21/12/16

Arte Literatura - Na Suiça, o Dr. Bircher, médico psiquiatra, tinha uma clínica para senhoras nervosas - Land House Murpfli, em Obervil, onde praticava a «cura pelo espírito».


(Clinica do Dr. Bircher, Land House Murpfli, em Obervil, onde se curavam senhoras nervosas, com Poesia de Teixeira de Pascoaes)


(Dr. Bircher em na Casa de Pascoaes, em Gatão, Amarante)



«Na Suiça, o Dr. Bircher, médico psiquiatra, tinha uma clínica para senhoras nervosas - Land House Murpfli, em Obervil, onde praticava a «cura pelo espírito».


Esse método consistia na leitura e explicação dos poemas traduzidos do meu Tio, como, por exemplo, o «Regresso ao Paraíso». essas sessões eram apoiadas pela publicação de uma revista exclusivamente dedicada à obra de Pascoaes, à qual o Dr. Bircher deu o título de «A Fonte».


Mais tarde, fundou em Engelberg, com o pensador suíço Talhoff, um círculo poético para interpretar e aprofundar o estudo da obra poética de Pascoaes. Albert Thelen, então a viver na Suiça, viria a ser convidado a ir aos Alpes para falar da vida e obra do poeta do Marão.



Bircher viria a Portugal para conhecer a casa e o ambiente em que Pascoes vivera, mas o Poeta já tinha desaparecido do mundo dos vivos.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos. 




«Regresso ao paraíso



Daqui a cem anos pode não haver Renascença Portuguesa, e pode até nem haver República Portuguesa. Caso isso seja assim, nada haverá para lamentar, desde que esteja

vivo o superior sentido que o poeta emprestou às formas terrenas, a do regresso ao paraíso; é por aí que passa o perene, não pelo restante, que é acessório, transitório e susceptível de metamorfose. Insistir na conservação de formas estanques e limitadas, tomando-as nas mãos como se do essencial se tratasse, é mais prejudicial do que benéfico: em lugar de aproximarmos a organização social da visão do poeta e da liberdade do místico, libertando-a do supérfluo e dando-lhe o sopro da vivência eterna...» 



António Cândido Franco


«Sem Poesia Não Há Humanidade



Sem Poesia não há Humanidade. É ela a mais profunda e a mais etérea manifestação da nossa alma. A intuição poética ou orfaica antecede, como fonte original, o conhecimento euclidiano ou científico. E nos dá o sentido mais perfeito e harmónico da vida. Aperfeiçoando o ser humano, afasta-o do antropóide e aproxima-o dos antropos. Que a mocidade actual, obcecada pela bola e pelo cinema, reduzida quase a uma fotografia peculiar e uma espécie de máquina de fazer pontapés, despreza o seu aperfeiçoamento moral; e, com o seu fato de macaco, prefere regressar à Selva a regressar ao Paraíso. E assim, igualando-se aos bichos, mente ao seu destino, que é ser o coração e a consciência do Universo: o sagrado coração e o santo espírito. Eis o destino do homem, desde que se tornou consciente. E tornou-se consciente, porque tal acontecimento estava contido nas possibilidades da Natureza. Sim, a nossa consciência é a própria Natureza numa autocontemplação maravilhosa. Ou é o próprio Criador numa visão da sua obra, através do homem. E, vendo-a, desejou corrigi-la, transfigurando-se em Redentor.»


Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo" 



"A uma fonte que secou


"Com teus brandos murmúrios embalaste
O decorrer dos meus primeiros dias.

E pelos teus gemidos os contaste;

Eu era então feliz e tu sofrias.

As minhas velhas árvores regaste,

O meu jardim de Abril reverdecias

E, quando as tuas lágrimas choraste,

Como a dor que hoje sofro, entenderias!

Mas, ai, tudo mudou! Longa estiagem

Bebeu, a arder em febre, as tuas águas;
Versos de água cantando a minha imagem.
Raios de sol que as fontes evaporam,
Levando para Deus as suas máguas,
Secai também os olhos dos que choram!"

(in Terra Proibida)




Regresso ao Paraíso (excerto)


Adão amava agora, com ternura,
O velho Pai celeste; e imaginava

Descobrir, numa auréola, o seu perfil,

De brancas, longas barbas agressivas,

Clamando irado contra o seu pecado,

Sobre o bronze das nuvens trovejantes! 


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