(Desfile na Rua 31 de Janeiro)
«(...) Vejamos então, ainda que brevemente, a organização e o conteúdo das secções principais da exposição:
Entrado na exposição pela entrada principal, o visitante deparava com uma estátua de S. Pedro, no meio da sala, lançando as redes ao mar, numa alegoria à sua condição original de pescador, transformada depois em "pescador de almas"[35]. À volta da sala alminhas, andores e altares representavam a Fé popular. A sala à direita estava dedicada à arte religiosa e era a sala mais rica da exposição. O ouro brilhava de forma portentosa e o visitante deslumbrava-se perante tamanha riqueza e tamanho esplendor[36]. Desta sala podia-se passar a uma outra dedicada à arte da fotografia relacionada com actividades de pesca; daqui se acedia à área reservada à exposição relativa aos serviços sociais da Legião Portuguesa. Esta parte da exposição tinha um cunho propagandístico notório, deliberadamente insistindo nos benefícios que o Estado Novo havia trazido às comunidades piscatórias. Este tom ideologicamente enfático prolongava-se na sala seguinte, dedicada às actividades e organização corporativas, especialmente àquelas dedicadas às comunidades piscatórias. Não sendo possível a passagem directamente desta secção para o corpo principal do edifício, o visitante teria que retornar à sala de entrada de onde poderia, então, entrar na sala principal, dedicada ao Mar e à Costa. Aqui toda uma vasta gama de actividades relacionadas com o atlântico estava em exposição: mapas, fotografias aéreas e terrestres, plantas de portos, peixes embalsamados representando as espécies mais comuns e as mais raras, modelos de barcos, miniaturas de actividades costeiras[37]. O conjunto pretendia retratar as actividades económicas do litoral nortenho do país. Uma porta à direita dava acesso a uma outra sala dedicada às gentes da região e onde se apresentavam os trajes tradicionais, objectos etnográficos de uso quotidiano, plantas de casas de arquitectura tradicional e miniaturas de cenas da faina marítima. Pretendia-se assim dar ao visitante uma ideia geral acerca da vida dos habitantes do litoral.
Na ala esquerda do Palácio estava instalada a secção do Comércio e Indústria e, ao fundo, a sala dedicada à pesca desportiva. Numa sala a que se tinha acesso a partir da sala de entrada estavam representados os desportos náuticos.
Esta exposição, tanto pela responsabilidade da sua organização quanto pelos conteúdos expostos, funcionava como uma tentativa de prova da obra que o Estado Novo tinha já levado a cabo no que respeitava às comunidades piscatórias do Norte do país. Os temas mais enfatizados eram as casas condignas, os acessos, os portos seguros e modernos e a industrialização das conservas que permitia escoar uma quantidade significativa de pescado e incrementar a actividade pesqueira. Estamos, pois, e uma vez mais, perante uma exposição que, não sendo declaradamente uma exposição de carácter político ou ideológico, pela carga propagandística que continha, se tornou num momento de auto-elogio do regime.
A mesma forma de apresentar foi empregue na exposição Exposição de Obras Públicas - comemorações de 15 anos (1932-1947), realizada em Lisboa em 1948. Uma vez mais o regime se apresentava como o redentor do país: havia obra feita, e não apenas em plano, para que todos pudessem apreciar e concluir (e não se poderia concluir outra coisa...) que o Estado Novo fora, e continuava a ser, a salvação de Portugal. As áreas principais onde o Estado Novo apresentava obra eram os transportes (estradas, pontes, caminhos de ferro, portos marítimos) e os edifícios públicos (tanto a recuperação de monumentos nacionais, como a construção de novos edifícios destinados a serviços públicos). As obras públicas eram, de facto, a "jóia da coroa" do regime: comparando o progresso neste sector com os anos do final da Monarquia e da Primeira República não podiam restar dúvidas de que o Estado Novo tinha mudado o país e para melhor. Esta constatação era, naturalmente, explorada política e ideologicamente com fins de propaganda.
Outro sector a que o Estado Novo veio a dar uma importância crescente foi ao sector industrial. O país era um país rural, o seu chefe era inegavelmente um homem de raízes rurais. Mas o país necessitava de industrialização se pretendia manter a independência económica, tão querida ao discurso de Salazar. Mais, era necessário mostrar à Nação que também neste sector o Estado Novo estava activo. Por este facto, em 1957, foi organizada uma exposição intitulada "Conheça a sua terra como país industrial". Nesta exposição foram apresentadas inúmeras fotografias de indústrias criadas ou desenvolvidas sob o Estado Novo de Norte a Sul do país. Tais elementos estavam acompanhados de citações de discursos de Salazar relacionados com a importância da indústria na economia nacional, como factor que possibilitava a diminuição da importação e o aumento da exportação. Tal processo era apresentado como muito significativo e positivo para o país. Outro motivo de exposição, interligando os aspectos anteriormente focados, era um conjunto de tabelas e gráficos demonstrativo do processo de industrialização portuguesa dos anos de 1955 e 1956.
Também nesta exposição o regime se apresentava de forma auto-elogiante, pretendendo demonstrar ao visitante que mais ou melhor não poderia ter sido feito e que Portugal estava muito devedor ao Estado Novo por todo o progresso que a exposição tão claramente patenteava. (...)» in http://ceaa.ufp.pt/museus3.htm
«(...) Vejamos então, ainda que brevemente, a organização e o conteúdo das secções principais da exposição:
Entrado na exposição pela entrada principal, o visitante deparava com uma estátua de S. Pedro, no meio da sala, lançando as redes ao mar, numa alegoria à sua condição original de pescador, transformada depois em "pescador de almas"[35]. À volta da sala alminhas, andores e altares representavam a Fé popular. A sala à direita estava dedicada à arte religiosa e era a sala mais rica da exposição. O ouro brilhava de forma portentosa e o visitante deslumbrava-se perante tamanha riqueza e tamanho esplendor[36]. Desta sala podia-se passar a uma outra dedicada à arte da fotografia relacionada com actividades de pesca; daqui se acedia à área reservada à exposição relativa aos serviços sociais da Legião Portuguesa. Esta parte da exposição tinha um cunho propagandístico notório, deliberadamente insistindo nos benefícios que o Estado Novo havia trazido às comunidades piscatórias. Este tom ideologicamente enfático prolongava-se na sala seguinte, dedicada às actividades e organização corporativas, especialmente àquelas dedicadas às comunidades piscatórias. Não sendo possível a passagem directamente desta secção para o corpo principal do edifício, o visitante teria que retornar à sala de entrada de onde poderia, então, entrar na sala principal, dedicada ao Mar e à Costa. Aqui toda uma vasta gama de actividades relacionadas com o atlântico estava em exposição: mapas, fotografias aéreas e terrestres, plantas de portos, peixes embalsamados representando as espécies mais comuns e as mais raras, modelos de barcos, miniaturas de actividades costeiras[37]. O conjunto pretendia retratar as actividades económicas do litoral nortenho do país. Uma porta à direita dava acesso a uma outra sala dedicada às gentes da região e onde se apresentavam os trajes tradicionais, objectos etnográficos de uso quotidiano, plantas de casas de arquitectura tradicional e miniaturas de cenas da faina marítima. Pretendia-se assim dar ao visitante uma ideia geral acerca da vida dos habitantes do litoral.
Na ala esquerda do Palácio estava instalada a secção do Comércio e Indústria e, ao fundo, a sala dedicada à pesca desportiva. Numa sala a que se tinha acesso a partir da sala de entrada estavam representados os desportos náuticos.
Esta exposição, tanto pela responsabilidade da sua organização quanto pelos conteúdos expostos, funcionava como uma tentativa de prova da obra que o Estado Novo tinha já levado a cabo no que respeitava às comunidades piscatórias do Norte do país. Os temas mais enfatizados eram as casas condignas, os acessos, os portos seguros e modernos e a industrialização das conservas que permitia escoar uma quantidade significativa de pescado e incrementar a actividade pesqueira. Estamos, pois, e uma vez mais, perante uma exposição que, não sendo declaradamente uma exposição de carácter político ou ideológico, pela carga propagandística que continha, se tornou num momento de auto-elogio do regime.
A mesma forma de apresentar foi empregue na exposição Exposição de Obras Públicas - comemorações de 15 anos (1932-1947), realizada em Lisboa em 1948. Uma vez mais o regime se apresentava como o redentor do país: havia obra feita, e não apenas em plano, para que todos pudessem apreciar e concluir (e não se poderia concluir outra coisa...) que o Estado Novo fora, e continuava a ser, a salvação de Portugal. As áreas principais onde o Estado Novo apresentava obra eram os transportes (estradas, pontes, caminhos de ferro, portos marítimos) e os edifícios públicos (tanto a recuperação de monumentos nacionais, como a construção de novos edifícios destinados a serviços públicos). As obras públicas eram, de facto, a "jóia da coroa" do regime: comparando o progresso neste sector com os anos do final da Monarquia e da Primeira República não podiam restar dúvidas de que o Estado Novo tinha mudado o país e para melhor. Esta constatação era, naturalmente, explorada política e ideologicamente com fins de propaganda.
Outro sector a que o Estado Novo veio a dar uma importância crescente foi ao sector industrial. O país era um país rural, o seu chefe era inegavelmente um homem de raízes rurais. Mas o país necessitava de industrialização se pretendia manter a independência económica, tão querida ao discurso de Salazar. Mais, era necessário mostrar à Nação que também neste sector o Estado Novo estava activo. Por este facto, em 1957, foi organizada uma exposição intitulada "Conheça a sua terra como país industrial". Nesta exposição foram apresentadas inúmeras fotografias de indústrias criadas ou desenvolvidas sob o Estado Novo de Norte a Sul do país. Tais elementos estavam acompanhados de citações de discursos de Salazar relacionados com a importância da indústria na economia nacional, como factor que possibilitava a diminuição da importação e o aumento da exportação. Tal processo era apresentado como muito significativo e positivo para o país. Outro motivo de exposição, interligando os aspectos anteriormente focados, era um conjunto de tabelas e gráficos demonstrativo do processo de industrialização portuguesa dos anos de 1955 e 1956.
Também nesta exposição o regime se apresentava de forma auto-elogiante, pretendendo demonstrar ao visitante que mais ou melhor não poderia ter sido feito e que Portugal estava muito devedor ao Estado Novo por todo o progresso que a exposição tão claramente patenteava. (...)» in http://ceaa.ufp.pt/museus3.htm