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16/08/20

Brasil - O edital para a contratação de empresa que ficará responsável pelas obras de pavimentação do lote C da BR-319, no estado do Amazonas, foi publicado no Diário Oficial da União em junho deste ano. Segundo o Ministério da Infraestrutura, serão pavimentados os primeiros 52 quilómetros, no trecho que vai do quilómetro 198 ao 250.


«BR-319. A estrada que ameaça uma das áreas mais conservadas da Amazónia

O edital para a contratação de empresa que ficará responsável pelas obras de pavimentação do lote C da BR-319, no estado do Amazonas, foi publicado no Diário Oficial da União em junho deste ano. Segundo o Ministério da Infraestrutura, serão pavimentados os primeiros 52 quilómetros, no trecho que vai do quilómetro 198 ao 250.

A pavimentação da rodovia, que liga os estados do Amazonas e Rondónia, vai facilitar a logística do transporte da produção agrícola da Região Norte. A expectativa é que as obras comecem o quanto antes, informou o ministro Tarcísio Gomes de Freitas.

“Todo o trabalho referente ao licenciamento ambiental da rodovia – estudos, recolha de informação e captura de fauna – será feito pelo Governo Federal nos próximos meses. Com isso, esperamos que a contratação esteja concluída ainda em 2020. E, como compromisso do governo do presidente Jair Bolsonaro, nós vamos licitar essa obra, que representa um marco para o desenvolvimento destes dois estados”, disse, citado pela Agência Brasil.

De acordo com o ministério, a BR-319 é fundamental para o transporte de passageiros e a integração social dos estados do Amazonas e Rondónia. A reconstrução dos 52 quilômetros vai garantir maior segurança e redução no tempo de viagem. Hoje, as alternativas à rodovia são o transporte por barco ou avião.

No entanto, já no início do mês de Agosto, a revista Science traz uma carta assinada por dois cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia (Inpa) a denunciar à comunidade internacional os efeitos prejudiciais da construção de rodovias para os ecossistemas.

“Temos plena compreensão do que esta estrada vai causar nessa área”, diz o biólogo Lucas Ferrante à BBC Brasil. “E os impactos são perturbadores. O carbono emitido devido ao desmatamento e das queimadas tem capacidade para alterar ainda mais o clima global”, acrescentou. Ferrante argumenta que a região é “um dos blocos mais conservados de Floresta”. E a estrada traria acesso para “desmatadores e madeireiros”, “algo muito preocupante numa área que hoje é conservada”.

O biólogo Filipe França, investigador da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e da Rede Amazónia Sustentável, lembra que há diversos estudos anteriores que demonstram os efeitos prejudiciais da construção de rodovias para os ecossistemas cortados por elas. “Se olharmos o histórico da Amazónia, a situação repete-se: sempre depois da estrada, chegam os distúrbios”, aponta. “A facilitação do acesso aumenta a ação de madeireiros, favorece a instalação de população, há a introdução de pastagens, mais desmatamento… E tudo isso resulta em perdas para a biodiversidade.”

De acordo com o biólogo Lucas Ferrante, o principal argumento do governo federal para não realizar novos estudos de impacto é que “como a rodovia já foi pavimentada na década de 1970”, uma nova análise “não seria necessária”. “Só que estes estudos precisam de ser refeitos. A via ficou fechada e sem manutenção. As dinâmicas populacionais e as perturbações ambientais mudaram de escala durante este período”, diz. “Hoje a capacidade de causar desmatamento na área é muito maior, os processos de degradação são maiores”, concluiu.» in https://greensavers.sapo.pt/br-319-a-estrada-que-ameaca-uma-das-areas-mais-conservadas-da-amazonia/