«DRAGÃO DE OURO COM SANGUE ASTECA
Trinta anos depois da gala original, lembramos os primeiros vencedores, a origem da estatueta e o percursor Troféu Pinga.
Por Paulo Horta / Museu FC Porto
No dia 4 de setembro de 1985, a edição número seis da “Dragões” chegou às bancas com uma empolgante novidade. Depois de apreciadas várias candidaturas (submetidas a concurso público), o Conselho Cultural do FC Porto decidiu sobre a forma do galardão que se pretendia instituir no clube para distinguir anualmente figuras com méritos alcançados ao serviço do emblema.
A dupla de autores Celestino Machado e José Moreira, que ainda recolheu uma menção honrosa com outra proposta, venceu o concurso com o projeto “Xochipilli”, nome de um deus asteca da fertilidade e da criação, associado a celebrações da primavera, à flora e à música.
Os criadores explicaram o significado da estatueta do Dragão de Ouro: “Figura mitológica, [o dragão] é o símbolo do vigor e da monumentalidade. Assim, marcado pela força, este dragão irrompe da bola de futebol, simbolizando a contínua ascensão do FC Porto. A estatueta, tendo como suporte a bola de futebol, representa a imagem clássica do dragão, com a cabeça de tigre, corpo de serpente e asas de morcego”.
A atribuição do galardão é um dos momentos altos do calendário anual do clube. A primeira cerimónia teve lugar no dia 17 de janeiro de 1986 (na foto) e foram entregues 12 Dragões de Ouro relativos a 1984/85, época de FC Porto campeão nacional de futebol e de hóquei em patins, do ponta-de-lança Fernando Gomes a calçar a segunda Bota de Ouro ou da atleta Aurora Cunha a vencer a Taça do Mundo de Estrada. Um começo inspirador numa gala que decorreu na baixa histórica do Porto, no Hotel Infante Sagres.
Em 2013, a gala decorreu pela primeira vez no Dragão Caixa – foi um regresso a casa, já que, desde a segunda edição (1987, no Pavilhão de Treinos das Antas), a cerimónia foi visitando o Palácio da Bolsa do Porto, o Casino de Espinho, o Casino da Póvoa de Varzim, a Alfândega do Porto e o Coliseu do Porto.
No mesmo ano, o Dragão de Ouro tornou-se também numa extraordinária peça de coleção do Museu FC Porto (Projecto do Ano em 2014), onde se descobre, por exemplo, o Dragão de Honra de 2013 atribuído ao presidente Jorge Nuno Pinto da Costa – a primeira peça doada ao museu, após a inauguração do espaço.
Os primeiros Dragões de Ouro
Atleta do ano: Aurora Cunha (atletismo)
Futebolista do Ano: Fernando Gomes
Atleta de Alta Competição do Ano: Cristiano (hóquei em patins)
Atleta Amador do Ano: Rui Borges (natação)
Atleta Jovem do Ano: Fernanda Ribeiro (atletismo)
Treinador do Ano: Artur Jorge (futebol)
Seccionista do Ano: Antero Rebelo (ténis de mesa)
Dirigente do Ano: Jorge Nuno Pinto da Costa (presidente da Direção)
Funcionário do Ano: Armando Plácido (a título póstumo)
Sócios do Ano: Walter Morais e Espregueira Mendes
Filial do Ano: Varzim Sport Clube
Pinga, a primeira estatueta
A tradição portista de distinguir figuras do clube é quase tão antiga como o próprio FC Porto e foi variando na forma ao longo dos tempos. Diplomas, medalhas e placas fazem parte de uma diversidade na qual cabe também o Troféu Pinga: instituído em 1963 e atribuído a partir de 1964, desapareceu das organizações portistas no começo da década de 1970.
Iniciativa de uma Comissão Pró-Sede do FC Porto, o troféu cumpria uma finalidade semelhante à do Dragão de Ouro e o seu aparecimento foi coincidente com a morte de Artur de Sousa “Pinga”, no ano de 1963. O nome do genial futebolista batizou o galardão, que representa a figura de um homem/desportista em pé e a erguer uma tocha (simbologia olímpica).
Diferentes publicações atribuem a Henrique Moreira (o “Escultor do Porto”, autor, entre outras obras, da popular estátua da “Menina Nua”, que se descobre na Avenida dos Aliados) a conceção deste troféu, entregue pela primeira vez na noite de 7 de Dezembro de 1964, em cerimónia realizada no Pavilhão dos Desportos do Porto (hoje Pavilhão Rosa Mota).
Foram distribuídos 26 Troféus Pinga, além de um exemplar destinado a integrar a coleção do clube, que hoje pode ser admirado no Museu FC Porto. Entre os distinguidos: Hernâni Ferreira da Silva, o “Furacão de Águeda”, que terminava a carreira como futebolista, e um jovem Artur Jorge, eleito futebolista júnior do ano. Um e outro seriam, anos mais tarde, Dragões de Ouro.
Texto publicado na edição de dezembro de 2015 da “Dragões”, a revista oficial do FC Porto que pode subscrever aqui.» in http://www.fcporto.pt/pt/noticias/Pages/dragoes_de_ouro_as_origens_revista_dragoes.aspx