O café teve um percurso notável ao longo da história, tornando-se uma das substâncias psicoativas mais consumidas globalmente.
Desde tempos remotos, o café tem sido apreciado por diversas culturas, e, segundo dois investigadores, a sua expansão e a massificação do seu consumo influenciou até mesmo ideias que moldaram o mundo moderno — como o iluminismo e o capitalismo.
A história do café remonta à região da Etiópia, onde, reza a lenda, um pastor observou que os seus rebanhos ficavam mais animados depois de consumirem frutos de cafeeiro — arbusto que pode atingir, no estado selvagem, 8 a 10 metros de altura.
Esta descoberta terá levado os habitantes da região a experimentar também ingerir os grãos macerados e, mais tarde, a preparar o café como bebida. Além disso, partes da planta começaram a ser usados com fins medicinais.
Os primeiros registos escritos destes costumes datam do século VI, no Iémene, onde os árabes aprimoraram as técnicas de plantio e preparação do café, dando-lhe o nome de “Kahwah” ou “Cahue” — que significa “força” em árabe.
A expansão do hábito de beber café aconteceu ao longo dos séculos seguintes, começando por conquistar a Europa e o Oriente Médio. A Turquia foi o berço das primeiras cafetarias, que se tornaram locais de socialização frequentados por poetas, filósofos, escritores e intelectuais.
Segundo um ensaio do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas publicado em 2002 pela Universidade de Oxford, estes locais de socialização à volta de uma chávena de café tornaram-se “centros de pensamento crítico“, onde a opinião pública florescia.
Michael Pollan, autor e professor na Universidade de Harvard, defende por seu turno que o consumo de café serviu de catalisador para novas ideias, incluindo o movimento iluminista.
Pollan argumenta que a cafeína contribuiu para o pensamento focado e linear necessário para o desenvolvimento do iluminismo, que enfatizava o uso da razão para abordar os desafios da sociedade.
Antes da chegada do café à Europa, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas prevalecia, afetando negativamente a capacidade de raciocínio e energia das pessoas. No entanto, com a popularização do café, sustenta Pollan, as cafetarias literárias e científicas surgiram, promovendo debates e ideias inovadoras.
O antropólogo Ted Fischer, investigador da Universidade Vanderbilt, vai mais longe: acredita que o café desempenhou um papel significativo no curso da história, influenciando tanto o iluminismo como o capitalismo.
Em entrevista à BBC, Fischer defende que o aumento da procura de café teve grande impacto económico e social na história de países como o Brasil, Guatemala e Colômbia, tendo induzido a abolição da escravatura e estimulado o crescimento da produção cafeeira.
O café é assunto frequente de estudos científicos e de notícias acerca dos seus efeitos positivos (ou negativos) para a saúde, e até sobre a melhor forma de tirar o café perfeito ou a melhor altura para o consumir.
Menos conhecidos são os efeitos sociais e económicos que a bebida, uma das mais consumidas no mundo, teve na história da humanidade — acerca dos quais se deve refletir, naturalmente, com uma chávena de café na mão.
ZAP //» in https://zap.aeiou.pt/o-cafe-mudou-o-curso-da-historia-548213
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