29/12/16

Amarante Diabos - "Até ao ano de 1809 existiram no Mosteiro de S. Gonçalo duas divindades, negras, fortemente sexualizadas, simbolizando a fôrça creadora da natureza, reminiscência de antigos cultos pagãos."




«O diabo e a diaba de Amarante

Em Amarante há muitas lendas e tradições. Ainda hoje se contam várias lendas àcêrca de S. Gonçalo e as velhas solteiras ainda vão puxar pelo cordão do hábito do Santo casamenteiro das velhas. no inverno, à lareira, ainda se fala da lenda da D. Lôba.

O Diabo e a Diaba são também uma curiosa tradição da vila.

Até ao ano de 1809 existiram no Mosteiro de s. Gonçalo duas divindades, negras, fortemente sexualizadas, simbolizando a fôrça creadora da natureza, reminiscência de antigos cultos pagãos.

Até a êste ano existiram, mas os soldados de Loison, quando entraram na vila, queimaram-nos depois de, vestidos com paramentos sacerdotais roubados ao Mosteiro, os terem passeado em procissão pelas ruas de Amarante.

Quando os franceses foram expulsos de Portugal os frades dos Mosteiro encarregaram um mestre entalhador, da vila, de fazer outros dois diabos iguais aos que tinham queimado as tropas de Loison.

O mestre António Ferreira de Carvalho cumpriu admirávelmente a tarefa e, por ordem do Dom Prior do Mosteiro, fêz um furo em cada cabeça diabólica para que os diabos servissem de peanha à cruz e à umbela!

O Diabo e a Diaba tinham por parte do povo uma certa veneração e no dia 24 de Agôsto, que é o dia em que o diabo anda à sôlta (como vulgarmente se diz na vila), conta o Capitão Barros Basto num artigo publicado na «Flôr do Tâmega», de 5 de Junho de 1921, do qual extraio estes apontamentos, que a população da vila não trabalhava, como se fôsse um dia santo de guarda, e nas cabeças dos diabos costumavam aparecer várias oferendas.

Em 1870 o arcebispo de Braga, D. José Joaquim de Moura, como achasse o Diabo e a Diaba muito indecentes para estarem em convivência com os santos do Mosteiro, mandou queimá-los. Mas tal ordem do arcebispo não foi cumprida. Apenas foram mutilados os órgãos sexuais dos diabos.

Mais tarde um inglês, achando os dois diabos interessantes, comprou-os. O povo reunido protestou, mas eles lá foram para Inglaterra.

Passados tempos os diabos voltaram. Preparou-se uma recepção estrondosa. Vieram as gericas de Canadelo e os rapazes da rua vestiram-se de diabo. Teixeira de Pascoais reproduz a cena no seu novo livro intitulado Duplo passeio.

Todo o turista que vier a Amarante deve visitar estes curiosos diabos que se encontram numa das salas do antigo convento de S. Gonçalo.

Amarante, Novembro de 1941,

Manuel de Sequeira Amaral» in Revista "Portugal Económico Monumental e Artístico" da Editorial Lusitana, fascículo LIV, Concelho e Vila de Amarante.


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