13.º - António de Queiroz Mascarenhas, filho de Manuel Mendes de Vasconcelos (7.º), foi Capitão de Infantaria na guerra da Aclamação, soldado bem conhecido pelos seus feitos de valor e patriotismo. Dotado duma invulgar energia e vivacidade, conseguia tudo quanto queria «antevendo os sucessos para lhe prevenir os remédios» diz o genealogista, ainda seu parente, que nos guia. Foi Senhor da Capela existente no Convento de S. Gonçalo a qual em seu testamento nomeou em seu sobrinho Manuel Mendes de Vasconcelos filho de seu irmão Ruy Mendes de Vasconcelos, vinculando a ela mais todos os seus bens com a obrigação de dez missas, deixando-lhe ainda o direito de requerer a satisfação de seus serviços. Tendo começado a servir como capitão de Infantaria em Junho de 1640 nomeado pelo Conde de Penaguião, foi em Janeiro de 1642 nomeado Capitão-mór de Valadares por D. Gastão Coutinho, e em 1647 era Capitão Geral do Minho e Capitão de cavalos. Por várias vezes entrou em Castela, tomando parte activa em assaltos a várias praças.
A sua vida, quer na guerra, quer na paz, foi aventurosa, como o demonstram alguns factos que vamos relatar. Contra êle houve uma denúncia ao tribunal do Santo Ofício de Coimbra, como consta no processo de habilitação para Familiar requerido por António de Queiroz Figueiredo, onde a fl. 7 se encontra um documento assinado pelo Promotor do Tribunal de Coimbra, que declara:
«Nos reportorios desta Inq.am se acha declarado Ant.º de Queiroz Mascarenhas, morador na Vila de Amarante, e tem contra sy hua denunciação no Caderno vinte e tres de Promotor a fl. 227, da qual consta haver proferido em presença de algumas pessoas, que tanto se fiava na Santa Inquisição como na Ley de Mafoma, e estas são as formais palavras contheúdas na d.ª denunciação. Coimbra no Secreto de St.º Officio em 29 de Out.º de 1704. O Promotor Joseph de Almeida de Amaral». Arq. Da Torre do Tombo – Hab. St.º Of.º - Maço 46, Del 1036 – Letra A.
Por questões de amores, esteve ameaçado de morte por um cidadão do Porto, Pedro Vaz Cirne, ainda seu parente, que, organizando uma escolta de facínoras, o aguardou em determinado caminho para o assassinar. Ao soarem os tiros contra êle disparados, António de Queiroz Mascarenhas deixa-se cair do cavalo como morto e assim julgando, seus inimigos despejam a carga da última pistola no cavalo, que cai alvejado junto de seu dono.
Não dera resultado a investida; mas Pedro Vaz Cirne não descansa e arma nova cilada. Uma noite, acompanhada duma escolta, desce á vila, abeira-se da Casa dos Morleiros, residência do seu rival à margem do Rio Tâmega, e ordena aos seus lacaios que deitem fogo a umas azenhas ali existentes (actualmente ainda existem), propriedade da Casa dos Morleiros, supondo que António de Queiroz Mascarenhas, ocorrendo ao local do sinistro, pudesse ser alvejado, no escuro da noite, sem serem descobertos. Avisado como era, ordenou aos criados que trancassem as portas e que deixassem arder as azenhas, depois as mandaria reconstruir.
Logrado o novo projecto, não sossega Pedro Vaz Cirne, até conseguir comprar o barbeiro que servia o seu rival, no intuito deste o assassinar na primeira ocasião oportuna. Chegada ela, quando o barbeiro entrou na Casa dos Morleiros para fazer a barba ao Senhor Morgado, encontrou-o tão diferente que alguma coisa denunciava. Uma vez na sala onde costumava barbear-se, António de Queiroz Vasconcelos fecha a porta, mete a chave no bolso e pegando duma faca bem afiada obriga o barbeiro a dela se utilisar para o barbear ao mesmo tempo que o obrigava a fazer a confissão de todo o trama e da intenção com que ia.
Mas deixemos estes factos e narremos outros que demonstram o quanto era estimado na Côrte e qual o seu valimento junto do Rei. Alguns fidalgos moços, por actos censuráveis durante a campanha militar, tinham sido castigados. Empenharam-se os seus pais e parentes junto do Rei para que fossem perdoados, mas nada conseguiram. Sabendo disto, António de Queiroz Mascarenhas, monta a cavalo e põe-se a caminho da Côrte. Todos lhe perguntam onde ia e a razão da da viagem, e êle invariavelmente respondia: buscar o perdão de vossos filhos!
Os velhos fidalgos, apesar da amizade que lhe tinham, descriam da sua missão e riam-se da sua resposta, mas êle se bem o disse, melhor o fez. Dirigiu-se à Côrte, presumindo-se que tivesse prevenido o Secretário de Estado de quem era íntimo amigo, e uma vez lá, entrou no palácio e caiu de joelhos aos pés do rei, pondo-se a chorar. Surpreso, o Rei, pergunta-lhe o que tanto o amofinava e êle respondeu: Senhor, como fiel vassalo de Vossa Majestade me doí o coração de ver que o exército vai perder-se por estar a ser governado pelos pais, tios e parentes dos Fidalgos que Vossa Majestade mandou desnaturalizar, pelo que estavão tão desgostosos que não podia deixar de haver intriga. Que êle, a isso não queria assistir, e o único remédio seria restituir os filhos ao Reino ou cortar as cabeças aos pais. Impressionado com o que ouvia, ao chegar o Secretário de Estado, comunicou-lhe o que acabava de ouvir de António de Queiroz Mascarenhas, com o que este se conformou dizendo haver mais do que razão no que acabava de ser ponderado pelo referido Queiroz e que, o mais acertado, seria Sua Majestade perdoar aos fidalgos. Concorda El-Rei com o alvitre do Secretário de Estado, ordena imediatamente se passe um decreto para se recolherem os moços fidalgos e que Queiroz pessoalmente os levasse.
Ao regressar, todos inquiram pelo perdão e ele declarava nada ter concluído com El-Rei, dando lugar a dirigirem-lhe inúmeras graças, tanto o importunado, que sacando do decreto lho atirou, dizendo: aí o tendes, para que conheçam quem é o Queiroz.
A sua vida familiar não decorre menos agitada. Tendo casado com Francisca de Magalhães, já viúva de Lourenço Rodrigues de Carvalho e filha de Francisco Machado, Senhor da Casa da Castanheira, na Freguesia de Tellões, em Amarante e de sua mulher Isabel de Magalhães; neta paterna de Francisco Machado e de sua mulher Francisca de Sampaio e pela materna neta de Pedro de Magalhães Vilela, Senhor da Casa e Quinta do Reguengo e de sua mulher Catarina Borges, anulou o seu casamento, intentando uma questão com sua mulher, na qual alegava que, sendo parentes, careciam da necessária dispensa e que as licenças obtidas em Braga, eram falsas. O casamento foi anulado, castigado o Padre ramalho que os tinha recebido, e êle ordenou-se, sendo mais tarde Abade de Real. Numa das salas da Casa dos Morleiros e sob invocação do Nosso Senhor, havia um oratório, instituído, com breve Pontifício, por António de Queiroz Mascarenhas, onde dizia missa. Por alguns actos da sua vida aventurosa e por vezes turbulenta, chegou a perder o valimento junto do Rei que o castigou, desnaturalisando-o. Tempos depois, taes foram serviços prestados durante a Campanha de 1704, já velho e Abade de Real, que foi perdoado.
In. – “O Morgadio de Fontelos”, por Artur da Mota Alves» in “Pequena História de Amarante”, compilada por Luís Van Zeller Macedo, Amarante 1989.