«Árvore mais velha do país tem 2.850 anos
Conquistas e reconquistas. Guerras e períodos de paz. Relatos de amor e até da industrialização - se esta oliveira falasse, tinha quase três mil anos de histórias para contar. Mas há mais «árvores notáveis» espalhadas pelo país.
«Esqueça as imagens de uma floresta encantada: um restaurante japonês, um centro de estudos, uma lavandaria, um café e uma loja de acessórios para automóveis são os inusitados vizinhos da árvore mais antiga do país. Com uma idade estimada de 2850 anos, a árvore - uma oliveira - encontra-se ao lado de uma rotunda em Santa Iria da Azóia, Loures, e passa praticamente despercebida a quem não for com o propósito de a encontrar ou saiba de antemão da sua existência.
Localizada num terreno privado que rodeia uma pequena vivenda, há uma tabuleta a indicar a «árvore milenar» que é bem conhecida dos moradores do bairro da Covina. Mas mesmo esses, só souberam da proveta idade da velhinha oliveira há - comparando com a idade da mesma - um piscar de olhos. «Só há quatro ou cinco anos é que a oliveira foi sinalizada e soubemos que era uma árvore com quase 3 mil anos», diz Isabel Benzido que mora na rotunda há mais de uma década. «Até tem lá uma placa, entre e leia», insta-nos o senhor Ventura, 72 anos, que morou toda a vida no bairro.
A idade impressiona, é um facto. Mas ser vizinho da árvore mais antiga do país - que remonta ao tempo de Viriato e da invasão dos romanos à Lusitânia - acaba por a tornar num cromo tão repetido que faz, literalmente, parte da paisagem. «Olhe, confesso que já nem reparo nem penso nisso: É banal», diz Isabel. Se para os moradores esta é, basicamente, só mais uma oliveira, para os curiosos é um motivo de interesse que justifica a deslocação. «De vez em quando vejo aqui gente a tirar fotos», afiança o senhor Ventura.
A oliveira da Azóia pode ser a árvore (certificada) mais velha, do país, mas há pelos menos mais seis com uma idade superior ou igual à de... Jesus Cristo. E, além de milénios de existência, estas árvores têm outra característica singular: são todas oliveiras. Facto que num país de produção de azeite e onde os olivais fazem parte da paisagem, do imaginário popular e até dos cancioneiros - quem não conhece a ‘Oliveirinha da Serra’? - só nos pode parecer natural.
Segundo uma lista enviada ao SOL pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a segunda oliveira mais velha do país - com uma idade estimada de 2010 anos - está no aldeamento turístico de Pedras d’El Rey em Tavira. Há ainda três oliveiras com dois mil anos em Azeitão (Setúbal) e outras duas com a mesma idade em Serpa (Beja).
Pelas razões óbvias, todas estas oliveiras estão classificadas como árvores de interesse público. Mas há mais «árvores monumentais» em Portugal.
Árvores notáveis para todos os gostos
Se em idade nada bate as oliveiras, o tamanho fica para os castanheiros. A árvore mais larga do país é efetivamente um castanheiro e está em lugar de Vales, no Concelho de Vila Pouca de Aguiar (Vila Real) e tem «um diâmetro à altura do peito de 4,61 metros», explica o ICNF.
É ao ICNF quem cabe, efetivamente, a classificação dos exemplares mais especiais do país. Além do tamanho e idade, há outras características a ter em conta na hora de entregar o estatuto de «monumental» a uma árvore. «Os critérios necessários à classificação de interesse público aludem, de forma genérica, ao porte, ao desenho, à idade; à raridade, ao relevante interesse público da classificação, à necessidade de cuidadosa conservação de exemplares ou conjuntos de exemplares arbóreos ou vegetais de particular importância ou significado natural, histórico, cultural ou paisagístico», explica a autoridade.
Por exemplo, da lista de «árvores notáveis» do país - e que podem ser consultadas na página do ICNF - fazem parte exemplares contemporâneos «da nossa nacionalidade», como é o caso do chamado ‘carvalho do presépio’, localizado no Mosteiro, concelho de Castro Daire, distrito de Viseu.
«Há ainda exemplares contemporâneos de tempos áureos da nossa História como os descobrimentos marítimos e as conquistas de Portugal no mundo», exemplifica o ICNF. Neste caso, falamos de uma alfarrobeira com 600 anos que se encontra na Quinta da Parra, concelho de Olhão (Faro) ou de um sobreiro quinhentista na freguesia de Ançã, Coimbra.
Os mistérios costumam servir, de forma geral, para tornar tudo mais apetecível e neste caso não é exceção visto que há árvores que têm interesse público por serem «testemunhos diretos de lendas, mitos e de factos históricos relevantes e curiosidades». Desta lista faz parte, por exemplo, a tão famosa azinheira da Cova da Iria, em Fátima, ou o ‘carvalho da forca’ da Praça do Município em Montalegre, Vila Real.
A lista integra ainda espécimes que, simplesmente, têm formas bizarras - da próxima vez que for ao jardim França Borges, no Príncipe Real, repare na forma cipreste-do-bucaço que ali existe. Asseguramos que, mesmo que não conheça a espécie, vai ser difícil não perceber do que estamos a falar.
Leis que remontam ao tempo dos... visigodos
Proteger e classificar as árvores mais especiais não é, no entanto, uma invenção do nosso século ou sequer do século passado.
Segundo as investigadoras Graça Saraiva e Ana Ferreira de Almeida que escreveram um roteiro sobre as árvores classificadas em Lisboa (‘Árvores na Cidade’, ed. By The Book) já durante a ocupação visigótica (século VIII) existia a ideia de que era necessário proteger as árvores, «constando então no Código Visigótico medidas de proteção aos sobreiros e pinheiros», lê-se no livro.
Muito mais tarde, em 1914, foi publicada a primeira «legislação para a preservação de árvores notáveis». É, no entanto, desde 1938 - quando surge o regime jurídico ainda hoje seguido - que se começam a «inventariar e classificar o arvoredo de interesse público», disse ao SOL o ICNF.» in http://sol.sapo.pt/artigo/525489/arvore-mais-velha-do-pais-tem-2-850-anos
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