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16/01/13

Arte Escrita - A Minha Colega e Amiga, Professora Maria José Barros, interpela-nos com o conto infantil: "A Andorinha das Unhas Vermelhas"



"A Andorinha das Unhas Vermelhas

Certo dia, enquanto arrumava o meu sótão, encontrei um objecto redondo e pequeno, que mais parecia um botão. Meti-o no bolso, pois poder-me-ia fazer jeito nalguma ocasião. 

Continuei a minha tarefa sem pensar mais no assunto. 

Decorrido algum tempo, e já um pouco cansada, sentei-me à janela olhando o horizonte e pensando: “Como é bonita a Natureza! Adoraria voar como um pássaro para me perder no céu!”

Dito isto, apoderou-se de mim uma sensação estranha, era como se estivesse a encolher, parecia que o meu corpo estava a ficar sem peso. Olhei para baixo e bati com a cara no parapeito de janela. Cara é modo de falar, bati foi com o bico. Eu tinha um bico no sítio da minha boca. Por mais incrível que me parecesse, estava transformada num pássaro, qual nem sabia, só via penas pretas e brancas. Bem, abanei-me a rir pois estava convencida que era mais um dos meus sonhos em que me apercebo que estou a sonhar. Estava nestes meus pensamentos quando ouço os meus filhos, que brincavam em frente a casa, dizerem:

- João olha! Está uma andorinha poisada no parapeito da janela do sótão! Parece que está com medo de voar. - disse a pequena Mónica ao irmão.

- Pois parece. Estará doente? – interrogou-se o João.

Doente não estava, mas muito baralhada, ai isso estava sim. Voar? Nem pensar! Eu estava apavorada, como seria possível atirar-me daquela altura? 

Os meus filhos aperceberam-se que eu estava cheia de medo e acharam que subir ao sótão era uma boa ideia. Afinal, veriam a andorinha amedrontada mais de perto. Gostavam muito de animais e, se pudessem, iriam pegar em mim para verem se estaria ferida. 

Tinha que tomar uma decisão depressa. Ou vencer o meu medo de voar ou deixar que subissem ao sótão e darem conta que a mãe deles tinha desaparecido de lá. Se estivesse a sonhar, não faria mal atirar-me da janela, afinal não era a primeira vez que sonhava que estava a voar. Depressa acordaria e ainda me iria rir a valer do meu sonho estapafúrdio. 

Cheia de coragem, atirei-me da janela e, para meu espanto e dos meus filhos, estava a voar!

- Ena! Voei mesmo como uma andorinha! - pensava eu, enquanto mirava a altura, mas ainda a pensar que me ia estatelar no chão. 

-Mónica repara na andorinha! Como voa bem! - dizia o João à irmã.

- É, está a voar, por isso não deve estar magoada. Quem me dera pegar nela –  disse a menina, rindo.

Depois de me certificar que dominava o voo, desci até ao fio do estendal e deixei que o João, que era o mais velho e mais alto, me tocasse. Pegou em mim com todo o cuidado e colocou-me nas mãos da irmã que ficou radiante por ter uma andorinha na mão. A pequenita, de nove anos, não sabia mais que me fazer e eu, aflita, já estava cheia de cócegas. João, apesar dos seus dezasseis anos, parecia uma criança a contemplar aquela ave.

- Esta andorinha tem um olhar estranho e repara como tem as unhas, são vermelhas! – disse o João com ar admirado.

- Parecem as unhas da mamã – disse a Mónica, rindo e de olhar brilhante de excitação.

- Se parecem! - pensei eu. 

Que feliz me sentia! Tinha dado uma alegria aos meus filhos deixando-me tocar, sabendo, como sei, o quanto eles gostam de animais. 

Voei de novo e ouvi a Mónica dizer ao irmão que ia a correr dizer à mãe.

E agora quando ela chegar ao sótão e não me vir? Que vai ser de mim? Irei ficar sempre assim? Quem me dera voltar a ser eu, pensava, enquanto poisava de novo na janela. Nisto a porta do sótão abre e, como que por magia, estava no meu corpo novamente. A menina, toda esbaforida de subir as escadas a correr, contou-me a aventura com a andorinha, ao que eu respondi:

- Que pena eu não ter visto mas estava tão cansada que adormeci aqui sentada à janela.

Como estava alegre a minha pequena enquanto me contava os pormenores.

- Sabes, mãe, a andorinha tinha as unhas vermelhas como tu, parecia que tinham verniz.
Ela contente e eu ainda mal refeita de tudo o que se passara.

Afinal o que tinha acontecido comigo era real ou estivera mesmo a dormir e sonhara? Quem me dera ter a certeza. De repente, senti algo a mexer no meu bolso. Meti a mão e o pequeno objecto que eu tinha encontrado estava ligeiramente quente. Quando o tirei, brilhava tanto que foi difícil esconde-lo da pequena, que descia as escadas ao encontro do irmão. Observei muito bem aquele objecto e fiquei com a certeza que tudo o que acontecera estava relacionado com o objecto misterioso. Seria uma espécie de Lâmpada de Aladino? 

Estava tentada a pedir um desejo mas teria que pensar muito bem em quê. Lembro-me de pensar que queria voar e o meu desejo realizou-se. Agora, e para experimentar, seria uma coisa simples. Desejei um rebuçado. De imediato, o rebuçado apareceu na minha mão.
Em vez de ficar contente, fiquei apavorada. Tinha em meu poder um objecto mágico e não estava preparada para ter tamanho poder nas minhas mãos. 

Poderia realizar o meu sonho desde criança: falar com os animais. Mil coisas passaram pela minha cabeça, desde deitar fora o objecto a guardá-lo e usá-lo de vez em quando. A minha cabeça parecia um carrossel, de tanto pensar. Mas, se fui eu que o encontrei, sou eu que devo ficar com ele! Só não compreendia como teria ele vindo parar ao meu sótão e porque teria sido eu a escolhida para o encontrar. Muitas perguntas às quais ainda hoje não sei responder. 

Mas…sabem uma coisa? É muito engraçado falar com os meus gatos…"

Maria José Barros 

07/09/12

Arte Escrita - Excelente texto de uma Grande pessoa, não por ser só grande em altura, mas também no coração... e na Alma!



«Ser Alta ou Baixa não garante a Grandeza da Alma!

Farta de repetidamente ler publicações sobre as “baixinhas” serem as melhores, e de os rapazes preferirem “baixinhas” pois dessa forma sentem que são posse sua, pois acham que as “baixinhas” são frágeis e precisam de proteção, CHEGA!!!

Não estou a tecer este comentário para ninguém em concreto, mas sim para os rapazes em geral, pois a conclusão a que chego é que são extremamente superficiais, e acima de tudo machistas! 

Quando digo superficiais isto deve-se ao facto de se deslumbrarem com meia dúzia de centímetros a menos, que porra de rapazes são estes que dizem que as mulheres são interesseiras quando lhe perguntam em que curso andam, mas são incapazes de avaliar positivamente uma rapariga que meça mais que um 1.80 metros?

Sinceramente sempre tive a ideia que os mais velhos é que pensavam dessa forma, infelizmente não, os tempos mudaram mas o pensamento continua o mesmo, hoje em dia as mulheres e os homens são mais altos comparativamente há 30 anos atrás e nada mudou os homens podem ter 1.90 metros e continuam a preferir as “baixinhas“, são superficiais pois por mais inteligente que seja e nem que tenha a mais bela das caras, vai ser sempre “a alta”.

Sinceramente quando me batizam de “a alta” nem levo a peito, mas os rapazes são pejorativos por vezes apelidam as mulheres de “girafa”, “Torre Eiffel” e até “elefante” se a rapariga em questão tiver curvas mais acentuada. 

Magoa, pois toda a minha infância lidei com o facto de ser “a girafa” e de na altura não perceber que a razão porque o chamavam, era porque na maior parte são uns machistas, acham-se superiores às raparigas, até no mais básico, a altura. 

Uma rapariga alta intimida, não é encarada por eles como frágil, mas em grande parte das situações como a compincha de brincadeiras, nunca a futura namorada mas apenas a amigalhaça de copos, a miúda porreira que quando não existe mais ninguém queira saber dele seja o ombro amigo, afinal de contas é sempre a que não tem namorado, por mais bonita que seja, a altura não é de todo apelativa, é simplesmente “a girafa”. 

Por último, a questão da proteção, meus caros, seja ela baixa ou alta, magra ou voluptuosa, nenhuma rapariga vai escolher um rapaz por ele ter aspeto de segurança de discoteca, mas sim pelo coração, para proteção compramos um cão e por favor parem de ser assim, é obvio que escrevo este comentário subjetivamente, pois sinto isto na minha pele desde sempre, mas falo em nome de todas aquelas miúdas lindas que tal como eu tem 1.80, 1.81, 1.82,….. 2.00 metros, VOCES SÃO LINDAS

Não se sintam menos mulheres por seres mais altas, aliás se algum rapaz mais baixo que vocês namorar ou casar convosco, não danifiquem esse amor pois é um grande rapaz ultrapassou a barreira física, vê-vos como as grandes mulheres que são!» (Texto de Helena Gonçalves, ex-aluna do Agrupamento de Escolas de Celorico de Basto)

10/08/12

Arte Escrita - Mais do que um romancista, o escritor baiano Jorge Amado, cujo centenário do nascimento se celebra hoje, foi um pensador do Brasil e do povo brasileiro!

Jorge Amado durante o lançamento do seu livro "Tocaia Grande", em Lisboa,  a 27 de junho de 1985.

«O escritor que ajudou a construir a imagem do povo brasileiro

Mais do que um romancista, o escritor baiano Jorge Amado, cujo centenário do nascimento se celebra hoje, foi um pensador do Brasil e do povo brasileiro. Por cá, Viana do Castelo vai atribuir-lhe o nome a uma das alas da biblioteca e a uma nova rua da cidade que ele tanto amava.

"O Brasil sempre foi carente de uma filosofia própria e Jorge Amado criou as principais chaves para entender o Brasil e o seu povo", explicou à LUSA o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Muniz Sodré.

Filho de um fazendeiro de cacau, Jorge Amado conviveu desde cedo com a forte presença africana no estado da Baía, no nordeste brasileiro, cenário que influenciaria todas as suas futuras histórias.

Grande parte dos seus protagonistas são típicos representantes do povo, que revelam tradições e crenças até então pouco conhecidos pela classe média brasileira, em especial o culto afro-brasileiro conhecido como candomblé.

"Jorge Amado dá continuidade, através da literatura, à luta afirmativa de um povo e confere soberania à raça negra no Brasil"

"Os cultos afro-brasileiros como o candomblé surgem no cenário baiano para agrupar os africanos nessa situação difícil da diáspora, do sofrimento da escravidão. É um elemento que conjuga todas as várias etnias africanas [levadas para o Brasil] numa mesma tradição, que usa como estratégia da ‘família de santo', não biológica", explica Sodré.

Com as inúmeras novelas de Jorge Amado - muitas das quais protagonizadas por negros e mulatos - as crenças e tradições dos afrodescendentes foram evidenciadas como um dos paradigmas da criação do povo brasileiro, em contraposição com a cultura europeia, até então ensinada como a principal influência.

O próprio Governo brasileiro, ainda na década de 1920, entendia a mestiçagem como um fenómeno formador da sociedade nacional, mais como forma de "branqueamento" do negro, do que valorização da cultura negra.

Entre as principais caraterísticas desse paradigma afro-brasileiro, evidenciado na obra de Amado, Sodré destaca a importância do "presente" - por oposição ao futuro promissor no paraíso, prometido pela religião católica - de relações interpessoais concretas - fortes laços de amizade, vizinhança e parentesco; e da alegria face ao real.

"Não diria que o candomblé é a religião do amor, como é o catolicismo. É um culto da alegria, que não tem a ver com dar risadas, mas com aceitar o real como ele é", sintetiza Sodré.

Para o professor, toda essa crença está também inequivocamente ligada à política.

"Jorge Amado dá continuidade, através da literatura, à luta afirmativa de um povo e confere soberania à raça negra no Brasil", completa o estudioso.

Membro ativo do Partido Comunista Brasileiro (PCB) até meados da década de 1950, Jorge Amado dizia-se materialista e ateu. Era, no entanto, grande conhecer da religiosidade da população negra na Baía e foi o responsável, enquanto deputado federal, por criar a lei, ainda hoje em vigor, que garante o direito à liberdade de culto em todo o território nacional.

Amado, quase um Vianense

Jorge Amado visitou por onze vezes visitou o concelho de Viana do Castelo, que o inspirou nos seus romances.

"Foram aprovadas as duas propostas e a atribuição do nome de Jorge Amado a uma das alas da biblioteca municipal avança já. Quanto à rua, será uma nova artéria, que ainda vamos escolher, para honrar alguém que foi muito amigo de Viana do Castelo", explicou à agência Lusa o presidente da Câmara.

Segundo José Maria Costa, a atribuição do nome à ala da biblioteca municipal, desenhada pelo arquiteto Siza Vieira, será feita este mês, durante a Romaria d'Agonia, na presença do embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, convidado de honra da festa, na qual será feita uma homenagem a Jorge Amado, falecido a 6 de agosto de 2001, com 89 anos.

O escritor tornou-se num verdadeiro embaixador de Viana do Castelo, tendo mantido uma forte relação de amizade com um mestre pasteleiro da cidade, que regularmente lhe enviava o típico pão-de-ló local.

Jorge Amado fez mesmo de Manuel Natário, falecido em 2003, com 78 anos, uma personagem importante do romance "Tocaia Grande": "Capitão Natário", que descreveu como "capitão de doces e salgados, comandante do pão-de-ló, mestre do bem comer".

A memória das várias passagens do escritor pela pastelaria "Natário", fundada em 1943, ainda hoje está bem viva naquele espaço, com várias fotografias que testemunham a relação com "Manuelzinho" Natário, como era carinhosamente tratado por todos.

A última visita do escritor brasileiro a Viana do Castelo aconteceu em 1991, precisamente quando Manuel Natário foi homenageado pela autarquia.

"Jorge Amado fez questão de vir cá, pela homenagem feita ao grande amigo", recorda ainda a viúva.» in http://noticias.sapo.pt/internacional/artigo/o-escritor-que-ajudou-a-construi_4547.html


(5 Frases de Jorge Amado)


(Os 100 anos de Jorge Amado)


(100 anos de Jorge Amado)

19/11/09

Dia Mundial da Filosofia - Pensamentos de Teixeira de Pascoaes, bem actuais... a crise Portuguesa vem de longe!




«Pensamento/Reflexão
A Mentira é a Base da Civilização Moderna

É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.

Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras. A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensaguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc. ...

E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão paracer-se-à com a fome de luz?...

Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"

Data: 2007/07/29 23:00