«São João, religioso e profano nos meandros do Porto
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23 de Junho de 2011, 03:26
O SAPO foi descobrir o São João escondido pela cidade do Porto. Em igrejas, monumentos, edifícios públicos, o santo padroeiro das festas populares foi sendo, ao longo dos séculos, homenageado pela cidade com esculturas e pinturas. Desde o séc. XIV.
Rezam as crónicas de D. João I do historiador Fernão Lopes que, no séc. XIV, as gentes do Porto faziam grande festa na noite de São João. Mas só seis séculos mais tarde o dia foi convertido em feriado.
Na foto: Escultura de S. João Baptista de João Cutileiro, na Praça da Ribeira.
Organizado pelo Jornal de Notícias em 1911, o referendo popular resultou na escolha do dia do nascimento de São João com 6565 votos dos portuenses, à frente do Dia do Trabalhador e da Nª Senhora da Conceição. Instituía-se assim o feriado municipal de 24 de junho, que este ano comemora 100 anos.
Mas quem é este São João, ora religioso, ora profano que se esconde por estátuas, monumentos e igrejas da cidade do Porto? O SAPO foi saber tudo numa visita guiada à cidade.
Na Praça General Humberto Delgado, vulgo Avenida dos Aliados, a estátua de Almeida Garrett é o ponto de partida para o Circuito de São João organizado pela Casa do Infante.
Comecemos na Câmara do Porto. Na Sala das Sessões, numa das paredes, Guilherme Camarinha (1912-1994) dedicou uma tapeçaria à festa tradicional. Encomendada em 1955, o trabalho custou 78 500 escudos, e representa uma cena da noite mais curta do ano. São João baptiza Jesus no Rio Jordão, homens e mulheres tocam-se com alho-porro, há fogueiras e cabrito e decoração nas ruas.
A celebração poderia passar-se em qualquer ponto da cidade como o Largo dos Loios, antigo lugar de convívio no São João.
No Museu da Santa Casa da Misericórdia do Porto, na Rua das Flores, São João Baptista aparece sob a forma de pintura. O quadro, da autoria de António Carneiro (1872-1930), retrata o santo popular de corpo inteiro, despojado de alguns elementos característicos como o cabrito. Uma imagem rara, mostra a figura destacada no deserto sem pormenores "desnecessários".
Na Igreja de São João Novo, cujo nome nada tem a ver com o santo padroeiro, João Baptista emerge sobre a forma de estátua num altar em talha dourada, do séc. XVII.
Na foto: Pintura de S. João, de António Carneiro, no Museu da Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Mas perto daqui, na Casa dos Grilos, reza a história que num dia de 1974, um grupo de pessoas decapitaram uma escultura de João Baptista. Recuperada a cabeça pelo padre da paróquia, o corpo esteve muitos anos na Câmara do Porto sem se saber do paradeiro da sua cabeça. Anos mais tarde, o pároco revelou o segredo da misteriosa cabeça de São João. Em 2010, aquando da inauguração do remodelado Hospital de São João, a estátua do santo, já com cabeça e corpo, foi colocada no exterior do edifício.
Na Igreja de São Francisco, uma das obra-primas do barroco em Portugal, São João também teve direito a um altar em sua honra, mas digamos que passa quase despercebido no meio de uma espécie de caixa de ouro em que nos envolve todo o interior do edifício.
Na Praça da Ribeira, actualmente o coração dos festejos das festas populares, o São João que lá mora é pouco acarinhado pelos portuenses. "É feio", "Não tem nada a ver com a cidade", diz quem passa e quem lá mora. Em cima de uma fonte medieval este São João cabeludo, da autoria de João Cutileiro, escultor lisboeta, mora na praça, mesmo em frente ao rio Douro, desde 2001.
Na foto: Altar de S. João Baptista na Igreja de S. João Novo.
Descobrimos que o São João está presente em muitos pontos da cidade mas descobrimos também que nem sempre os nomes de ruas e ruelas estão associados ao santo padroeiro das festas populares, como é o caso da Rua de São João, ou da Praceta de São João Novo.
Ao longo de séculos, o feriado tem sido aproveitado para inaugurações ou acções políticas como foi o caso da inauguração dos Paços do Concelho ou algumas pontes e monumentos da cidade. Uma tradição antiga que, nos tempos medievais, marcava o início do ano económico no Porto.
Na noite dos espíritos bons e maus o melhor mesmo é estar atento e usar alho-porro para afastar o azar e lançar um balão para iluminar as almas boas. Sem esquecer os manjericos, as sardinhas e as marteladas. A tudo isto os "São Joões" do Porto assistem atentos. Todos os anos. O rebuliço em que a cidade fica na noite "mágica" de 23 para 24.
@Catarina Osório» in
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São João como no do Porto não existe; é uma loucura... quem lá vai, não esquece...