«Então é Natal…
Vivemos uma época em que a hipocrisia atinge níveis superlativos. Já nem a mentira se diz mentira: é a pós-verdade. Mais uma vez vamos ser invadidos por mensagens, de amigos e conhecidos, em maior número dos últimos, pois os primeiros estão em extinção, com promessas de paz e de amizade eternas, quando ao longo do ano, andamos todos de costas voltadas e sem por em prática os nobres sentimentos difundidos em mensagens que, de tão repetidas, começam a ficar banalizadas, não havendo já, sequer, paciência para as ler. Mas que vai ser uma torrente de palavras bonitas, avulsas ou não, com promessas vãs e de falsas esperanças, isso é garantido. Quais concursos de beleza, em que as jovens concorrentes, manifestam que o principal objetivo das suas vidas é curar os doentinhos, acabar com a guerra, fome e com a pobreza, quando, no seu dia a dia, o que importa é a sua vidinha de veludo em que vivem confortavelmente, à conta das suas carinhas e dos seus belos corpinhos, com que a natureza as dotou.
Desde tempos imemoriais, que o Natal foi considerado a Festa da Família, mas, atualmente, disso só restam alguns resquícios. Vivemos agora no Natal, uma autentica Festa Comercial, qual feira das mentiras e da lei das compensações. Os humanos altamente desumanizados, enfiam-se em grandes centros comerciais, e, compram putativas doses de ternura, afeto, carinho e amizade, em forma de bens que ficam rapidamente obsoletos e que fazem parte das modas urbanas, designadamente gadgets tecnológicos, conferindo uma sensação ilusória de satisfação de todas as necessidades humanas.
Não é tudo mau, claro está. Em termos comerciais, espera-se vivamente que as pessoas comprem e consumam em excesso, que desperdicem em comidas que ninguém vai aguentar comer, tal o fartote de iguarias e de doces. Adquiram brinquedos aos chineses que, para a sua produção tratam miseravelmente os seus operários, se não é mesmo de escravatura de que estamos a falar. Encham os centros comerciais, onde parece que a vida se multiplica tal o frenesim de humanos que correm desesperados por resgatarem a essência da vida, em compras de bens que, jamais, poderão responder à insatisfação da essência humana. Que vamos dar ao Pai? …à Mãe? …à Avó? …à Tia? …ao Primo? – perguntam eles desesperados. Qual o bem material que poderá substituir o peso das nossas consciências, enegrecidas pela falta de verdadeiros valores humanos?...
E parece que se vão realizar alguns jantares de solidariedade com grupos de sem-abrigo, onde haverão prendas, até, para os pobres infelizes. Vamos assim comprar também os que nada possuem, alguns por nada quererem e que até consideram que, são mais felizes assim... Vamos todos dizer que vai ser um Natal mais justo, para todos sem exceção, mas o Natal, embora se considere que é sempre que um homem quiser, passa depressa e não dura muito. Esta quadra não pode ser apenas uma redenção das consciências, um conjunto de desígnios e de ideias positivas para a humanidade que, na prática, nunca se tornarão reais ou efetivos.
Apesar do excelente, corajoso e desafiante Ministério do Papa Francisco, existem zonas de guerra, como na Síria, onde se mata de forma indiscriminada, como se a vida humana não tivesse valor intrínseco. Cidades são devastadas, destruídas e as pessoas formam massas de seres migrantes que são tratados como lixo. Pessoas são colocadas em contentores flutuantes que atravessam o mediterrâneo, algumas são despejadas borda fora, ou porque estão mortos, ou muito doentes, ou porque sim. Os que sobrevivem são alojados temporariamente em refúgios humanitários, onde vão vivendo como animais, sempre à espera que alguém os alimente, ou que lhes dê abrigo temporário, pois uma nova pátria e uma nova vida, é difícil. Mas, para eles, também vai ser Natal.
Os peixes e aves marítimas, morrem empanturrados de plásticos que nós continuamos a enviar para o mar em quantidades massivas, assim como lixo e poluição de toda a espécie, que possamos imaginar. O clima mundial aquece de forma irreversível, as geleiras glaciares derretem inapelavelmente e de forma muito mais rápida que, até os cientistas mais pessimistas, podiam supor, levando a que o nível do mar suba rapidamente, para níveis inimagináveis. As catástrofes climáticas ocorrem em escala muito superior, ao que era comum há umas décadas atrás. O homem deixará uma pegada ecológica muito marcada no planeta. No futuro, só seres microscópios poderão viver no caldo químico em que o homem transformou, inexoravelmente, o planeta azul. Na sua ambição desmedida, o homem criou um conforto artificial durante as ultimas décadas de consumo e abuso dos recursos naturais, até ao esgotamento e degradação natural dos mesmos. Principalmente na Europa e América do Norte, os anglo-saxónicos, foi um fartote, com o mundo subdesenvolvido a levar com que a lotação humana do planeta fosse em crescendo até aos sete biliões. Gente a mais, degradação acelerada do ecossistema global, produção de alimentos insuficiente e altamente manipulada pelos caprichos do mercado, só poderá resultar em mais miséria, guerra, fome e epidemias.
Tudo aponta para que estejamos a viver um fim de ciclo qualquer. Os populistas começam a vencer eleições de forma preocupante, pelo mundo inteiro, com destaque para as grandes potencias, em que homens sem preparação académica e humanista, governam autênticos arsenais nucleares que tudo podem reduzir a pó. A morte saiu à rua em forma de ataques terroristas inopinados e cruéis. Em países como a Síria, por exemplo, a morte é uma coisa banal, ao jeito dos tempos da idade média. Os sonhos e quimeras da geração de sessenta, redundaram numa descentralização do homem dos seus valores essenciais. O muito esperado viver para o ser, deu lugar a um desesperado viver para o ter. Penso que já não há esperança em viver o Natal verdadeiro, mas teremos, por certo, um incandescente Natal artificial.
Esta não é, infelizmente, uma crónica pessimista, pois está estribada nos dados que com a realidade nos inunda constantemente, na espuma dos dias que correm. Apesar desta marcada desesperança, Bom Natal para todos, afinal estamos aqui a assistir às exéquias fúnebres da humanidade.» in http://birdmagazine.blogspot.pt/2016/12/entao-e-natal.html
John Lennon - "Happy Christmas"
John Lennon - "Happy Christmas"
"So This Is Christmas
So this is christmas
And what have you done?
Another year over
And a new one just begun
And so this is christmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young
A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear
And so this is christmas
For weak and for strong
For rich and the poor ones
The world is so wrong
And so happy christmas
For black and for white
For yellow and red ones
Let's stop all the fight
A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear
And so this is christmas
And what have we done?
Another year over
And a new one just begun
Ans so this is christmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young
A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear
War is over over
If you want it
War is over
Now"