10/04/18

Política de Saúde - A autora do livro "With the End in Mind: Dying, Death and Wisdom in an Age of Denial" defende que quando se usam estas palavras, as famílias não percebem que a pessoa está a aproximar-se do momento da morte.



«MÉDICA EXPLICA O QUE ACONTECE AO CORPO NO FIM DA VIDA: "MORRER NÃO É TÃO MAU COMO SE PENSA"

"Na minha humilde opinião, morrer não é tão mau como se pensa". Quem o diz é Kathryn Mannix, médica especialista em cuidados paliativos que trata pacientes com doenças incuráveis no Reino Unido.

Levar as pessoas a evitar falar sobre a morte e substituir esta palavra por eufemismos torna muito mais difícil lidar com a perda de alguém que amamos. "Deixámos de falar sobre a morte. Deixámos de usar a palavra morrer e passámos a usar outras parecidas", comenta a especialista em cuidados paliativos numa longa entrevista à BBC, esclarecendo que em vez de "morto", usa-se "falecido" e em vez de se dizer que "alguém está a morrer" diz-se que está "muito doente".

A autora do livro "With the End in Mind: Dying, Death and Wisdom in an Age of Denial" defende que quando se usam estas palavras, as famílias não percebem que a pessoa está a aproximar-se do momento da morte.

"Acho que perdemos a imensa sabedoria humana de aceitar a morte de uma maneira normal. Acho que está na hora de voltar a falar da morte e recuperar essa mesma sabedoria", assevera a médica.

É apenas um processo normal

Kathryn Mannix acredita que a morte é "como nascer", ou seja, "é apenas um processo" normal como tantos outros na vida: "A pessoa vai ficando mais cansada e desgastada. À medida que o tempo passa, dorme mais e passa menos tempo acordada."

A médica defende também que as famílias podem aprender sobre os melhores momentos para dar os medicamentos ao paciente ou deixar as visitas entrarem, sem que o doente seja incomodado durante o sono, tão importante, segundo esta especialista.

A médica britânica acredita que a morte é "um processo tranquilo", para o qual as pessoas se podem preparar e com o qual podem lidar. "E isso deve ser celebrado. Algo com que nos possamos consolar uns aos outros. (...) Morrer é algo que deveríamos recuperar, algo sobre o que deveríamos falar", acrescenta.

Para Kathryn Mannix a morte, quando acontece a dormir, é até relaxante: "As pessoas estão tão relaxadas que nem se darão ao trabalho de pigarrear, limpar a garganta, e a respiração passa por entre as pequenas quantidades de muco ou saliva na parte de trás da garganta", descreve.

"Isso pode causar um ruído estranho, que muitos chamam de estertor da morte", diz, para acrescentar logo a seguir: "As pessoas falam desse som como se fosse algo terrível, mas esse som, na verdade, diz-me que o paciente está tão profundamente relaxado, e num estado de consciência tão profundo, que nem sequer a saliva na garganta o incomoda enquanto as bolhas de ar entram e saem dos pulmões".

"Bem no fim da vida, haverá um período de respiração superficial, e uma expiração que não será seguida por uma inspiração. Por isso, a morte normal é realmente um processo tranquilo e algo que podemos reconhecer e para o qual nos podemos preparar", conclui.» in https://lifestyle.sapo.pt/saude/noticias-saude/artigos/medica-explica-o-que-acontece-ao-corpo-no-fim-da-vida-morrer-nao-e-tao-mau-como-se-pensa

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