K.D.Lang - "Fado Hilário"
K.D. LANG - "Fado Hilário"
Maria Teresa de Noronha - "Fado Hilário"
Alberto Ribeiro - "Fado Hilário"
"Fado Hilário
A minha capa velhinha
É da cor da noite escura,
A minha capa velhinha
É da cor da noite escura
Nela quero amortalhar-me,
Quando for prá sepultura.
Nela quero amortarlhar-me, ai
Quando for p'ra sepultura.
Ela há-de contar aos vermes, ai
Já que eu não posso falar
Ela há-de contar aos vermes, ai
Já que eu não posso falar
Segredos luarizados, ai
Da minh’alma a soluçar, ai
Eu quero que o meu caixão
Tenha uma forma bizarra,
Eu quero que o meu caixão
Tenha uma forma bizarra,
A forma de um coração,
Ai!... A forma duma guitarra
A forma de um coração,
Ai!... A forma de uma guitarra"
"HILÁRIO
( 7 Janeiro, 1864 - 3 Abril, 1896 )
Augusto Hilário é, ainda hoje, uma das principais referências do Fado de Coimbra, aclamado criador do “Fado Hilário”. Pinto de Carvalho, na sua obra “História do Fado”, considera mesmo que Hilário “merece uma referência à parte, porque o seu renome transcendeu as balizas locais, galgou os muros de Coimbra e espalhou-se por todo o país.”
Augusto Hilário é, ainda hoje, uma das principais referências do Fado de Coimbra, aclamado criador do “Fado Hilário”. Pinto de Carvalho, na sua obra “História do Fado”, considera mesmo que Hilário “merece uma referência à parte, porque o seu renome transcendeu as balizas locais, galgou os muros de Coimbra e espalhou-se por todo o país.” (cf. Pinto de Carvalho: 229).
Augusto Hilário da Costa Alves nasceu em Viseu, na Rua Nova (hoje Rua Augusto Hylario), a 7 de Janeiro de 1864. Acredita-se que terá sido fruto de uma ligação pré-matrimonial e por isso foi exposto na roda da cidade. A dia 15 do mesmo mês foi baptizado como Lázaro Augusto, nome que alterou para Augusto Hilário quando recebeu o crisma, a 26 de Maio de 1877. Os seus pais, António da Costa Alves e Ana de Jesus da Mouta fizeram a escritura da sua perfilhação apenas a 8 de Junho de 1883.
Frequentou o liceu em Viseu e, em Outubro de 1886, matriculou-se em Coimbra para fazer os exames preparatórios para entrar em Medicina, os quais levou 5 anos a concluir (a 3 de Outubro de 1891). No ano seguinte matriculou-se no 1º ano de Medicina, curso que não chegou a concluir, por ser vítima de morte prematura.
Hilário chegou a Coimbra em 1886, com 22 anos, viria a falecer 10 anos mais tarde, e é neste período que, apaixonado pela boémia coimbrã e admirado de tal forma pelas suas interpretações do Fado, se torna num dos “ex-libris da serenata coimbrã” (cf. José Niza, “Fado de Coimbra I”: 86).
Augusto Hilário acompanhava-se à guitarra e, para além de cantar os seus próprios poemas, interpretava também poetas de nomeada, os quais musicava, como Guerra Junqueiro, António Nobre, João de Deus, Teixeira de Pascoaes, Fausto Guedes Teixeira e Ladislau Patrício. Por isso mesmo, José Niza considera-o “o maior representante do fado em quadras de versos nitidamente preocupados com a poética literária.” (cf. José Niza, “Fado de Coimbra II”: 88).
Diz-nos Tinop que Hilário “tinha a emoção comunicativa que electrizava um auditório e o fazia palpitar sob o encanto da sua voz de modulações cariciosas, de uma ternura enamorada” (cf. Pinto de Carvalho: 229). Uma das actuações mais celebrizadas do fadista foi a que levou a cabo no Teatro D. Maria II, a 9 de Março de 1895, numa homenagem ao poeta João de Deus, a qual foi relatada desta forma no jornal “O Primeiro de Janeiro” de 12 de Março desse mesmo ano: “O Hylário, o querido boémio das serenatas alegres e doidejantes, improvisou durante o sarau esta quadra dirigida ao poeta consagrado:
Tu já foste o que eu sou
E eu… não sou o que tu és!
O teu bandolim quebrou,
O meu, vai beijar-te os pés!
E, seguidamente ajoelhou e atirou à boca do proscénio do Teatro (…) a sua mágica guitarra que ainda vibrava os últimos sons das notas do fado estonteador. Os espectadores aplaudiram freneticamente e pediram mais trovas.” (cf. Anjos de Carvalho e Murta Rebelo: 9). Evidentemente o cantor ficou sem essa guitarra.
Após este espectáculo, a que assistiu o rei D. Carlos e a família, Hilário recebeu como oferta uma outra guitarra, para a sua actuação no Ateneu Comercial de Lisboa, em Junho desse mesmo ano de 1895. Este exemplar está actualmente exposto no Museu Académico de Coimbra, por oferta realizada em 1967 pela sobrinha-neta do cantor, Dra. Maria Alice Trindade de Figueiredo.
Por todo o país os fados que criou foram ouvidos com apreço, mas aquele que o imortalizou foi o “Fado Hilário”. Apesar de haver notícia (jornal “Defensor do Povo” de 14 de Junho de 1894) que o cantor foi o primeiro a gravar o Fado de Coimbra, não se conhecem essas gravações.
Segundo apuraram Anjos de Carvalho e Murta Rebelo, no estudo que lhe dedicaram, o “Fado Hilário Moderno” resultou da fusão de dois fados criados anteriormente, o “Fado Serenata do Hylário” e o “Último Fado”. (cf. Anjos de Carvalho e Murta Rebelo: 14).
A sua forma mais popularizada foi gravada por António Menano para a Odeon, em 1927 (recentemente reeditada pela Tradisom (1995), na colecção “Arquivos do Fado”, vol. V). Posteriormente, como fado emblemático de Coimbra, foi inúmeras vezes interpretado e gravado por intérpretes do Fado de Coimbra, mas também por grandes nomes do fado lisboeta, casos de Amália Rodrigues e Maria Teresa de Noronha.
Quando frequentava o 3º ano do curso de Medicina, durante as férias da Páscoa que passava com a sua família em Viseu, Augusto Hilário foi vitimado por uma “icterícia grave hypertermica” que levou ao seu falecimento precoce a 3 de Abril de 1896, com apenas 32 anos. Na sua certidão de óbito consta a seguinte nota: “creador do fado Hilário e poeta e boémio, notável cantador do mesmo Fado conhecido em todo o país pelo Fado Hilário”. (cf. http://www.uc.pt/antigos-estudantes/cancao_coimbra_folder/cancao_coimbra_docs/hilario). Uma publicação que homenageia de forma ímpar esta figura maior do Fado nacional.
O seu funeral foi um acontecimento a nível nacional, um grande número de admiradores marcou presença no acompanhamento do corpo para o cemitério em Viseu, atestando a grande fama que ganhara em vida. Alguns meses depois, a 12 de Junho de 1896, “surge nas bancas o “Hylário”, com a figura do fadista ao centro da 1ª página e tendo a guitarra como ex-libris.” (cf. http://www.uc.pt/antigos-estudantes/cancao_coimbra_folder/cancao_coimbra_docs/hilario).
Após a sua morte várias foram as homenagens ao criador do “Fado Hilário”, das quais destacamos: a 30 de Junho de 1979, um evento da responsabilidade da Câmara Municipal de Viseu, no qual foi atribuído o seu nome a uma rua da cidade e descerrada uma lápide na casa onde nasceu; a 1 de Dezembro de 1987, a Associação Académica de Coimbra prestou-lhe uma grande homenagem, por ocasião do I Centenário da Academia; e em 1996, a Câmara Municipal de Viseu assinalou os 100 anos da morte do cantor.
Selecção de fontes de informação:
Carvalho, Anjos de, e Murta Rebelo (1998) “Evocação de Hylário na Coimbra do seu tempo”, Edição da Sociedade Histórica da Independência de Portugal;
Lopes, Rui, “Augusto Hilário:O Fado/Canção de Coimbra e as suas figuras através dos Tempos: Antes da Primira Década de Oiro “. Página consultada em Março de 2009, http://www.uc.pt/antigos-estudantes/cancao_coimbra_folder/cancao_coimbra_docs/hilario;
Niza, José (1999), “Fados de Coimbra I”, Col. “Um Século de Fado”, Lisboa, Ediclube;
Niza, José (1999), “Fados de Coimbra II”, Col. “Um Século de Fado”, Lisboa, Ediclube;
Pinto de Carvalho (Tinop) (1984), “História do Fado”, Lisboa, Publicações Dom Quixote.» in
Última actualização: Março/2009» in http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=309
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