"O Grande Escritor Camilo
Castelo Branco, refere-se a Fregim
O grande escritor português, Camilo
Castelo Branco, refere-se às suas passagens por Amarante, no percurso Vila
Real-Porto e vice-versa, de modo a que a afamada tradição hospitaleira e
posição estratégica, da nossa então Vila e agora Cidade de Amarante, ficassem
registadas de forma indelével, no Romance: "Vinte Horas de Liteira".
(…) “Pernoutamos, em Amarante, numa
estalagem, onde eu, annos antes, tinha visto tres bellas creaturas, filhas de
uma grave e redonda mulher, dona da hospedaria.” (…)
Na qualidade de grande apreciador
da extraordinária Obra Literária de Camilo Castelo Branco, onde o seu
poder narrativo de romancista de excelência, o notabilizou como um descritor
das paisagens social e física do século XIX Português, com uma clarividência
fantástica na associação do ficcional com o real e que, designadamente, também
abordou a nossa região e as suas vivências, quer enquanto viajante assíduo
pelas nossas estradas e pousadas, quer enquanto personagem interclassista que
teve orgulho de privar, por exemplo, com o famoso salteador “Zé do Telhado”, na
sua estadia forçada na Cadeia da Relação, por motivos passionais, devido à sua
paixão proibida por Ana Plácido, que resultou em crime de adultério.
Ainda mais orgulhoso fiquei na referência
que faz no mesmo romance, à sua passagem por Fregim, onde contou a história
ficcionada de “Manoel Brazileiros”, estribada em acontecimentos e personagem
concretas.
(…) “Vimos nascer o sol do dia
seguinte nas alturas de Pidre. Dalli, com o oculo do meu amigo, procurei entre
as ramagens as ameias do manuelino portal da casa de Frigim. Esta casa fôra de
José Augusto Pinto de Magalhães, cavalheiro que abriu no Porto, ha dez annos,
uma chronica de infortúnios, e se fechou com ella n'uma valia do cemiterio do
Alto de S. João, em Lisboa. Naquella casa tinha eu passado uma noute, ha doze
annos. Referi a Antonio Joaquim a tragedia mysteriosa de José Augusto. Cahia a
proposito contal a aqui ao leitor; mas, no mez que vem, ha-de boiar «no rio do
negro esquecimento e eterno sono» mais um livro meu, desvelando a face
enigmatica d'aquella grande desventura, que o mundo impiedoso quiz explicar com
uma calunia maior.
Quando avistamos o edifício
magestoso de Alemtém, o meu amigo mandou-me apontar o oculo um tôpo de outeiro,
em que se avistava uma cruz alpendrada, com um lampadario pendente do docel de
abobada.
— Tem um bonito romance aquella
cruz — disse Antonio Joaquim. — Chamo-lhe eu bonito, porque encerra uma
sublimada philosophia. Eu vim alli, ha tempos, comprar um potro n'aquella
freguezia, e conheci, em casa do comprador, um sujeito, pequeno lavrador, a
quem os da terra chamam o «Manoel brazileiros. Pelos trajos, encodeados de
terra e remendados, entendi que o epitheto de brazileiro era epigramma popular
com que a gentalha costuma alcunhar os patricios que voltaram pobres do
Brazil.” (…)
Aqui se fala de uma personagem que,
encantado por estórias de gente que enriqueceu com a emigração para o Brasil,
quis também para si esse “El Dorado”, mas que só encontrou o destino de muitos
aventureios em busca do desconhecido e em locais remotos, o cruel reverso da
medalha da sorte… no fundo, Camilo Castelo Branco aborda nessa estória, a
desmesurada ambição humana de enriquecer facilmente que, neste caso, incidiu
sobre um pobre rapaz de Fregim, um tal Manuel do Lugar da Mó, Fregim, Amarante.
De facto, Fregim foi sempre um
local de passagem dos viajantes que vinham de Trás-os-Montes para o litoral e
vice-versa. O lugar da Pousada e a Casa de Pousada, não a pertencente ao
Visconde da Granja e que posteriormente pertenceu ao Comendador José de Abreu,
mas antes a Casa de Pousada, no mesmo local, que ainda pertence atualmente à
família Sousa, de Pousada.
Em miúdo tive o
privilégio de brincar e de visitar bastante esta casa, onde ainda eram visiveis
os vestígios dos locais de amarração dos cavalos e de estacionamento das
carruagens que lá paravam, para o repasto e descanso merecido dos ocupantes e
dos animais que os transportavam. Tem também uma enorme cozinha, uma grande
sala de jantar e muitos quartos e arrecadações, o que ajudou à sua função de
Pousada.
Recordo aqui esta prova documental
da importância estratégica de Amarante, que paulatinamente
vamos vilipendiando, mas que penso que não devemos deixar morrer…
pelo contrário, deveremos tentar por todos os meios possíveis inverter, a nosso
favor, a favor de uma Amarante que Dom Gonçalo encontrou na sua viagem e que,
não mais abandonou, tornando-se o seu patrono! Quanto ao romance de Camilo,
aconselho vivamente a sua leitura."
Helder Barros (http://informaticahb.blogspot.com)
(Artigo a publicar na edição desta semana do Jornal de Amarante)
(Amarante, Fregim, Casa da Pousada, no Lugar com o mesmo nome)
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