e que a população agora utiliza com frequência dada a maior rapidez nas deslocações, segurança e sem pagamento de portagem.

Toponímia

Colo de Pito tem a origem do seu nome, ao que parece, no Latim, como a maioria das palavras da nossa Língua. Os romanos, que invadiram e colonizaram a Península Ibérica, acharam tão belo e aprazível o lugar, que lhe chamaram “Colum Pictum” (Colina Pintada), de onde derivou o actual nome “Colo de Pito”.

Festas

No centro da aldeia existe a Capela de Nossa Senhora da Saúde, cuja festa é celebrada no terceiro domingo do mês de Julho. As festas da Nossa Senhora da Ouvida celebram-se, também, anualmente, no dia 3 de Agosto.

Colectividades

Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Colo de Pito.

Ligações externas

Site sobre Colo de Pito, de Manuel Dória Vilar

Artigos relacionados com Colo de Pito

Colo de Pito» in http://terrasdeportugal.wikidot.com/colo-de-pito
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Quando passava por esta Aldeia, na nacional n.º 2 em miúdo acompanhando o meu Pai, ficava fascinado com este Planalto, que para mim, era algo mágico... porque, nós somos marcados pelo meio físico e social, jamais esquecerei esta Aldeia! Além disso, a malandrice infantil de perguntar aos meus Pais se "Colo do Pito" era o nome verdadeiro da localidade, arrastava-nos para explicações do arco da velha! Viva Colo do Pito, viva Portugal!


Colo do Pito from Jose Miranda on Vimeo.


(Colo do Pito)


(Capela N. Sra Saúde, Colo do Pito)