«Solenidade de Nossa Senhora da Vandoma, Padroeira Principal da Cidade do Porto
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Caríssimos diocesanos: Sobre o culto da Santíssima Virgem Maria, o Concílio Vaticano II deixou-nos o seguinte critério geral: “a autêntica devoção não consiste num sentimento estéril e passageiro, nem numa espécie de vã credulidade, mas procede da verdadeira fé, que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, nos incita a um amor filial para com a nossa Mãe e nos estimula à imitação das suas virtudes” (Constituição dogmática Lumen Gentium, nº 67). - Na actual situação da nossa cidade e diocese, que deverão significar estas palavras conciliares? Entre outras coisas, tenhamos em conta o seguinte: Estamos numa situação eclesial exigente, como sempre o será a vida da Igreja, porque o Evangelho está no mundo como fermento na massa, em desproporção criativa. Na nossa diocese, a prática dominical comunitária rondará os 20 %, se bem que a prática individual ou esporádica seja muito maior. É necessário um esforço grande, não só na actividade pastoral corrente, aliás indispensável, mas também naquela “nova evangelização”, nova “no ardor, nos métodos e na expressão”, como a propôs João Paulo II (Haiti, 1983). Olhando à nossa volta, nós os crentes, tanto sentimos o anseio como nos pomos a pergunta: anseio de comunicar a muitos o Evangelho que recebemos, a boa nova da vitória de Cristo sobre a morte, a vida plena que n’Ele nos é oferecida; a pergunta sobre o como fazê-lo, de que modo exprimir tanta esperança. Nisto mesmo somos crentes, transportados por uma fé que se faz vida e convivência nova, quer dizer, Igreja. E estamos perto donde estaria a jovem Virgem de Nazaré, na anunciação que recebeu. Resumia toda a esperança de Israel, ali concentrada num coração juvenil e aberto. Escutou então o que nunca tinha sido ouvido e aceitou que nela o Espírito recriasse o mundo. Dela nasceu Jesus, Filho de Deus humanado, como no-Lo apresenta a bela e veneranda imagem de Nossa Senhora de Vandoma (1). Contemplá-la hoje, neste dia de celebração e acolhimento, levar-nos-á a retomar e cumprir o citado ditame conciliar: uma “verdadeira fé, que nos leve a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, nos incita a um amor filial para com a nossa Mãe, e nos estimula à imitação das suas virtudes”. Porque imitar as suas virtudes é participar principalmente na sua fé disponível. Num mundo que tanto as contradizia, acreditou nas antigas promessas e profecias, dando-lhes realismo e um cumprimento cabal: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco” (Mt 1, 23). Para nós, filhos e devotos de Maria, a nova evangelização começa aqui. Acreditamos também num “Deus connosco”, que, dela nascido, continua a “nascer” na Igreja. É esta a “imitação das suas virtudes”, que o Concílio nos inculca. Fé, esperança e caridade de Maria, feitas nossas para darmos Cristo ao mundo. Diz-nos outro passo do mesmo documento: “Com razão, a Igreja, também na sua actividade apostólica, olha para aquela que gerou Cristo, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem, precisamente para que Ele nasça e cresça também no coração dos fiéis, por meio da Igreja” (Lumen Gentium, nº 65). Católicos portucalenses, neste dia de Nossa Senhora de Vandoma, motivados e disponíveis para a nova evangelização que tanto urge: fixemo-nos na sua imagem, deixando que o mesmo Espírito nos renove nos sentimentos de Maria, os únicos que dão Cristo ao mundo. E só assim, como o Espírito sabe, como Maria coopera, o mesmo mistério do Filho de Deus humanado continuará, criativo e oportuno, pela “actividade apostólica” da Igreja que somos. Uma hora que seja, de oração silenciosa “diante” de Nossa Senhora de Vandoma, ensinar-nos-á mais sobre o que havemos de fazer do que muitas conjecturas que, sem tal atitude, seriam meramente nossas. A “nova evangelização” brota da primeira, a que Maria aceitou e nos ofereceu. Ela e o Espírito nos dirão como será agora. Os “sinais dos tempos” só se lêem em chave mariana. Com a Senhora de Vandoma levaremos Cristo às famílias, com uma solicitude que não dispensará nenhum meio para lhes possibilitar condições de formação e sustento, bem como a educação dos filhos e o acompanhamento dos idosos, sabendo que a comunhão familiar é a primeira e fundamental aprendizagem da vida eterna com Deus uno e trino. Com a Senhora de Vandoma havemos de levar Cristo à escola, ao hospital, à prisão, ao trabalho e à sociedade em geral, pelo testemunho sereno e solidário, que dissipará por si mesmo qualquer laivo secularista que ainda alimente preconceitos serôdios em relação à dimensão religiosa da existência. Com a Senhora de Vandoma conviveremos com todos, naquela disponibilidade de coração em que o Espírito recria as vidas em qualquer momento delas: cristãos, em suma, porque à Páscoa referidos. Por isso a saudamos como “Estrela da nova evangelização”! 11 de Outubro de 2007 + Manuel Clemente, Bispo do Porto 1 - Cf. BRANDÃO, D. Domingos de Pinho – Algumas das mais belas imagens de Nossa Senhora existentes na Diocese do Porto. Diocese do Porto, 1988, p. 18-19: “A lenda e a tradição fazem remontar a Senhora de Vandoma ao século X (armada dos Gascões). A actual imagem é do século XIV. Antes terá havido outra ou outras imagens da mesma invocação. Nossa Senhora de Vandoma é desde Agosto de 1981 a Padroeira principal da cidade do Porto, com solenidade litúrgica no dia 11 de Outubro de cada ano».» in |