«São Gonçalo de Amarante
No passado dia dez de janeiro, foi um domingo muito chuvoso. Caiu muita
água em Amarante e podem, quem sabe, ter sido lágrimas vertidas em abundância
por São Gonçalo, por muitos lhe chamarem agora de Beato Gonçalo. Ou talvez não,
porque canonicamente essa designação é a teologicamente mais correta. Acontece
que, eu sempre que vou a algum lado, admito que tenho uma certa vaidade em
falar da nossa Terra, Amarante, e, não raras vezes, me dizem com entusiasmo:
“Amarante, a terra de São Gonçalo”, ou, “São Gonçalo de Amarante é o maior!”.
Os meus pais, antes de eu nascer, em meados dos anos sessenta, viveram na
bela cidade de Aveiro, também conhecida como a “Veneza” Portuguesa. O meu pai
foi Oficial de Justiça naquela terra, no Tribunal de Trabalho, até ter sido
transferido para a Cidade do Porto. Recorda a minha Mãe que, o nosso São
Gonçalo de Amarante, era muito conhecido e reconhecido por aquelas bandas.
Quando a minha Mãe dizia que era de Amarante, as pessoas mais simples,
lavradores, comerciantes e pescadores, abriam o seu semblante e muitos havia
que, já tinham vindo a Amarante pagar promessas ao nosso Padroeiro, pois para
eles, o São Gonçalo que tinha valor, era o de Amarante, mais nenhum!
O nome de Amarante é indissociável de São Gonçalo, tal facto pode também
ser verificado, por exemplo, no Brasil. Existem diversas paróquias, com o nome
de Amarante e que têm como Orago, São Gonçalo. De tal forma é o fenómeno importante que,
recebi o programa das festas para o São Gonçalo de Amarante de Niterói. Foram colonos
Portugueses que levaram para o outro lado do atlântico essa nossa Fé no nosso
São Gonçalo de Amarante, que quiseram vincar essa sua ligação umbilical… existia
na sua mente um vinculo natural, da Terra ao Santo e vice-versa, falar de uma é
falar do outro, numa relação de reciprocidade direta.
Fiquei triste por ver que na nossa Cidade, no dia 10 de janeiro, que até
coincidiu com um Domingo, o culto cristão e pagão já não é nada do que já foi.
Sinal dos tempos, dirão uns, laicização da sociedade, dirão outros. Não sei,
pouco me importam os motivos, que serão sempre de vária ordem. Continuo a
pensar é que Amarante, não pode descurar o seu turismo de carácter religioso.
Em Amarante, dez de janeiro, ou no domingo imediatamente seguinte ao dia dez,
deveria haver sinais de festividades, nas duas componentes em cima referidas.
Não ouvi um foguete sequer, não ouvi os Bombos, a Fanfarra, a Banda de Música…
que se passa amarantinos… penso que, poderíamos atrair alguns forasteiros, para
beneficiar com o culto do nosso renomado Padroeiro, a restauração, a hotelaria,
enfim, poderíamos fazer muito mais, até coisas que ainda não foram feitas, como
diria Pedro Abrunhosa: valorizar os doces tradicionais nesses dias, a nossa
gastronomia de excelência e a nossas ofertas museológica e da hotelaria.
Uma paróquia como São Gonçalo e São Veríssimo necessita de um Pároco a
tempo inteiro, não podem ser assim desvalorizadas. Esse terá que ser um
potenciador de Amarante, na senda do São Gonçalo de Amarante. Dizem alguns que,
São Gonçalo era de Vizela: correto, mas foi a Amarante que ficou associado e
onde quis fazer obra, onde parou na sua viagem e se tornou de simples eremita,
um verdadeiro catalisador desta Terra que tanto amamos. De facto, tenho que
confessar que, quando me dizem que sou de Amarante, terra de São Gonçalo, sinto
um enorme orgulho, nesta bênção que nos foi transmitida de geração em geração.
Façamos todos mais por Amarante e por São Gonçalo; é Beato bem sei, mas para
mim é e será sempre São Gonçalo de Amarante; não reneguemos o nosso passado,
nem os nossos antepassados…
Inevitável será referir que, este dia de São Gonçalo deste ano, coincidiu
com um dia de Inverno pesado e de trabalhos, de prejuízos para os comerciantes,
o que se lamenta e se deve remediar na medida do possível. Mas eu não atribuo
às diatribes meteorológicas um valor de neutralização das festas em honra de
São Gonçalo: os preparativos, os programas são realizados muito a montante no
tempo, depois se no dia se não puder fazer a festa… cancela-se, ou adia-se,
como num jogo de futebol… não se trata de nenhum drama!
Vejo, no entanto, com agrado que as confeitarias e pastelarias locais,
estão a tomar medidas no sentido de recrear o famoso doce de São Gonçalo,
fazendo com que este se divulgue pelos residentes e turistas. São pequenos
detalhes que deverão no futuro fazer toda a diferença, todas as terras se
orgulham dos seus doces tradicionais e nós somos demasiado ricos também nessa
área, para desperdiçar tanto potencial, que também é turístico!
Amarante, dez de janeiro, é o dia de São Gonçalo de Amarante, por muito que
o desvalorizem, terá que haver um Amarantino que se levante, para relembrar
esse facto, quanto mais não seja, em memória dos nossos antepassados!
Citação de Teixeira de Pascoaes, que criou a filosofia da saudade: “A Saudade é a lembrança saudosa do passado
projectada em esperança no Futuro” » in http://birdmagazine.blogspot.pt/2016/01/s-goncalo-de-amarante-fez-ponte.html
(Júlio Pereira São Gonçalo de Amarante)
(Amarante Convento Igreja de São Gonçalo)
(Igreja de S. Gonçalo de Amarante)
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