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29/03/17

História 1.ª Guerra Mundial - Cartas com quase 100 anos que nunca chegaram ao destino, enviadas por jovens militares portugueses feitos prisioneiros na primeira Guerra Mundial, foram descobertas por uma investigadora e relatam a fome e os maus-tratos a que foram sujeitos.




«I Guerra Mundial: Cartas dos prisioneiros portugueses nunca chegaram ao destino

Cartas com quase 100 anos que nunca chegaram ao destino, enviadas por jovens militares portugueses feitos prisioneiros na primeira Guerra Mundial, foram descobertas por uma investigadora e relatam a fome e os maus-tratos a que foram sujeitos.

Entre 1917 e 1919, mais de sete mil militares do Corpo Expedicionário Português estiveram presos em 81 campos de internamento e de trabalhos forçados na Alemanha, França e Bélgica.

A investigadora Maria José Oliveira encontrou em arquivos cartas censuradas dos expedicionários para as famílias e destas para os combatentes, a maioria tinha entre 25 e 30 anos.

Dezenas dessas cartas estão agora publicadas pela primeira vez na obra “Prisioneiros Portugueses da Primeira Guerra Mundial, Frente Europeia – 1917/1918” (editora Saída de Emergência).

Com este trabalho, a autora pretende “atribuir aos prisioneiros de guerra portugueses a única justiça acessível: a memória”.

A lei da censura prévia imposta à imprensa nacional logo a partir de março de 1916 (os portugueses começaram a partir para a guerra em janeiro de 1917), e o Serviço de Censura de Base que apreendia grande parte da correspondência contribuíram para este esquecimento.

Em 05 de maio de 1918, Domingos Fernandes, primeiro sargento do regimento de infantaria, capturado na batalha de La Lys em 09 de abril desse ano, e preso no campo de Dulmen (Alemanha), pedia que lhe mandassem “todas as semanas uma encomenda de comida”. Em julho, foi transferido para o campo de Minden (Alemanha) e nesse mês e de novo em setembro reiterou os pedidos.

Numa carta de 02 de junho de 1918, José Gutierres, do batalhão de mineiros, preso em Munster I (Alemanha), pede alimentos e relata o abandono a que o Estado os vota: “isto aqui é muito triste. Entre milhares de prisioneiros de todas as classes, todos recebem do Governo menos os portugueses”.

Segundo a autora, milhares de portugueses presos nos campos de internamento e de trabalhos forçados sobreviveram “graças à doação de víveres por parte dos seus companheiros de cárcere”.

João Carlos Craveiro Lopes, tenente-coronel também capturado em La Lys, respondeu num inquérito a prisioneiros na frente europeia relatando que marchou até Lille (França) com “escassa alimentação” e que, depois, no campo de Rastatt (Alemanha) “enfrentaram a fome: muitos emagreceram de tal forma (‘25 quilos’) que estavam quase irreconhecíveis”.

Noutro campo, em Breesen (Alemanha), “foram empregados na frente em serviços de guerra, abrindo trincheiras, transportando munições, precisamente nos lugares de risco, e isto depois de lhes terem arrancado as suas máscaras antigás”.

Maria José Oliveira conclui que “na história dos prisioneiros de guerra portugueses, há um antes e um depois de La Lys”.

“Esgotados, sujeitos a um clima impiedoso de chuva e frio, enterrados na lama das trincheiras – foi neste estado que os expedicionários chegaram ao episódio tristemente célebre da participação portuguesa na Grande Guerra: a batalha de La Lys”, da qual resultou “a primeira captura em larga escala de militares portugueses: 6585 dos quais 6315 eram praças e 270 oficiais”, lê-se no livro.

A autora conta que “os oficiais tinham direito a cárceres especiais, com melhores alojamentos, soldo mensal e mais condições de higiene”, enquanto “os praças eram encarcerados em campos lotados [com dezenas de milhares de homens] e em campos de trabalhos forçados”.

“Mas nos últimos meses da guerra, a queixa mais recorrente era consensual: a fome”, sublinha a investigadora.

Uma situação que devido à censura o país ignorava.

Com o fim da guerra, em 11 de novembro de 1918, o repatriamento não foi imediato.

Em 17 de fevereiro de 1919, imaginando que seriam recebidos em Lisboa como heróis – a notícia do fim da guerra fora recebida na capital com festejos que duraram dois dias – o antigo prisioneiro Afonso do Paço relatou a chegada: “Desembarcámos no meio da maior indiferença, no meio da maior apatia da população alfacinha (…). As tropas que chegavam da França, umas centenas de ex-prisioneiros e um batalhão (…) mereciam aos governantes e aos governados a mesma atenção que qualquer saloio que da Lourinhã vem vender um carro de nabiças à praça da Figueira”.

“Foi esta a receção que tivemos em Portugal. Não valia a pena, para isto, tamanhos sacrifícios”, acrescenta.» in http://24.sapo.pt/atualidade/artigos/i-guerra-mundial-cartas-dos-prisioneiros-portugueses-nunca-chegaram-ao-destino


02/02/17

História Mundial - O cemitério militar português de Richebourg, França, com 1.831 campas de soldados lusos da I Guerra Mundial, faz parte de uma "lista indicativa" para candidatura a Património Cultural da UNESCO.




«I Guerra Mundial: Há um cemitério português candidato a património da UNESCO

O cemitério militar português de Richebourg, França, com 1.831 campas de soldados lusos da I Guerra Mundial, faz parte de uma "lista indicativa" para candidatura a Património Cultural da UNESCO.

O cemitério português, no norte de França, é um dos "locais funerários e memoriais da I Guerra Mundial (Frente Ocidental)" que integraram, em abril de 2014, a "lista indicativa" de França para futuras candidaturas a património da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Jorge Sampaio visitou o cemitério em 2004, quando era Presidente da República.

Num conjunto de 80 locais referentes à Grande Guerra, o cemitério de Richebourg L'Avoué aparece em sétimo lugar, assim como a Capela de Nossa Senhora de Fátima, em Lorgies, mesmo em frente do cemitério.

Em décimo lugar, aparece a necrópole nacional de Notre-Dame-de-Lorette, um cemitério militar junto ao qual se encontra o Memorial Internacional de Notre-Dame-de-Lorette, uma escultura monumental em forma de círculo - "Anneau de la Mémoire" - onde estão inscritos os nomes de 579.606 soldados de 40 nacionalidades mortos na Grande Guerra, incluindo 2.266 nomes portugueses.

Os monumentos constam da "lista indicativa" de França para candidaturas à UNESCO, a qual contém 37 locais, mas cada país só pode apresentar duas candidaturas por ano, sendo a próxima candidatura publicada no site da instituição na primavera, para ser avaliada em julho, explicou fonte da UNESCO à Lusa.

O cemitério de Richebourg é um cemitério militar exclusivamente português, no qual, entre 1924 e 1938, se sepultaram 1.831 soldados, dos quais 238 são desconhecidos, provenientes de outros cemitérios franceses de Le Touret, Ambleteuse e Brest, de Tournai, na Bélgica, e também os corpos de prisioneiros de guerra mortos na Alemanha.

A ambição de inscrever os "locais funerários e memoriais da I Guerra Mundial" como património da UNESCO resulta de uma "seleção transnacional", com a Bélgica, em que foram escolhidos 80 locais em França e 25 na Bélgica, "rigorosamente selecionados no seio de um vasto conjunto de milhares de cemitérios, necrópoles e memoriais da frente ocidental", explica a apresentação do projeto disponível na página internet da UNESCO na secção das "listas indicativas".

"Estes elementos são representativos da enorme diversidade de nações e de povos que estiveram implicados neste conflito mundial, com uma dimensão nunca então alcançada. Eles compõem uma paisagem evocativa representativa da extensão geográfica da frente (mais de 700 km), dos grandes momentos da sua história e das suas evoluções ao longo da guerra", descreve o documento.

Como "justificação para o valor universal excecional", o texto explica que, com a Grande Guerra, "uma nova memória funerária exprime-se através de cemitérios constituídos por campas individuais que se repetem em grande número", marcados pela "homogeneidade", e através da "inscrição de nomes nos mausoléus e memoriais que responde à vontade de guardar a memória de combatentes cujos corpos não foram encontrados ou identificados".

"Todos estes elementos refletem, também, o caráter internacional do conflito, seja através de cemitérios explicitamente associados a um dos beligerantes ou ao homenagear soldados oriundos do mundo inteiro", continua o documento, lembrando, ainda que "os memoriais são monumentos totalmente novos em relação a guerras anteriores".

A lista de monumentos traduz "um movimento arquitetónico totalmente novo" e "testemunha o sofrimento e o luto em massa", sendo "um culto funerário que é, desde logo, mais que um culto combatente, um culto civil e humanista que convida ao recolhimento e, depois, à reconciliação e à paz".

A recordar a presença portuguesa na Primeira Guerra Mundial em França há, ainda, o monumento de La Couture, do escultor português António Teixeira Lopes e inaugurado a 10 de novembro de 1928, e o cemitério militar britânico de Boulogne, onde há um talhão português com 44 campas.

O cemitério militar de Richebourg, a capela Nossa Senhora de Fátima e o monumento aos mortos de La Couture são palco, todos os anos, em abril, de uma cerimónia evocativa da Batalha de La Lys.

Os primeiros soldados do contingente que Portugal enviou para combater em França na I Guerra Mundial chegaram à Flandres faz quinta-feira 100 anos, numa participação sem brilho e que culminou no desastre da Batalha de La Lys.

A chegada dos militares portugueses a França, em janeiro de 1917, marca o início do grande esforço militar português durante a I Guerra Mundial.» in http://24.sapo.pt/atualidade/artigos/i-guerra-mundial-ha-um-cemiterio-portugues-candidato-a-patrimonio-da-unesco


História Mundial - O soldado Milhões tornou-se herói da Primeira Guerra Mundial ao enfrentar sozinho uma ofensiva alemã e a sua história faz parte da aldeia de Valongo de Milhais, Murça, que quer transformar a sua casa num memorial.



«Soldado Milhões, o português que enfrentou sozinho uma ofensiva alemã

O soldado Milhões tornou-se herói da Primeira Guerra Mundial ao enfrentar sozinho uma ofensiva alemã e a sua história faz parte da aldeia de Valongo de Milhais, Murça, que quer transformar a sua casa num memorial.

Milhais acabou por ficar conhecido como o soldado Milhões, um epíteto que nasceu com o elogio do seu comandante, Ferreira do Amaral: “Tu és Milhais, mas vales milhões”.

Durante a batalha, o soldado corria entre os vários abrigos, disparando de diferentes posições e criando a ilusão, nas tropas alemãs, de que a posição estava a ser guardada por vários militares.

À quarta ofensiva, os soldados alemães decidiram contornar aquele ponto e deixaram o português para trás das linhas inimigas, onde sobreviveu durante uns dias, com umas amêndoas doces no bolso, até encontrar um oficial escocês que o ajudou a encontrar o batalhão português.

Foi esse mesmo oficial que relatou depois o ato heroico do soldado transmontano.

Aníbal Augusto Milhais morreu aos 75 anos em Valongo, a aldeia que adotou o nome de Milhais em sua homenagem, que deu ainda o nome “Herói Milhões” a uma rua e quer agora recuperar a casa onde viveu.

O imóvel foi doado à Câmara de Murça que, segundo disse o presidente José Maria Costa, quer ali criar um “espaço de memória”, só que o projeto tem esbarrado nas dificuldades de financiamento.

O autarca afirmou à Lusa que o município procura apoios na sociedade civil e políticos, tendo já informado o Presidente da República sobre este projeto.

A ideia passa pela recuperação do edifício, mas, se tal já não for possível devido ao estado de degradação, este será demolido e no espaço levantado um memorial ao soldado Milhões.

Eduardo Milhões Pinheiro lembrou a petição ‘online’ em defesa da preservação da casa e disse que gostava que o projeto, de homenagem ao avô e a todos os que se bateram na Primeira Guerra Mundial, se concretizasse até 09 de abril de 2018, quando se assinalam os 100 anos da Batalha de Batalha de La Lys.

Aníbal Milhais é um exemplo de vida para o neto.

“Da história do meu avô eu guardo e procuro transmitir aos meus filhos dois valores essenciais: primeiro que nunca devemos abandonar e virar as costas à adversidade e, em segundo, que às vezes as soluções mais fáceis não são aquelas que devem ser tomadas”, frisou.

E continuou: “o mais fácil para o meu avô naquele dia seria ter obedecido ao seu superior hierárquico e ter retirado, porque ele teve uma ordem de retirada, mas ele preferiu ficar para garantir que todos se salvavam e, felizmente, ele também”.

Após a guerra e a condecoração, o soldado regressou à sua terra natal. Tornou-se agricultor, casou, teve 10 filhos, ainda chegou a emigrar para o Brasil, de onde pouco tempo depois regressou por pressão da comunidade portuguesa, que considerava “que não era digno” um herói nacional ser emigrante.

A sua história foi resgatada pelo jornal Diário de Lisboa que, na década de 20, o transformou numa espécie de símbolo nacional que passou a ser usado pela propaganda dos governos da primeira República e pelo Estado Novo.

O soldado Milhões teve sempre uma vida modesta e era, segundo contou a nora Berta de Jesus Moreira, de 78 anos, uma “boa pessoa” e um “homem alegre, amigo que gostava de ter a casa cheia e de contar histórias”.

As medalhas conquistadas foram doadas ao Museu Militar do Porto e também no Museu do Regimento de Infantaria 13, em Vila Real, se recorda o herói de guerra transmontano.» in http://24.sapo.pt/vida/artigos/soldado-milhoes-o-portugues-que-enfrentou-sozinho-uma-ofensiva-alema

História Mundial - Os primeiros soldados do contingente que Portugal enviou para combater em França na I Guerra Mundial chegaram à Flandres faz esta quinta-feira 100 anos, numa participação que culminou no desastre da Batalha de La Lys.




«Os nossos soldados desembarcaram na Flandres há 100 anos. Imagens que fazem História

Os primeiros soldados do contingente que Portugal enviou para combater em França na I Guerra Mundial chegaram à Flandres faz esta quinta-feira 100 anos, numa participação que culminou no desastre da Batalha de La Lys.

A chegada dos militares portugueses a França, em janeiro de 1917, marca o início do grande esforço militar português durante a I Guerra Mundial.

Apesar de Portugal ter combatido os alemães em África, em defesa dos territórios das antigas colónias - sobretudo Angola, mas também Moçambique - as imagens mais impactantes para a sociedade portuguesa de então chegaram da guerra no teatro de operações da Europa, da chuva, do frio e da lama num pequeno troço de trincheiras na Flandres francesa.

O governo português insistiu na participação militar na Frente Ocidental - apesar de contar, inclusivamente, com a oposição inicial da aliada Inglaterra - para consolidar a posição da (ainda) jovem República Portuguesa perante as grandes nações da Europa (em contraste com a vizinha Espanha, que tinha optado pela neutralidade).

No entanto, o objetivo estratégico último do governo português de então era salvar a integridade colonial em África, quer por receio de ataques diretos dos alemães ou por temer que, sem Portugal sentado à mesa dos vencedores, as colónias portuguesas fossem usadas como moeda de troca pelos ingleses no final do conflito.
Portugal não quis deixar dúvidas de que estava empenhado em lutar ao lado dos aliados e para isso treinou e mobilizou para França uma divisão reforçada de 35 mil homens, sobretudo infantaria apoiada por artilharia de campanha, com a designação Corpo Expedicionário Português. Esta força passaria mais tarde a duas divisões, num total de 55 mil homens.

Em todo o conflito (de 1914 a 1918), Portugal destacou pouco mais de 105 mil homens (55 mil para o teatro europeu e os restantes para África, sobretudo Angola).

A 2 de fevereiro de 2017 os primeiros soldados portugueses desembarcaram em Brest, sendo depois levados de comboio para o vale do Lys, para cobrir um setor entre Armantières e La Bassée, Merville e Béthune. A frente a cargo dos portugueses oscilou entre os quatro e os 11 quilómetros, consoante a evolução dos combates.

Seguindo o procedimento típico da guerra de trincheiras, a frente portuguesa estava organizada em três linhas de defesa: uma perto da terra de ninguém, com duas linhas de trincheiras, uma intermédia e uma última linha com fortificações de campanha de maior envergadura e com vias de comunicação para a retaguarda.

As tropas portuguesas combateram ali de fevereiro de 1917 a abril de 1918, sofrendo (e repelindo) cerca de 60 assaltos e 20 bombardeamentos de artilharia dos alemães. Já o lado português lançou dez ofensivas (infrutíferas) para tentar romper as linhas alemãs.

Nestes meses, as forças portuguesas terão sofrido mais de 600 baixas (pouco mais de 100 mortos, 350 feridos e 160 prisioneiros).

O soldado de infantaria António Gonçalves Curado foi o primeiro militar português a morrer na sequência de combates na Flandres. A ficha do CEP indica que "faleceu na primeira linha em 04 de abril de 1917, por virtude de ferimentos recebidos em combate, ficando sepultado no cemitério inglês de Laventie".

No entanto, quatro dias depois, o comandante-chefe do CEP, o general Tamagnini de Abreu e Silva, escreveu no seu diário o que realmente se passou: "Chegou a comunicação oficial dos ingleses da morte do soldado e dos ferimentos dos outros. Afinal, não foram estilhaços da granada que o mataram. Caiu sobre o abrigo em que os homens estavam uma granada que fez abater o tecto e o soldado ficou com a cabeça esmigalhada e os outros, feridos. (…) Aquele pobre soldado que estava abrigado à retaguarda morre esmagado por um desabamento! C’est la guerre!".

O episódio acabaria por ilustrar a participação portuguesa no teatro europeu da I Guerra Mundial: um desmoronamento com pouco brilho e nenhuma glória.

A 9 de abril de 1918 - com Portugal em ebulição com um novo governo em Lisboa, o de Sidónio Pais, na sequência de um golpe de Estado - os alemães lançaram uma ofensiva sobre la Lys que rompeu as linhas e obrigou ao recuo das forças aliadas para a retaguarda.

Com material danificado pelo inverno de 1917, desmoralizados e sem reforços enviados de Lisboa, o contingente português foi submetido a uma forte barragem de artilharia e "atropelado" pelas divisões alemãs. Na batalha de La Lys morreram mais de 1.300 portugueses, outros 4.600 ficaram feridos, 1.900 foram dados como desaparecidos e mais de 7.700 foram feitos prisioneiros.

Uma derrota humilhante (apesar da forte resistência dos portugueses e de algumas histórias individuais de heroísmo) que marcou o início do fim da participação portuguesa na I Guerra Mundial. Os efetivos ainda aptos do CEP foram posteriormente formados em três batalhões de infantaria, e integrados no exército inglês, no qual lutaram até ao armistício, em novembro de 1918).

Presença portuguesa em França: “um vazio” na historiografia francesa

A presença de soldados portugueses nas trincheiras da Flandres durante a I Guerra Mundial constitui “um vazio” na historiografia francesa, disse à Lusa o historiador Georges Viaud, sublinhando que há um século essa presença era “bem conhecida”.

“A presença portuguesa na Grande Guerra era bem conhecida naquela época. O Le Figaro, o Le Matin, o L’Express du Midi de Toulouse são jornais que falaram da presença portuguesa na guerra. Mais tarde há um vazio que se instala porque deixa de se falar da presença portuguesa e agora os historiadores franceses não estudaram essa presença”, indicou o presidente da Sociedade de História e Arqueologia do 14° bairro de Paris.

Quando se assinala o centenário da chegada à Flandres dos primeiros soldados portugueses que participaram na I Guerra Mundial, Georges Viaud destacou que “há muitos documentos de época que falam disso”, exemplificando com a edição de 10 de abril de 1918 do jornal Le Figaro, que fala da Batalha de La Lys, e as edições de 15 de julho de 1918 do Le Matin e do l’Express du Midi que mencionam os portugueses no desfile de vitória dos Aliados em Paris a 14 de julho.

Para o historiador francês Emmanuel Saint-Fuscien, professor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial é, simplesmente, “um ângulo morto da historiografia europeia”, sobretudo francesa.

"A participação portuguesa é pouco conhecida e pouco desenvolvida. Por um lado, a participação das unidades portuguesas à escala da guerra é tardia e ocorre pouco tempo antes do falhanço da Ofensiva Nivelle de 16 de abril de 1917, a qual vai provocar motins no exército francês e é um evento que passa por cima de tudo o resto", explicou.

A segunda hipótese prende-se com a determinação de França "em insistir na participação do conjunto da nação", ou seja, nas "regiões até aqui consideradas como periféricas - como o oeste da Bretanha, a Córsega, algumas partes do Midi e as colónias - o que apaga algumas participações estrangeiras", concluiu Emmanuel Saint-Fuscien.

Victor Pereira, historiador e professor na Universidade de Pau, no sul de França, sublinhou à Lusa que "quando se fala nos não franceses que participaram na guerra pensa-se nos ingleses - que eram os principais aliados - e nos Estados Unidos”, considerando que “as outras nações que ajudaram França, como Portugal, são um pouco esquecidas”.

“No conjunto dos soldados, os 50 mil enviados por Portugal não fizeram uma diferença maior (…). Por outro lado, como Portugal não participou na II Guerra Mundial e nas grandes guerras do século XX, há muitas vezes a ideia de que Portugal sempre esteve fora dos assuntos europeus", explicou.

Jean Yves Lenaour, especialista francês da Grande Guerra, também admitiu que "os franceses ignoram geralmente a participação de uma unidade portuguesa na Frente Ocidental" porque "a participação de Portugal é, acima de tudo, simbólica e garante-lhe um bom lugar na Conferência de Paz" e porque "Portugal está longe do teatro da guerra".

O tema também não merece destaque no universo editorial francês, o que levou o historiador Manuel do Nascimento a publicar dois livros sobre o tema, "A Batalha de La Lys" e "Primeira Guerra Mundial: Os soldados portugueses das trincheiras da Flandres e a mão-de-obra portuguesa a pedido do Estado francês".

"Quando apresentei o primeiro livro à editora disseram-me que os franceses desconheciam o tema. Sempre que vou a palestras, todos os franceses ficam de boca aberta porque desconhecem a participação portuguesa", afirmou Manuel do Nascimento que tem agendadas conferências sobre a primeira guerra mundial a 18 e 23 de março em Viroflay e Marly-le-Roi, nos arredores de Paris.

Celebra-se esta quinta-feira, 2 de fevereiro, o centenário do desembarque da primeira brigada do Corpo Expedicionário Português no porto francês de Brest, na sequência da publicação no Diário do Governo, a 17 de janeiro de 1917, do decreto n.º 2938 que mandava proceder à concentração das tropas lusas para participar na primeira guerra mundial, ao lado dos aliados.» in http://24.sapo.pt/atualidade/artigos/os-nossos-soldados-desembarcaram-na-flandres-ha-100-anos-imagens-que-fazem-historia