«UM SEX-SHOP RURAL
Uma moça das aldeias das terras de Basto, conhecida por Maria Bonita, desde muito nova, sempre gostou muito de dar nas vistas, quer pela sua beleza natural, quer pelo seu temperamento um pouco intempestivo e com uma personalidade muito marcada, nem sempre pelos aspetos mais positivos; enfim, desde miúda, uma jovem muito temperamental e pretensamente dominadora, nas mais diversas situações.
Desde cedo, por volta dos catorze anos, começou a namorar um rapaz com quem mais tarde haveria de se casar, praticamente a seguir ao momento em que atingiu a sua maioridade. Escusado será dizer que, o seu relacionamento foi sempre marcado por muitas discussões, avanços e recuos, com Manuel Góvias, uns sete anos mais velho que ela e teimoso e amuado que chegue. Mas, Maria Bonita, com o seu temperamento de jovem fêmea denominadora e caprichosa, de mais vale quebrar do que torcer, gostava de dominar as situações, ou de ficar sempre por cima, salvo seja!
Manuel Góvias, trabalhador da construção civil como manobrador de máquinas, era desde novo, um emigrante no México, onde trabalhava há muitos anos. Assim, depois de casar, a sua vida continuou como antes; praticamente um mês em Portugal e os restantes a trabalhar na América do Sul, onde além de laborar muito, se divertia aos fins de semana, com as mexicanas “calientes”.
Maria Bonita, a mais nova de cinco raparigas, já veio como se diz na aldeia, fora de tempo, portanto foi sempre a menina querida, habituada a contornar as situações e a conseguir os seus intentos, através do seu charme de jovem bela e caprichosa, do seu feitio irreverente e possessivo; aliás os progenitores queriam muito um rapaz, mas saiu-lhes uma moça de pelo na venta, como se costuma dizer em terras minhotas.
No seu percurso escolar, algo atribulado, depois de ter frequentado cursos de educação e de formação, cursos profissionais, grupos de características problemáticas, Bonita, sempre se conseguiu safar, quer copiando, quer enganando os professores das formas mais incríveis que se possa imaginar. Tinha no seu sorriso e no seu olhar penetrante e enigmático, nas suas cenas de mimo, sedução e de capricho bastantes, como fórmulas para contornar as dificuldades e obviar os engulhos da vida.
Basicamente, estava habituada a ter tudo o que queria, na sua relação com a Escola, com o Namorado, com os Pais, com o Rancho Folclórico local e com as suas amigas e amigos. Desarmava-os com o seu charme feminino, mimo, cenas de orgulho, amuos e outras diatribes, saindo sempre no final, com o seu sorriso de vencedor e olhar penetrante.
O Manuel Góvias, ganhava muito bem para o nível de vida português e era um ótimo marido para responder às exigências e caprichos de Maria Bonita. Por incompatibilidade de feitios andavam sempre zangados, o que Bonita usava sempre em seu favor, conseguindo tirar partido das reconciliações temporárias. Parte do tempo não se falavam, quer presencialmente, quer à distância. No entanto, foram o casal sensação da aldeia: O Manuel Góvias e a Maria Bonita. Apesar de bem casada, ela foi trabalhar para um supermercado, onde não tinha vida muito fácil, pois além de ter uma relação precária com a instituição, o ritmo de trabalho era muito forte, mormente para os novatos, a quem atribuíam as tarefas mais complicadas e onde ser colega, não significava, nem pouco mais ou menos, ser amigo de alguém. Num ritmo de autofagia dominante, cada um tentava escapar e subir na profissão de formas mais ou menos honrosas. Naquela selva, nem o capricho de Bonita se conseguia impor... o que a deixava amargurada!
Também pela sua idiossincrasia, não tinha amigos, pois todos absorviam a sua alegria enquanto precisavam dela, mas rapidamente a esqueciam e a ignoravam, sempre que já tivessem retirado dividendos da sua energia positiva, de menina que andava sempre com um sorriso no rosto, um brilho especial e a fazer das suas. Praticamente, quase nenhuma das amigas do tempo de escola, mantinha a relação de amizade anterior com ela. Sempre se aproveitaram dela, gostavam do sorriso de Bonita, da sua alegria, da sua natural tendência de tomar a iniciativa e de contornar dificuldades, o que ela sempre revelou; mas, no fundo; invejavam-na, só queriam aproveitar a sua alegria e energia, que não tinham… por isso a odiavam e a desprezavam inexoravelmente!
Maria Bonita estava a ficar cansada daquele stress da vida ativa, para o qual não estava preparada, mas o seu desgaste maior era de índole psicológico, dado que estava habituada a comandar as operações, ficando de repente aprisionada de uma forma quase lancinante.
Por outro lado, o Manuel Góvias, começou a pressionar Bonita para que esta pensasse em ter um filho, facto que ela não pretendia, pois era muito nova e queria curtir a vida, pelo menos era o que dizia a todos os que a interpelavam nesse sentido. Afinal, é perfeitamente normal, numa aldeia, moça casada, criança esperada…
Ora Bonita é que não achava piada nenhuma à ideia e mais, como não estava a gostar do seu trabalho, retomou uma ideia que sempre guardou na sua ingenuidade simples, passe a redundância: abrir uma Sex-Shop nas terras de basto, pois era um nicho de mercado que, segundo ela, estaria por aproveitar, dado que não havia nenhum estabelecimento do género aberto ao público até à data; um autêntico filão por aproveitar, na sua forma simples de pensar.
Havia então que convencer marido, sogros, pais e irmãos, e, muitas das personagens ainda algo retrógradas da aldeia, pelo menos assim o pensava ela, para esta sua ideia que ia abanar a mentalidade das terras de Basto e arredores, dada a sua inovação, sentido de modernidade e de oportunidade, pelo seu amplo mercado potencial, embora sem estudo prévio de mercado, apenas intuição. Claro está que, em meios pequenos, tudo se sabe rapidamente, ainda mais porque Bonita costumava pensar alto, falando nas reuniões de família, no Rancho Folclórico que continuou a frequentar e em todos os lugares, onde chegava a sua alegria. Marido, sogros, família e aldeia em geral, tudo se virou contra Bonita que, depois de uma experiência laboral traumática, teve que se aguentar, com o que de pior as pessoas são formadas. Foi, por isso, muito maltratada, dentro e fora de casa, junto dos seus e dos outros, traída pela sua forma simples de ser, de querer, de fazer... e finalmente descobriu que, quase nunca se pode ter a vida que se quer, pois a envolvente ainda controla muita gente, numa terra do interior, quase profundo...
Fernando Pessoa: “Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.”» in http://birdmagazine.blogspot.pt/2016/03/um-sex-shop-rural.html
Roy Orbison - Oh, Pretty Woman - (from Black & White Night)
Pretty Woman - Mujer Bonita - (con Julia Roberts)
Roy Orbison on "The Dukes of Hazzard"
"Oh, Pretty Woman
Pretty woman, walkin' down the street
Pretty woman, the kind I like to meet
Pretty woman, I don't believe you, you're not the truth
No one could look as good as you, mercy
Pretty woman, won't you pardon me
Pretty woman, I couldn't help but see
Pretty woman, that you look lovely as can be
Are you lonely just like me?
Pretty woman stop awhile
Pretty woman talk awhile
Pretty woman give your smile to me
Pretty woman yeah, yeah, yeah
Pretty woman look my way
Pretty woman say you'll stay with me
'Cuz I need you, I'll treat you right
Come with me baby, be mine tonight
Pretty woman, don't walk on by
Pretty woman, don't make me cry
Pretty woman, don't walk away, hey, ok
If that's the way it must be, ok
I guess I'll go on home, it's late
There'll be tomorrow night, but wait
What do I see?
Is she walkin' back to me?
Yeah, she's walkin' back to me
Oh, oh, pretty woman"
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