28/12/16

Amarante Literatura - Algumas notas da Biografia que Teixeira de Pascoaes fez do Imperador Napoleão, do precipício da sua Grandeza à solidão da sua morte...



«Em 1940, Pascoaes publica a sua terceira grande biografia - «Napoleão» - , que viria a ser traduzida para espanhol e alemão.

É um livro de estilo forte e imagens maravilhosas.

Pascoaes descreve com rigor as grandezas e as misérias do Imperador francês.

As suas vitórias fulgurantes e, depois, a queda, a derrota e o exílio. E, por fim, a morte, numa sucessão de imagens escaldantes:

«Cercam-nos, além dos criados, Montholon, Bertrand, a esposa que enxuga o rosto com um lenço. Todos esperam ouvir-lhe o último suspiro. Mas não o ouviram. Apenas perceberam que o silêncio da alcova se tornou, de repente, mais profundo. Eram 6 horas da tarde do dia 5 de Maio de 1821.

«A sua fisionomia rejuvenesce. E rejuvenescido se conservou, debaixo da terra, vinte anos! O mesmo Bertrand voltou a Santa Helena em 1840. E assim disse diante do ataúde violado: "Outrora era eu o novo e ele o velho; agora sou eu o velho e ele o novo!"

«Cobre-o o manto de Marengo; e tem, à cabeceira, um crucifixo, é o Cônsul e não o Imperador. E é o Cônsul que repousa nos Inválidos. É ele o mesmo que sentiu fugir-lhe o mundo dos pés e ir arrebatado pelos ares. É o Arcanjo de David, mas reproduzido em cera, a sinfonia Heróica de Beethoven, funereamente emudecida,

«Depois é o enterro, o vale de Geranium, a fonte que foi alegria da sua sede, como Betzy a dos seus olhos, e a sombra de dois salgueiros sobre uma tampa de pedra, sem data ou nome - o túmulo.

«Depois, o quebrar da mesma tampa, a ressurreição das Cinzas, o regresso, o fantástico cortejo, no Atlântico, de velas brancas com fumos pretos, ao vento.

«Depois, o féretro num barco de luto, subindo o sena. Uma águia acompanha-o nas alturas: a alma de França, L'aigle de Napoléon, e a sua auréola legendária, doirando o céu de paris e a fronte de Victor Hugo.

«Depois, a pancada do cadáver no fundo de um abismo em mármore negro.

«Desaparecido o Herói, o que resta dele, à luz do sol? A Mãe, a Plebe!» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.

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