

'(..)Como Enfermeiro, estive hoje de greve assegurando cuidados mínimos.
Revejo-me integralmente nas reivindicações da classe. Mas pergunto-me como as outras
pessoas vêm a nossa classe, a nossa profissão, a nossa posição na sociedade. Será que não seremos o parente pobre de um sistema de saúde que só tem olhos para outros interesses…

Essas 200 horas deveriam ser pagas como extraordinárias, ou melhor ainda, deveriam ser realizadas por um dos 5 mil enfermeiros que actualmente não tem emprego. No meu serviço devem-se mais de 2000h. No meu hospital há uns dezenas de serviços e a média é nalguns casos superior.

7000 Enfermeiros.
E já nem estou a falar no aumento do numero de enfermeiros por cada turno, senão o número teria de ser ainda maior. No meu serviço, para 32 doentes, podem estar apenas 2 enfermeiros de serviço. E ao contrário do que por vezes pensamos (os enfermeiros pensam) só temos 2 mãos, 2 olhos, 2 pernas e 1 cabeça. E não somos omnipresentes.
Sou contratado à mais de 4 anos, trabalhando um pouco à margem da lei com contratos de 6 meses 'miraculosamente' renovados. Mas será que algum dia deixarão de precisar realmente dos enfermeiros para termos um contrato tipo 'hipermercado' ou pior?

Eu que ganho 6,5€ à hora, bem menos que alguns funcionárias da limpeza (sem desprimor para o seu trabalho), não me pagam horas extra. Mas pagar 2500€ por 24h de um médico, já é moralmente e legalmente aceite. Deixemos de ser hipócritas. Sou mal pago. Sinto todos os dias na pele, o peso e o risco desta profissão, que não é dar injecções e medir tensões.

Formação adicional é sempre condicionada pelos serviços e instituições, num país que quer ter miúdos com computadores por todo o lado, num país em que se não formos doutores não somos ninguém, mas apelar a uma formação contínua, tendencialmente gratuita, é só para outras classes. A qualidade afinal é para outros verem. O doente que se trame.
Se tenho um curso de suporte básico de vida, devo-o a mim. 200€ e tem de ser renovado em 2-3 anos.

Se quero ser especialista, terei de ter pelo menos mais 6000€ de propinas para pagar. E depois, esperar que me aceitem numa instituição, que abram concursos, que se desbloqueiem verbas, etc. Um médico depois de médico torna-se especialista praticamente sem ir à escola em 6 anos. A prática é quase tudo. Nós seremos muito diferentes?
Se quero tirar uma pós-graduação ou mestrado, arrisco-me a queimar as pestanas e tirar tempo à família, não esquecendo mais 3000€ ou 6000€ de propinas. Em troca recebo mais 0€ ao fim do mês. É isto um estímulo ao desenvolvimento? É assim que a profissão está. É assim que nos sentimos.
E vós que opinião têm dos Enfermeiros?'» Texto gentilmente enviado pela minha Colega e Amiga, Professora Elsa Cerqueira.
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Nós, professores, temos a tendência em espelharmos no discurso o nosso descontentamento face ao estado de menoridade mental do Estado.
ResponderEliminarMas, eis um testemunho - curiosamente publicitado no Dia do Trabalhador - que nos convida a reflectir e a nos descentrarmos. Lamentavelmente, a exploração - de que falas, Helder, no post anterior -, é uma realidade em todos os sectores sócio-profissionais. A ausência, por parte dos Ministérios (Saúde, Educação...)no investimento e reconhecimento na formação contínua séria e credível permite-nos concluir que nunca foi a qualidade ou qualificação dos respectivos profissionais que interessou aos governantes. Sob o jugo de uma política redutoramente economicista, esquece-se intencionalmente o essencial: o culto da razão, da formação e da sensibilidade possibilitariam a nossa elevação/evolução.Seriam a força motriz da construção de cidadãos críticos e interventivos. O que serve e, sobretudo, a quem serve a desvalorização do humano, ou seja, a manutenção do estado de acefalia massificada?
Entretanto, desbarata-se o erário público em carros de luxo, em aeroportos, em Tgv, campos de futebol, etc, etc.! Auto-retrato de um País em Decomposição!
Esperemos que os Portugueses acordem desta letargia... senão estamos a entrar num longo túnel escuro, do qual poderemos não mais conseguir sair!
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