Mostrar mensagens com a etiqueta Arte Poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Arte Poesia. Mostrar todas as mensagens

30/12/23

Arte Poesia - Pascoaes descreveu, em tempos, António Nobre como “um dos maiores poetas que a mulher e a terra portuguesa têm dado à luz do dia".




«ANTÓNIO NOBRE – “PENAFIEL, CIDADE DE REPOUSO DE ANTO” 
30/01/2023


Que pitoresca era a jornada!


Logo, ao subir da madrugada,


Prontos os dois para partir:


-Adeus! adeus! é curta a ausência,


Adeus! — rodava a diligência


Com campainhas a tinir!


(…)


E, na subida de Novelas,


O rubro e gordo Cabanelas


Dava-me as guias para a mão:


Isso … queriam os cavalos!


Que eu não podia chicoteá-los…


Era uma dor de coração.


Depois, cansados da viagem,


Repoisávamos na estalagem


(Que era em Casais, mesmo ao dobrar…)


Vinha a Sr. a Ana das Dores


«Que hão-de querer os meus Senhores?


Há pão e carne para assar…»


Oh! ingénuas mesas, honradas!


Toalhas brancas, marmeladas,


Vinho virgem no copo a rir…


O cuco da sala, cantando…


(Mas o Cabanelas, entrando,


Vendo a hora: «É preciso partir».)


(António Nobre, Viagens na minha terra In Só, 1966, p.73-76)


«Ao contemplarmos o rosto de António Nobre em fotografias avistamos um personagem com uma postura romântica, elegante, mas ao mesmo tempo misteriosa, com uma tez luminosa e uns olhos arredondados que transparecem alguma divagação e tristeza.

Parte da sua personalidade terá sido moldada pelos ambientes rurais de Borba de Godim e Recesinhos, terras Natal do seu pai e da sua mãe respetivamente.

Fonte: Espólio António Nobre.

Biblioteca Pública Municipal do Porto.

A Recesinhos retomava com alguma frequência para visitar a sua avó materna e para buscar inspiração para a sua escrita. A viagem até esta região implicava maioritariamente a passagem por Penafiel, onde por diversas ocasiões apeou na estação de comboio de Novelas e seguiu caminho a cavalo até às terras da sua infância. Este percurso é relatado no poema de introdução do presente artigo, um diário de bordo poético que descreve paisagens, estados de espírito, personagens locais, aromas, sabores e sentimentos vividos por Nobre aquando destas visitas.

Penafiel terá sido uma cidade de passagem, mas ao mesmo tempo de alguma permanência. Por esta terra instalou-se por diversas temporadas na Estalagem das Irmãs Andrade (atual casa Bolinhos de Amor), em Casais Novos[1].

Um espaço que frequentou com mais assiduidade depois dos primeiros sintomas de tuberculose (1892)[2] e que o recebeu nos últimos dias de vida.

A 18 de março de 1941, a cidade de Penafiel prestou-lhe homenagem, através da inauguração de um busto localizado no Jardim do Calvário. Um acontecimento que contou com a presença de alguns familiares do poeta, com a declamação de poemas e com figuras solenes como o poeta amarantino Teixeira de Pascoaes.

Pascoaes descreveu, em tempos, António Nobre como “um dos maiores poetas que a mulher e a terra portuguesa têm dado à luz do dia. (…) Ele não alcançou o pleno Espírito e desprezou sempre a Matéria.

Daí o seu campo de ação emotiva limitado ao sítio em que os corpos principiam a descondensar-se em almas. Ele não viu a Nuvem nem a Onda, mas a passagem desta para aquela.

A sua obra poética marca realmente um período de transição.”» (Teixeira de Pascoaes, 1988, p. 29) in https://www.staytotalk.pt/2023/01/30/antonio-nobre-penafiel-cidade-de-repouso-de-anto/


#artepoesia    #arteliteratura    #antónionobre    #penafiel    #recesinhos

#casaisnovos    #bolinhosdeamor    #teixeiradepascoaes    #matosinhos

24/12/23

Arte Poesia - "Chove. É dia de Natal" - Poesia de Fernando Pessoa.



"Chove. É Dia de Natal


Chove. É dia de Natal.

Lá para o Norte é melhor:

Há a neve que faz mal,

E o frio que ainda é pior.


E toda a gente é contente

Porque é dia de o ficar.

Chove no Natal presente.

Antes isso que nevar.


Pois apesar de ser esse

O Natal da convenção,

Quando o corpo me arrefece

Tenho o frio e Natal não.


Deixo sentir a quem quadra

E o Natal a quem o fez,

Pois se escrevo ainda outra quadra

Fico gelado dos pés."


Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'


"Chove, é dia de Natal" - (Poesia de Fernando Pessoa)


14/09/23

Arte Poesia - Natália Correia nos cem anos da sua morte, foi a maior Poetisa que conheci em vida, toda o seu viver foi fundado na Poesia...



«A defesa do poeta

Senhores juízes sou um poeta

um multipétalo uivo um defeito

e ando com uma camisa de vento

ao contrário do esqueleto.


Sou um vestíbulo do impossível um lápis

de armazenado espanto e por fim

com a paciência dos versos

espero viver dentro de mim.


Sou em código o azul de todos

(curtido couro de cicatrizes)

uma avaria cantante

na maquineta dos felizes.


Senhores banqueiros sois a cidade

o vosso enfarte serei

não há cidade sem o parque

do sono que vos roubei.


Senhores professores que pusestes

a prémio minha rara edição

de raptar-me em crianças que salvo

do incêndio da vossa lição.


Senhores tiranos que do baralho

de em pó volverdes sois os reis

dou um poeta jogo-me aos dados

ganho as paisagens que não vereis.


Senhores heróis até aos dentes

puro exercício de ninguém

minha cobardia é esperar-vos

umas estrofes mais além.


Senhores três quatro cinco e sete

que medo vos pôs em ordem?

que pavor fechou o leque

da vossa diferença enquanto homem?


Senhores juízes que não molhais

a pena na tinta da natureza

não apedrejeis meu pássaro

sem que ele cante minha defesa.


Sou um instantâneo das coisas

apanhadas em delito de paixão

a raiz quadrada da flor

que espalmais em apertos de mão.


Sou uma impudência a mesa posta

de um verso onde o possa escrever.

Ó subalimentados do sonho!

A poesia é para comer.


- Natália Correia, em "Poesia completa - Natália Correia". Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999.


Natália Correia - "Defesa do Poeta"


19/08/23

Amarante Literatura - Ilídio sardoeira - um poeta amarantino com muito interesse e grande sensibilidade - foi um amigo certo e um grande e entusiasta admirador da obra de Teixeira de Pascoaes.

 


«Ilídio sardoeira - um poeta amarantino com muito interesse e grande sensibilidade - foi um amigo certo e um grande e entusiasta admirador da obra de Pascoaes. Sempre que podia, frequentava a Casa de Pascoaes. Com ele vinha também o Manuel Amaral, o Teixeira de Queiroz, o Fernando Lanha e outros.

Ilídio Sardoeira tem vários ensaios sobre a figura e a obra de Teixeira de Pascoaes.

No livro «Pascoaes - Um Poeta de Sempre», escreveu acerca do Poeta e do seu intenso labor:

«Acende a vela e escreve; apaga a vela e dormita; volta a escrever para adormecer de novo. E isto repete-se em certas noites, mais de trinta vezes consecutivas.

«Concepção e realização não são dois actos indistintos. Não concebe para realizar: concebe criando e amassando as suas ideias com a argila plástica do seu estilo de mago. Por múltiplos caminhos, convergem na ponta do seu lápis as ideias mais surpreendentes e desconcertantes. O salto abrupto do que é pensado para o que é sentido e vice-versa, como se pensar e sentir fossem dois aspectos complementares da mesma unidade, é uma das invariantes do seu estilo e, sem dúvida, o traço mais original da sua personalidade.

«Um raciocínio que começa a esboçar-se é, subitamente, interrompido e prolongado por uma fuga emocional que mudou o curso dos acontecimentos da mundo pascoalino.

«Do mesmo modo, uma expansão conflituosa da sensibilidade termina por um pensamento preciso e concreto.

«E, se esta tendência é já notória no poeta, o prosador não fará senão cultivá-la e discipliná-la como o melhor instrumento da sua expressão literária e sua visão do mundo.» in fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.


#arte    #literatura    #amarante    #gatão    #canadelo

#teixeiradepascoaes    #ilídiosardoeira

21/03/23

Arte Poesia - Teixeira de Pascoaes: “Sem Poesia não há Humanidade”, no dia Mundial da Poesia!



«Encantamento


Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar

A tua doce e angélica Figura,

Esquecido, embebido num luar,

Num enlevo perfeito e graça pura!


E à força de sorrir, de me encantar,

Diante de ti, mimosa Criatura,

Suavemente sentia-me apagar…

E eu era sombra apenas e ternura.


Que inocência! que aurora! que alegria!

Tua figura de Anjo radiava!

Sob os teus pés a terra florescia,


E até meu próprio espirito cantava!

Nessas horas divinas, quem diria

A sorte que já Deus te destinava!»


Teixeira de Pascoaes in Elegias (1912)


“Sem Poesia não há Humanidade. É ela a mais profunda e a mais etérea manifestação da nossa alma. A intuição poética ou orfaica antecede, como fonte original, o conhecimento euclidiano ou científico. E nos dá o sentido mais perfeito e harmónico da vida. Aperfeiçoando o ser humano, afasta-o do antropóide e aproxima-o dos antropos. Que a mocidade actual, obcecada pela bola e pelo cinema, reduzida quase a uma fotografia peculiar e uma espécie de máquina de fazer pontapés, despreza o seu aperfeiçoamento moral; e, com o seu fato de macaco, prefere regressar à Selva a regressar ao Paraíso. E assim, igualando-se aos bichos, mente ao seu destino, que é ser o coração e a consciência do Universo: o sagrado coração e o santo espírito. Eis o destino do homem, desde que se tornou consciente. E tornou-se consciente, porque tal acontecimento estava contido nas possibilidades da Natureza. Sim, a nossa consciência é a própria Natureza numa autocontemplação maravilhosa. Ou é o próprio Criador numa visão da sua obra, através do homem. E, vendo-a, desejou corrigi-la, transfigurando-se em Redentor.”


Teixeira de Pascoaes, in “A Saudade e o Saudosismo – Dispersos e Opúsculos (1998)

https://comunidadeculturaearte.com/teixeira-de-pascoaes-sem-poesia-nao-ha-humanidade/

#amarante    #gatão    #teixeiradepascoaes    #poesia    #encantamento

08/03/23

Efemeridades - Vinicius Moraes, nessa difícil tarefa Poética de definir: "Mulher", no seu dia internacional.



"A Mulher que Passa


Meu Deus, eu quero a mulher que passa.

Seu dorso frio é um campo de lírios

Tem sete cores nos seus cabelos

Sete esperanças na boca fresca!


Oh! Como és linda, mulher que passas

que me sacias e suplicias

Dentro das noites, dentro dos dias!


Teus sentimentos são poesia

Teus sofrimentos, melancolia.

Teus pêlos leves são relva boa

Fresca e macia.

Teus belos braços são cisnes mansos

Longe das vozes da ventania.


Meu Deus, eu quero a mulher que passa!


Como te adoro, mulher que passas

Que vens e passas, que me sacias

Dentro das noites, dentro dos dias!


Porque me faltas, se te procuro?

Por que me odeias quando te juro

Que te perdia se me encontravas

E me encontrava se te perdias?


Por que não voltas, mulher que passa?

Por que não enches a minha vida?

Por que não voltas, mulher querida

Sempre perdida, nunca encontrada?

Por que não voltas à minha vida

Para o que sofro não ser desgraça?


Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Eu quero-a agora, sem mais demora

A minha amada mulher que passa!


No santo nome do teu martírio

Do teu martírio que nunca cessa

Meu Deus, eu quero, quero depressa

A minha amada mulher que passa!


Que fica e passa, que pacifica

Que é tanto pura como devassa

Que bóia leve como a cortiça

E tem raízes como a fumaça."


Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'


"Onde Anda Você" - ( Vinicius de Moraes & Toquinho )


"Onde Anda Você
Canção de Toquinho e Vinicius de Moraes

LetrasVídeosOuvir
E por falar em saudade
Onde anda você?
Onde anda os seus olhos
Que a gente não vê
Onde anda esse corpo?
Que me deixou morto
De tanto prazer
E por falar em beleza
Onde anda a canção?
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
Onde a gente ficava
Onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia
Sem razão de ser
Da rotina dos bares
Que apesar dos pesares
Me trazem você
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia
Me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você?
Hoje eu saio Na noite vazia
Numa boemia Sem razão de ser
Da rotina dos bares
Que apesar dos pesares
Me trazem você
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia
Me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você?"



24/01/23

Arte Poesia - O Poeta Eugénio de Andrade interpela-nos com Poesia: "Poema à Mãe".



«Poema à Mãe


No mais fundo de ti,

eu sei que traí, mãe


Tudo porque já não sou

o retrato adormecido

no fundo dos teus olhos.


Tudo porque tu ignoras

que há leitos onde o frio não se demora

e noites rumorosas de águas matinais.


Por isso, às vezes, as palavras que te digo

são duras, mãe,

e o nosso amor é infeliz.


Tudo porque perdi as rosas brancas

que apertava junto ao coração

no retrato da moldura.


Se soubesses como ainda amo as rosas,

talvez não enchesses as horas de pesadelos.


Mas tu esqueceste muita coisa;

esqueceste que as minhas pernas cresceram,

que todo o meu corpo cresceu,

e até o meu coração

ficou enorme, mãe!


Olha — queres ouvir-me? —

às vezes ainda sou o menino

que adormeceu nos teus olhos;


ainda aperto contra o coração

rosas tão brancas

como as que tens na moldura;


ainda oiço a tua voz:

          Era uma vez uma princesa

          no meio de um laranjal...


Mas — tu sabes — a noite é enorme,

e todo o meu corpo cresceu.

Eu saí da moldura,

dei às aves os meus olhos a beber,


Não me esqueci de nada, mãe.

Guardo a tua voz dentro de mim.

E deixo-te as rosas.


Boa noite. Eu vou com as aves.»


Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"


Eugénio de Andrade | Nuno Miguel Henriques | "poema à mãe"


19/01/23

Amarante Literatura - No dia do centenário de nascimento do Poeta, Eugénio de Andrade, uma fotografia com o mestre, Teixeira de Pascoaes.

(Engénio de Andrade e o mestre Teixeira de Pascoaes)


"adeus, Eugénio de Andrade


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou
não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.

Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor…,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza de que todas as coisas
estremeciam só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus."

Eugénio de Andrade


Amanda Mirasci | Adeus | Eugênio de Andrade


10/12/19

Arte Poesia - Mais uma magnífico Poema de Cidália Pinto, incluído em "Sob a asa de um corvo".




"Uma caverna sem porta
que chamas de casa.
Uma perna sem estrada
que chamo de asa.
Um amor sem tempo
que não sei como se chama."

Em "Sob a asa de um corvo" (R)

© Cidália Pinto

05/12/19

Arte Poesia - A Poetisa do Marco de Canavezes, Cidália Pinto, interpela-nos com o Poema: "Eterno Jardim".


“Campo de Trigos com Corvos”, de Vincent van Gogh. 1890

"Eterno jardim

Um molho de eternidades 
sobre o peito,
ou um sol, que não se 
põe, dentro das tuas 
mãos.
Para que o meu pouso,
tenha jardim.
Para que o jardim nos 
tenha
ininterruptamente"

© Cidália Pinto

24/03/15

Arte Poesia - A Minha Colega e Amiga, Professora Anabela Borges, interpela-nos com o Poema: "Entardecer".


Fotografia aurelio MONGE
http://www.flickr.com/photos/mariesol/4498042556/in/faves-mgartstudio/


"Entardecer

Quietudes crepusculares são auguros, 
céus que se esvaem em fogo 
sobre serras serenas, 
tintas escarlate e ouro 
derramando-se sobre os telhados, 
enquanto as árvores aclamam os espantos dos dedos 
no último cântico do dia 
e os pássaros recolhem dos afazeres 
diários."

Anabela Borges

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=511455902282122&set=a.186361621458220.43721.100002531506939&type=1&theater


18/03/15

Arte Poesia - O Meu Amigo e Colega, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Foz"




"FOZ

Não importa quanto de profundo
Um rio seja,
Porque lá no fundo,
O que vale é que à tona se reveja,
Em tudo o que sempre quis .
Aquele que se demora
A ser feliz,
É porque em vez de correr, ignora,
Ou é omisso,
Não sabe dizer a sua foz,
Apenas isso.
Quanto fica de nós
Por velejar,
À proa.
Ou por não sabermos navegar,
Ou a corrente não é boa,
Até ao mar."

Eugénio Mourão



06/02/15

Arte Poesia - A Minha Amiga e Colega, Professora Anabela Borges, de Amarante, Telões, interpela-nos com o Poema: "Inquietude".




"Inquietude

É no ser e no não ser
que me não sei saber.

Voos inquietos 
à alma-manhã
pouco treinada a sapiências
e mais vocacionada
a vertigens, 
vazios, 
quedas a pique, 
abismos, 
insolências
que não me 
as 
sei controlar."

Anabela Borges, Poetisa


25/11/14

Arte Poesia - O Meu Amigo e Colega, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Corre, árvore..."




"Corre, árvore...

Corre, árvore…
Vai dizer ao mundo a tua sorte,
A dor à noite de um monte,
E à terra presa o teu cansaço.

Corre, árvore…
Tomba ao sabor do vento norte,
E ao sol que deixa o horizonte,
A dança dos teus ramos em abraço.

Corre, árvore…
Atrás das folhas da saudade,
Que foram a sombra no caminho,
Dos homens de campo dolorido.

Corre, árvore…
Voltaram as flores da tua idade,
E à primavera de um ninho,
O desejo de um fruto proibido.

Corre, árvore...
És mulher."

Eugénio Mourão.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=627869197293949&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=1&theater


21/11/14

Poesia - O Meu Amigo e Poeta, Manuel Ângelo Ochôa, interpela-nos com o Poema: ‘Devolvo-te os dias que me deste’.



"‘Devolvo-te os dias que me deste’

Iguais, inteirinhos, tais quais por mim passaram.
Aqui os tens, vem cá buscá-los.
São teus.
Porque meus foram, inteiros e completos.
Devolvo-te os dias que me deste."

(20/11/2914, Setúbal, Praceta, Manuel Ângelo Ochôa)




Manuel Ângelo Ochôa - "Devolvo-te os dias que me deste"

30/08/14

Arte Poesia - O Meu Amigo e Poeta, Ângelo Ôchoa, interpela-nos com o Poema: "O Equívoco".




"O Equívoco:

Vemos Camus; ceamos num recanto do teatro.
Seguimos atentos o depoimento filmado em vida do autor
reclamando-nos a portugueses e espanhóis
descendentes d’incertos carniceiros, e etc., etc.,
e da importância do por demais debatido bife bovino.
Nem reparamos que o figurão usa bigode.
Rimo-nos muito, quando se supõe não ter graça.
Não entendemos patavina quanto ali acontece.
Desliza o palco até à rua, e continuamos a peça.
Fazemos que nos cumprimentamos, e não dizemos nada."

Ângelo Ochôa, Poeta



Ângelo Ochôa - "O Equívoco"


13/06/14

Arte Poesia - O Meu Amigo e Colega, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Amar".

<


"AMAR

Podias ter sido minha,
Mas não te quis magoar.
Definha,
Quem ama
Antes de amar.
Quantas me deito,
Sem a paixão
Que trago ao peito!
A razão
Do amor,
São mil voltas numa cama
Em dor.
Podias ter sido minha,
Mas não quis, por te amar!"

Eugénio Mourão.


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=685772624836939&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=1&theater


04/06/14

Arte Poesia - O Meu Amigo e Poeta, Manuel Ângelo Ochôa, interpela-nos com o Poema: "De como não estou só".



"De como não estou só

Tantas vezes O esqueço, mas Jesus é a meu lado. Se a noite me 
confunde, Ele é minha
alegria. Tantas vezes o meu peso prevalece sobre a graça. Mas 
Jesus está comigo,
alegria verdadeira. Tantas vezes O 
esqueço, nas horas de cada dia. 
Tantas vezes O
aborreço, nas mágoas que mundo dá. Mas Ele é a minha vida, 
da mais completa 
alegria. Se Jesus é a meu lado, para a frente é o caminho."

Ângelo Ochôa, Poeta


Manuel Ângelo Ochôa, "De como não estou só"

12/05/14

Arte Poesia - O Meu Amigo e Poeta, Manuel Ângelo Ochôa, interpela-nos com o Poemeto: "Na Luz".



"Na Luz

Na luz nado águas do meu nada;
da hora a aura envolve-me alma;
soo versos assim-assim diversos,
graça a que nem meço início imenso."

Manuel Ângelo Ângelo Ochôa, Poeta



Manuel Ângelo Ângelo Ochôa - "Na Luz"

04/05/14

Arte Poesia - No dia da Mãe, um Magnífico Poema de Eugénio de Andrade: "Poema à Mãe".

 


"Poema à Mãe

No mais fundo de ti, 
eu sei que traí, mãe 

Tudo porque já não sou 
o retrato adormecido 
no fundo dos teus olhos. 

Tudo porque tu ignoras 
que há leitos onde o frio não se demora 
e noites rumorosas de águas matinais. 

Por isso, às vezes, as palavras que te digo 
são duras, mãe, 
e o nosso amor é infeliz. 

Tudo porque perdi as rosas brancas 
que apertava junto ao coração 
no retrato da moldura. 

Se soubesses como ainda amo as rosas, 
talvez não enchesses as horas de pesadelos. 

Mas tu esqueceste muita coisa; 
esqueceste que as minhas pernas cresceram, 
que todo o meu corpo cresceu, 
e até o meu coração 
ficou enorme, mãe! 

Olha — queres ouvir-me? — 
às vezes ainda sou o menino 
que adormeceu nos teus olhos; 

ainda aperto contra o coração 
rosas tão brancas 
como as que tens na moldura; 

ainda oiço a tua voz: 
          Era uma vez uma princesa 
          no meio de um laranjal... 

Mas — tu sabes — a noite é enorme, 
e todo o meu corpo cresceu. 
Eu saí da moldura, 
dei às aves os meus olhos a beber, 

Não me esqueci de nada, mãe. 
Guardo a tua voz dentro de mim. 
E deixo-te as rosas. 

Boa noite. Eu vou com as aves." 

Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"



Poema à Mãe - "Eugénio de Andrade"