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23/01/23

Arte Poesia - Eis um belo Poema de Eugénio de Andrade a interpelar a Humanidade.




"Urgentemente


É urgente o Amor,

É urgente um barco no mar.


É urgente destruir certas palavras

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.


É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.


Cai o silêncio nos ombros,

e a luz impura até doer.

É urgente o amor,

É urgente permanecer."


Eugénio de Andrade


Projeto REDES - Poema "Urgentemente" de Eugénio de Andrade


08/04/20

Poesia - Da terra ao ar, entre o corvo e a borboleta, na negritude ao colorido...




Da terra ao ar



Foi larva, foi larva


E brotou das terras



Qual erupção divina



Nasceu, nas serras



A grandeza, a encima





Foi borboleta, cor



Colorida saiu a voar



Mas, terra, era amor



E ar, sua ânsia de amar



Na Primavera, esplendor





Nunca foi negro, negro



Mas, tinha na sua mente



O corvo, o corvo, o medo



Não, a sua inquietação,



Esse era o seu segredo





E agora, e agora



Entre a cor total



E o belo, o colorido



Fica a terra, a tal



De olhar destemido!





Helder Barros, 8 de abril de 2020

20/05/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Saudade"


Foto: a modelo Marlene Semedo Fortes


"SAUDADE

Se eu fosse um pintor
E tivesse de desenhar a saudade
Seria uma gaiola sem cor,
Sem grade,
E sem tranca,
Voltada a sul,
E uma bela pomba branca
Que esvoaça o seu azul,
Ao sol da primavera,
E ao entardecer,
Eu fico à espera,
Até ela descer."

Eugénio Mourão

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=864880050259528&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=1&theater

09/05/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Asas de Amar"


Foto: a modelo Mihaela Ion 


"ASAS DE AMAR

Vai, é agora,
Já abanam os teus cabelos
Ao vento,
Já sinto nas tuas asas apelos
De firmamento,
O teu desejo possuído por correntes de liberdade,
Voa,
A puberdade,
Na tua dança de pavoa,
Para perto da mira dos homens.
E sobe, sobe até ao telhado do mundo,
As tuas mãos jovens,
Em corpo fecundo,
Vai, e leva no teu anel a mensagem,
De que numa terra franca,
Há um beiral,
Sobre uma bela paisagem,
De onde partiste ao alvor,
Do teu pombal,
E ao deixares cair uma pena,
Ficou a dor,
Pomba branca,
Mulher morena."

Eugénio Mourão.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=860051407409059&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=1&theater

08/05/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Sinfonia do Céu".



"SINFONIA AO CÉU

Com emoção a lágrima beija
Os lábios, fez-se bola de sabão,
Eleva-a a dor no ar que expiro,
Já não lhe chego com a mão,
Tão longe vai, perco-a de vista,
Algures com a paixão a miro.

No rosto a tristeza vem tocar,
Desejo à noite abraça o leito, 
E a terra alvorece o orvalhar,
A saudade que bate no peito,
Já foi oração de adormecer,
E acordar de sonho desfeito.

Se um dia fecharem o mundo,
Ao olhar o céu for proibido,
E o amor ficar moribundo,
Um sopro do meu coração,
Fará tantas bolas de sabão,
Que jamais será esquecido."

Eugénio Mourão

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06/05/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Tenho a sensação de que nada..."



"TENHO A SENSAÇÃO DE QUE NADA...

Tenho a sensação de que nada,
Quanto disse ou fiz valeu a pena,
Há no meu escuro uma luz serena,
Que breve o dia tornará apagada.
Sinto-me tão distante do que era,
Que me estranho ao pensar-me,
E escrevo de mim até cansar-me,
Tudo o que na vida já perdera.
É um instante de ansiedade,
Como se a tudo o que fizeste,
Faltasse aquilo que pudeste,
E te cobra em dor de saudade.
Em qualquer palavra que pinta,
Fico a olhar, não sei o que dizer,
Como se a caneta ao escrever,
Falhasse por não ter mais tinta.
Talvez tudo isto seja indistinto,
Ou não passe de um devaneio,
Por quanto foi e não mais veio,
Mas é isso que em mim sinto."

Eugénio Mourão

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=859093844171482&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=1&theater

05/05/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Sabes"


foto: a modelo Uliana Gridina 


"SABES...

Sabes,
Havia um arco íris,
Da minha casa até à tua,
Tu deslizavas por ele até mim,
E eu abraçava-te.
Mas o sol já não gosta do chover,
E a chuva chora sozinha,
Escondida numa nuvem escura.
Sabes,
Havia um sonho,
Do teu quarto até ao meu,
E tu entravas nele,
E eu amava-te,
Mas a realidade já não gosta da ilusão,
E pôs caçadores de sonhos,
À entrada do mundo.
Sabes, 
Havia uma canção,
De uma ponta à outra do piano,
E a letra era este poema,
Que te dediquei,
Mas as teclas não deram,
Porque estava escrito em dó,
E o sol não pôde vir.
Sabes,
Havia…"

Eugénio Mourão

02/05/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Acredita"



"ACREDITA

Acredita!
E não percas tempo com o que não pode ser,
Por canteiros anónimos.
Vai brincar a viver,
Lá em baixo há nomes de flores,
Que já foram gente,
Num travesseiro de sonhar,
Acredita!
Tu podes ser uma borboleta,
E deitar-te em camas com pétalas de todos os malmequeres do mundo,
Antes do último jardim.
E se houverem beijos que te magoem, 
Faz com eles lábios de algodão doce,
Junto ao sol."

Eugénio Mourão.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=848061141941419&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=1&theater

01/05/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Dança da Vida"


(imagem partilhada de A Lua e Eu)

"DANÇA DA VIDA

Tens a vida!
Baila o teu corpo a jeito,
Ainda que numa pista desmedida
Ao som do teu peito.
Não importa que a letra seja errada,
Porque não há no mundo outra crença,
Fizeste tudo o que podias, não há mais nada.
E se alguma dor houver,
Faz dela a madrugada de loucura,
Até que uma lágrima vença
A tua ânsia
Embebida, mas que não cura,
Quanto de amor se faz em ódio à distância.
A noite é uma mulher,
E se engana o descontentamento
Com uma boca errada,
Ao saber-se amarga, de arrependimento,
Acerta-a com os olhos de um lembrar,
Em alguém com quem feliz,
Mas que por triste fado, nunca soube ou quis
Dançar."

Eugénio Mourão

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29/04/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Boca Vaga"


(imagem partilhada de A Lua e Eu)

"BOCA VAGA

Farto enlouquecer!
Onde fica a minha razão? É para lá que vou,
Casa do meu ser.
Amanhã, não sei!
Ainda aqui estou,
E se um dia não, ficará a vida que me coube,
Muita ou pouca, não importa,
Porque valeu o que me gastei,
Ainda que a deserto soube,
Mas permanece.
Que a memória a desfaça em desventura,
Jamais será esquecida ou morta,
Porque nada do que foi por sentir desfalece,
Mesmo o que de paixão não tem a mundana
Vontade,
Ao amor engana.
E um dia há de,
De tão obsessivamente feliz,
Ser oferecido à loucura
Que sempre o quis.
É isto a vida, a saga
De um corpo que fica à beira,
Lábios de uma boca vaga,
Saciados com poeira."

Eugénio Mourão

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24/04/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Foz"



"FOZ

Não importa quanto de profundo
Um rio seja,
Porque lá no fundo,
O que vale é que à tona se reveja,
Em tudo o que sempre quis .
Aquele que se demora
A ser feliz,
É porque em vez de correr, ignora,
Ou é omisso,
Não sabe dizer a sua foz,
Apenas isso.
Quanto fica de nós
Por velejar,
À proa.
Ou por não sabermos navegar,
Ou a corrente não é boa,
Até ao mar."

Eugénio Mourão

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=853009051446628&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=1&theater

21/04/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Asas de Amar"



"ASAS DE AMAR

Vai, é agora,
Já abanam os teus cabelos
Ao vento,
Já sinto nas tuas asas apelos
De firmamento,
O teu desejo possuído por correntes de liberdade,
Voa,
A puberdade,
Na tua dança de pavoa,
Para perto da mira dos homens.
E sobe, sobe até ao telhado do mundo,
As tuas mãos jovens,
Em corpo fecundo,
Vai, e leva no teu anel a mensagem,
De que numa terra franca,
Há um beiral,
Sobre uma bela paisagem,
De onde partiste ao alvor,
Do teu pombal,
E ao deixares cair uma pena,
Ficou a dor,
Pomba branca,
Mulher morena."

Eugénio Mourão

17/04/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Escrever a vida..."



"ESCREVER A VIDA…

Da vida nada digo,
Ela é quem me diz,
Às vezes é tão cruel,
Que julgo brincar comigo,
E que afinal nunca quis,
Senão ficar em papel.
Outras vezes sou eu,
Mas ao escrevê-la,
Sinto-me tão bem,
Como se ao olhar o céu,
Visse numa estrela,
O brilhar de alguém.
É sobretudo agora,
Que tudo acontece,
A noite fica à espreita,
E quando tudo já mora,
Eis que alvorece,
Aquilo que não me deita.
A vida é sonhada assim,
As palavras que lhe faço,
São por tanto a sentir,
Que nunca terá um fim,
E nem mesmo o cansaço,
Me fará dela desistir."

Eugénio Mourão.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=850195308394669&set=a.215009225246617.52914.100002126234550&type=1&theater

15/04/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Janela de espera"



"JANELA DE ESPERA

Encosta a saudade,
Já resignada,
À janela de espera,
De um quarto de acordar.
Olhos fixos, vagos,
Por caminhos baços,
E montes de um lugar.
Despidos desejos que voam,
Para espaços,
Que perto distam do desgosto,
Mas que por leigo gosto,
Não magoam.
E tudo não passa de um passar
Que fica."

Eugénio Mourão.

11/04/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio mourão, interpela-nos com o Poema: "Quem és?"



"Quem és? 

Tantos seres sem rosto!
Quantos olhos a desilusão
Já esconderam o desgosto
No espelho da solidão!
Caras que o humano tem...
Mostra a tua, a outra não.
Nem sempre a que convém
Diz mais ao coração!
Eu sou quem me vejo,
Não aquilo que tu vês.
Sou amor e sou desejo
Sou cabeça, tronco e pés.
E tu, afinal quem és?
A tua imagem baça
Que o ódio abraça.
Um fantasma? Talvez.
Olhos, que tamanhos?
A cor dos teus sonhos?
Vermelhos de medonhos,
Ou meigos de castanhos?

Eugénio Mourão


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10/04/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Dizem que isso é o amor..."



"DIZEM QUE ISSO É O AMOR…. 

Aquilo que connosco veio
Que habita fora do espaço
Que nos prende sem freio
Como ao nó fazer um laço.
E mesmo que nos amordaça
Esta enfermidade sem cura
Dá a isto que por nós passa
Aquilo que sempre dura.
Eterno é quando nunca vais
E se sais por alguns instantes
Vens por onde foste com mais
Muito mais do que era dantes.
Dizem que isso é o amor
Estranha a humana glória
Que se ganha com a dor 
Ou se perde com a vitória.
Ainda que por ela vencido
Não há a esta vida rendida
Algo mais que dê sentido
Do que a alma com ferida.
Só espero que o Camões
Ao ler o meu lindo poema
Fique com a convicção
Quanto a dor vale a pena.
E se tu achares que sim
É porque já foste capaz
De sentir o que sem fim
Para muitos é fugaz."

Eugénio Mourão

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01/04/15

Poesia - O Meu Amigo e Poeta, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Feliz Mentira"



"FELIZ MENTIRA

O que há de mais ingrato neste mundo,
Não é o incerto! O que mais nos desilude
É o sentir à primeira vista devir moribundo,
Ainda que tudo o que se faça nada mude.
Quando a paixão se faz num rosto,
Precipitada por um amor de pedra,
Há venturas que lavam em desgosto,
As calçadas de chão onde não medra.
E ao passar, o que mais embaraça,
É ter sido despojado desta crença,
Por alguém que tanto a amordaça,
E ao olhar devolve em indiferença.
A vida é feita de promessas ocas,
Montagem de amor, feliz mentira!
Tudo se esvai em vício de bocas,
E se uma em prazer dá, a outra tira.
Jamais que um peito abra à ilusão,
As portas do querer que não perdura,
Não há perdão no ato de contrição,
De quem declarado ser tanta jura.
Um dia longe, tocado pela lembrança,
Ao acreditar aquele viver de verdade,
O coração, de tanto ansiar se cansa,
Em bater por mais um dia de saudade."

Eugénio Mourão

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28/03/15

Poesia - O meu Colega e Amigo, Professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Foz"


Foto: Carla Calado model


"FOZ

Não importa quanto de profundo
Um rio seja,
Porque lá no fundo,
O que vale é que à tona se reveja,
Em tudo o que sempre quis .
Aquele que se demora
A ser feliz,
É porque em vez de correr, ignora,
Ou é omisso,
Não sabe dizer a sua foz,
Apenas isso.
Quanto fica de nós
Por velejar,
À proa.
Ou por não sabermos navegar,
Ou a corrente não é boa,
Até ao mar.

Eugénio Mourão

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24/03/15

Poesia - O Meu Colega e Amigo, professor Eugénio Mourão, interpela-nos com o Poema: "Sabes..."



"SABES...

Sabes,
Havia um arco íris,
Da minha casa até à tua,
Tu deslizavas por ele até mim,
E eu abraçava-te.
Mas o sol já não gosta do chover,
E a chuva chora sozinha,
Escondida numa nuvem escura.
Sabes,
Havia um sonho,
Do teu quarto até ao meu,
E tu entravas nele,
E eu amava-te,
Mas a realidade já não gosta da ilusão,
E pôs caçadores de sonhos,
À entrada do mundo.
Sabes, 
Havia uma canção,
De uma ponta à outra do piano,
E a letra era este poema,
Que te dediquei,
Mas as teclas não deram,
Porque estava escrito em dó,
E o sol não pôde vir.
Sabes,
Havia…"

Eugénio Mourão.

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Poesia - No dia da Morte de Herberto Helder, nada melhor que publicar a sua excelente Poesia...




«Biografia

Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, ilha da Madeira, no seio de uma família de origem judaica. Em 1946, com 16 anos, viaja para Lisboa para frequentar o 6º e o 7º ano do curso liceal. Em 1948, matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, em 1949, muda para a Faculdade de Letras onde frequenta, durante três anos, o curso de Filologia Romântica, não tendo terminado o curso. Três anos mais tarde regressa a Lisboa, começando por trabalhar durante algum tempo na Caixa Geral de Depósitos e depois como angariador de publicidade, sendo que durante este tempo vive, por razões de ordem vária e pessoal, numa «casa de passe».

Em 1954, data da publicação do seu primeiro poema em Coimbra, regressa à Madeira onde trabalha como meteorologista, seguindo depois para a ilha de Porto Santo. Quando em 1955 regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Durante esse período trabalha como propagandista de produtos farmacêuticos e redactor de publicidade, vivendo com rendimentos baixos. Três anos mais tarde, em 1958, publica o seu primeiro livro, O Amor em Visita. Durante os anos que se seguiram vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia, viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição.

Repatriado em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional com redactor de noticiário internacional, período durante o qual vive em Lisboa. Ainda nesse mesmo ano publica Os Passos em Volta e produz A máquina de emaranhar paisagens. Em 1964 trabalha nos serviços mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação na organização da revista Poesia Experimental. Nesse ano reedita ainda Os Passos em Volta, escreve «Comunicação Académica» e publica Electronicolírica. Em 1966 participa na co-organização do segundo número da revista Poesia Experimental e no ano seguinte publica Húmus, Retrato em Movimento e Ofício Cantante. Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o leva a ser envolvido num processo judicial no qual foi condenado. Porém, devido às repercussões deste episódio consegue obter suspensão de pena, facto este que não conseguiu evitar que fosse despedido da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugia-se na publicidade e, posteriormente, numa editora onde desempenha o cargo de co-gerente e director literário. Ainda nesse ano publica os livros Apresentação do Rosto, que foi suspenso pela censura, O Bebedor Nocturno e ainda Kodak e Cinco Canções Lacunares.

Em 1970 viaja por Espanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca, publicando nesse ano a terceira edição de Os Passos em Volta e escreve Os Brancos Arquipélagos. Em 1971 desloca-se para Angola onde trabalha como redactor numa revista. Enquanto repórter de guerra é vítima de um grave desastre tendo que ser hospitalizado durante três meses. Data ainda desse ano a publicação de Vocação Animal e a produção de Antropofagias. Regressa a Lisboa e parte de novo, desta vez para os E.U.A., em 1973, ano durante o qual publica Poesia Toda, obra que contém toda a sua produção poética, e faz uma tentativa frustrada de publicar Prosa Toda. Em 1975 passa alguns meses na França e Inglaterra, regressando posteriormente a Lisboa onde trabalha na rádio e em revistas, meios restritos de sobrevivência económica. Em 1976, Herberto Helder participa na edição e organização da revista Nova que, sendo posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, reconhecia na Literatura portuguesa características que a aproximaram às Literaturas latino-americana, africana e espanhola, declinando uma direcção literária revolucionária cuja actividade não ultrapassou o plano teórico devido à instabilidade política portuguesa que se fazia sentir na altura. Nos anos que se seguiram publicou as obras Cobra, O Corpo, O Luxo, A Obra e Photomaton e Vox. A última referência encontrada da instabilidade biográfica de Herberto Helder referia-se ao facto de o poeta ter abandonado todas as suas anteriores actividades e de viver no mais cioso dos anonimatos.» in http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/helder/biogra.html

"Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente 
na confusão da carne, 
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, 
talvez como sangue 
ou sombra de sangue pelos canais do ser. 

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência 
ou os bagos de uva de onde nascem 
as raízes minúsculas do sol. 
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis 
do nosso amor, 
os rios, a grande paz exterior das coisas, 
as folhas dormindo o silêncio, 
as sementes à beira do vento, 
- a hora teatral da posse. 
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço. 

E já nenhum poder destrói o poema. 
Insustentável, único, 
invade as órbitas, a face amorfa das paredes, 
a miséria dos minutos, 
a força sustida das coisas, 
a redonda e livre harmonia do mundo. 

- Em baixo o instrumento perplexo ignora 
a espinha do mistério. 
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne."

Herberto Helder


("Minha cabeça estremece" - Herberto Hélder // Rodrigo Leão)