«Ao filho que continuava a advogar em Amarante, veio juntar-se agora o Pai, amargurado com o regicídio. Refugiado na sua Casa de Pascoaes, nunca mais a abandonou.
Em 1909, Pascoaes publica «Senhora da Noite». É um poema de intimismo e sensibilidade, tocante de amor e ternura, com um sabor lendário. Um poema fantástico, cheio de beleza e evocação:
«Aí vem a noite, erma donzela, senhora minha.»
É neste livro que Pascoaes define a Felicidade de um modo sublime e rigoroso, profundamente:
«Que é Felicidade? É descobrirmos,
Fora de nós, um sonho redentor,
E com ele, de súbito, fugirmos,
Para mais longe do que o próprio Amor!
É tocarmos com as nossas mãos a nossa esperança,
E sentir o seu peso; e a gente a ver
Que se curva sob ele e que se cansa,
Até cair de rastos e morrer!»
Já na «Vida Etérea» definira a dor como ninguém. Assim nos dava a imagem perfeita do conteúdo de dois sentimentos opostos:
Divina Tragédia
«O universo é infinita solidão
Onde a sombra fantástica do ser
Divaga numa eterna exaltação.
A vida é dor. Sofrer é conhecer.
Só os olhos que choram sabem ver.
A lágrima é que vê; os olhos não.
Os olhos são Calvário, negra cruz,
E a lágrima é presença de Jesus...»
E ainda muito antes no «Sempre», já nos dissera de maneira inesquecível o que é chorar:
«Que é chorar?
É ver o sol, lágrima de oiro,
Pela face de Deus a deslizar.»» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.
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