«Agustina Bessa-Luís merecia melhor
A editora Babel retirou os livros de Agustina Bessa-Luís do mercado. A editora, cujo rosto é Paulo Teixeira Pinto, diz que a autora não vende o suficiente para continuar a ter um contrato com um fee fixo. Diz que está em negociações com a família. A filha da escritora nega que tais negociações existam e tudo isto, que é tão triste, vem relatado na revista Sábado.
Agustina Bessa-Luís está retirada desde 2007 e, ao contrário do que sempre fez desde a década de 40 do século XX, deixou de publicar um livro por ano. Conhecia-a há muito tempo, tivemos encontros felizes e irei reter sempre o lado luminoso que imperava na forma como olhava o mundo e o enorme sentido de humor.É uma grande escritora? É enorme.
O primeiro livro que li de Agustina foi, como aconteceu a tantas outras pessoas, A Sibila. E não gostei nada. Quando lho contei, riu-se. Não se ofendia com este meu descontentamento adolescente.
Relatou numa conversa à Egoísta de 2005 - conduzida pela escritora Inês Pedrosa - que uma vez estava a fazer entrevistas para uma empregada nova e que uma das candidatas, de quem estava a gostar, ficou em sobressalto quando percebeu que era a autora de A Sibila, de tal forma que pegou nas suas coisas e não terminou a entrevista. A culpa era de A Sibila. Não tinha conseguido terminar o liceu por causa do livro e não queria trabalhar ali. Agustina contava esta – e outras tantas histórias – e ria-se.
Não creio que este livro, A Sibila, tenha sido a melhor escolha dentro da vasta obra da autora, mas tenho a certeza de que as novas gerações irão encontrar na escrita incandescente de Agustina Bessa-Luís um universo único, poderoso, atractivo e com um tecido humano incomum. É preciso é que consigam ser motivados para a leitura da obra de Agustina.
No mundo dos livros é difícil ser um sucesso comercial. Em Portugal são publicados, em média, 50 livros por semana. O negócio não está fácil. O projecto editorial da Babel nunca foi extraordinário ou consistente. Foi uma promessa e, ingenuidade!, pensou-se que o facto de ter Paulo Teixeira Pinto à frente dos destinos da Babel era o suficiente para ter sucesso, por se ter presumido que existiria dinheiro para promover o catálogo.
O negócio dos livros é árduo, intrincado e, muitas vezes, misterioso. Ter dinheiro para promover ajuda muito? Não tenho a menor dúvida, mas importa que exista uma estratégia, que exista uma renovação na forma como se comunica e atrai o leitor. Os que são já leitores não precisam de grandes cenouras, mas há quem precise e esses são os novos geradores de negócio. A Babel não soube fazer. Agustina Bessa-Luís merecia melhor.» in http://24.sapo.pt/opiniao/artigos/agustina-bessa-luis-merecia-melhor
«O Português
Prefere ser um rico desconhecido, a ser um herói pobre. É melhor do que parece. O homem português é dissimulado, e fez da inveja um discurso do bom senso e dos direitos humanos.
Mas é também um homem de paixões moderadas pela sensibilidade, o que faz dele um grande civilizado.
Gosta das mulheres, o que explica o estado de dependência em que as pretende manter. A dependência é uma motivação erótica.
É inovador mas tem pouco carácter, como é próprio dos superiormente inteligentes, tanto cientistas, como filósofos e criadores em geral.
Mente muito, e a verdade que se arroga é uma culpa inibida. Vemos que ele se mantém num estado primitivo quando defende a sua área de partido, de seita e de família, à custa de corrupções e de crimes, se for preciso.
Gosta do poder mas não da notoriedade. Não tem o sentido da eternidade, mas sim o prazer da liberdade imediata. Não é democrata; excepto se isso intimidar os seus adversários.
Não tem génio, tem habilidade.
É imaginativo mas não pensador.
É culto mas não experiente.
Não gosta da lei, porque ela desvaloriza a sua própria iniciativa. É místico com a fábula e viril com a desgraça.
Admira mais a Deus do que tem fé Nele.»
Agustina Bessa-Luís, in 'Caderno de Significados'
Sem comentários:
Enviar um comentário