«É ainda nesse mesmo ano de 1931 que sai a tradução francesa do «Regresso aoParaíso», de Suzanne Jeusse.
Aparece mais uma obra em verso — «O Pobre Tolo» —, elegia satírica, cuja
versão em prosa saíra em 1924.
E assim termina a sua carreira poética. Pascoaes continua a escrever febrilmente.
Escreve, fuma, bebe café que a Maria Amélia ou a Emília lhe trazem de hora
a hora. Chamámos-lhe sempre «As chefas» e sempre as considerámos como pessoas
da família. Bebe café e volta a escrever. Sem descanso. Mas agora abandona a poesia.
Diz que a Poesia é um fenómeno da juventude. Só no fim da vida retomará a lira,
mas com grande hesitação.
XIII
Em 19234, alugámos casa na Av. Presidente Wilson (hoje Av. D. Carlos 1) 111, 3.º.
Tínhamos uma cozinheira muito pitoresca chamada Justina. Quando ia no
carro eléctrico, metia conversa com toda a gente.
Um dia, um senhor perguntou-lhe: «Você é de Trás-os-Montes?» E ela respondeu:
«Serei, serei, meu senhor, porque na minha terra há muitos montes...»
No ano seguinte, alugámos casa na Rua da Vinha, 33, 1.º, no Bairro Alto.
Depois voltámos à York House.
Agora vai surgir a era das grandes biografias. Pascoaes, nesse mesmo ano,
lança a grande revelação — «São Paulo».
Faz o retrato de uma alma enamorada de Deus.
Logo no prefácio, Pascoaes diz que S. Paulo «foi o transviado que se orientou,
orientando os outros, o faminto que transformou em pão a sua fome».
Descreve a lapidação de Santo Estêvão e o remorso que se apoderou de S. Paulo
quando se dirigia para Damasco e uma névoa o surpreendeu e se rasga num enorme
clarão que o derrubou:
«O facho acende-se, em pleno azul do meio-dia! É um clarão maravilhoso, precipitado
das Alturas, e um grito incandescente: Saulo! Saulo! Porque me persegues? O
relâmpago instantâneo bate-lhe na fronte e lança-o por terra, deslumbrado: Quem és,
Senhor? E a voz celeste lhe responde: Sou Jesus, a quem persegues. Duro é para ti
recalcitrar contra o aguilhão. Consumou-se o milagre, o mais surpreendente dos
milagres! A realidade ficou vencida! E eis a alegria da nossa alma!
«Este milagre deu à pessoa de Paulo um resplendor extraordinário. Quem concebeu
idêntica visão? Que outra fronte recebeu, em cheio, uma torrente de luz, a
despenhar-se do céu aberto? Que outros ouvidos foram abalados pela súplica de um
Deus aflito? Que outro homem a quem Deus pedisse misericórdia?
«Esta cena da estrada de Damasco demonstra a inspiração divina do apóstolo, a
força sobrenatural que o animava.
«Os seus companheiros levantam-no e conduzem-no pela mão. Não vê nada, que
o deslumbramento é cegueira. A luz é... meia luz. A vida é entre zero e cem, um
acaso de temperatura...»
«É ainda nesse mesmo ano de 1931 que sai a tradução francesa do «Regresso ao
Paraíso», de Suzanne Jeusse.
Aparece mais uma obra em verso — «O Pobre Tolo» —, elegia satírica, cuja
versão em prosa saíra em 1924.
E assim termina a sua carreira poética. Pascoaes continua a escrever febrilmente.
Escreve, fuma, bebe café que a Maria Amélia ou a Emília lhe trazem de hora
a hora. Chamámos-lhe sempre «As chefas» e sempre as considerámos como pessoas
da família. Bebe café e volta a escrever. Sem descanso. Mas agora abandona a poesia.
Diz que a Poesia é um fenómeno da juventude. Só no fim da vida retomará a lira,
mas com grande hesitação.» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.
Mais sobre o assunto: https://ensina.rtp.pt/artigo/sao-paulo-de-teixeira-de-pascoaes/
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