11/06/18

F.C. do Porto História - O Porto saiu à rua a 11 de junho de 1978, há precisamente 40 anos, quando uma vitória nas Antas sobre o Sporting de Braga permitiu ao FC Porto sagrar-se campeão nacional pela sexta vez, 19 anos após a última conquista.



«A MÃE DE TODAS AS CONQUISTAS

A 11 de junho de 1978, o FC Porto bateu o Sporting de Braga por 4-0 e sagrou-se campeão nacional ao fim de 19 anos.

O Porto saiu à rua a 11 de junho de 1978, há precisamente 40 anos, quando uma vitória nas Antas sobre o Sporting de Braga permitiu ao FC Porto sagrar-se campeão nacional pela sexta vez, 19 anos após a última conquista. Quatro décadas depois, a distância já nos permite avaliar cabalmente o significado daquela vitória, mas para compreendê-lo é preciso recuar mais um pouco no tempo.​

A 22 de março de 1959, disputava-se a última jornada da Liga portuguesa, com os dois primeiros classificados em igualdade pontual e com uma diferença de golos muito aproximada: o FC Porto deslocava-se a Torres Vedras para enfrentar o Torreense; o Benfica recebia a CUF. Os Dragões venceram por 3-0, mas tiveram de aguardar longos minutos pelo final do jogo na Luz, onde o árbitro Inocêncio Calabote se esforçava por entregar o título à equipa da casa. Os azuis e brancos acabaram mesmo por ser campeões, mas nunca esqueceriam aquela espera agoniante que durou 12 minutos. Estariam todos muito longe de imaginar que naquela tarde de euforia estava a arrancar uma travessia do deserto muito mais longa e penosa: o principal troféu nacional só voltaria às Antas 19 anos depois.

Entre 1959 e 1976, ano em que Jorge Nuno Pinto da Costa se torna responsável pelo departamento de futebol, o FC Porto teve cinco presidentes e mais de 20 treinadores, alguns até de assinalável prestígio (György Orth, Aymoré Moreira, Otto Glória, Béla Guttman, Fernando Riera), mas não conseguiu ganhar mais do que uma Taça de Portugal, em 1968. Nesse mesmo período, os Dragões conquistaram tantos títulos como o Belenenses, o Leixões ou o Sporting de Braga, e menos do que o Boavista ou o Vitória de Setúbal. Era, por isso, quase hercúlea a tarefa que Pinto da Costa e o homem que escolheu para liderar a equipa, José Maria Pedroto, tomaram em mãos no arranque de 1976/77.

O que esta dupla empreendeu a partir de então quase pode resumir-se em apenas duas palavras: profissionalização e modernização. Num espaço de tempo muito curto, o FC Porto transformou-se radicalmente, passou à frente do seu próprio tempo e tornou-se muito próximo daquilo que a generalidade dos clubes só viria a ser bem mais tarde. São muito diversas as marcas dessa evolução: simplificação da estrutura dirigente do futebol, que passou a ficar concentrada nas figuras do treinador e do diretor responsável; desenvolvimento de um discurso público de denúncia do centralismo crónico do país e das suas consequências no universo do desporto; definição de uma nova política de atribuição de prémios aos atletas, com o intuito de fomentar as vitórias e a produção ofensiva; realização de treinos de conjunto à porta fechada; encerramento do bar do Estádio das Antas, localizado junto ao balneário da equipa, onde os adeptos podiam abordar livremente os jogadores; realização de treinos de conjunto à porta fechada.

No campo, também foi tudo diferente, com Pedroto, um treinador que segundo Rodolfo, capitão dessa equipa, “estava a léguas de todos os outros”, a marcar pela diferença desde cedo: o futebol apoiado e com respeito pela bola, a exigência dos treinos, o estudo dos adversários, a capacidade de mexer na cabeça dos jogadores da própria equipa e dos rivais, através daquilo a que mais tarde se convencionou chamar mind games – tudo isto foi uma novidade que começou cedo a produzir frutos. Em 1976/77, o terceiro lugar não foi satisfatório (ainda que se deva ter em consideração que nos anos anteriores daquela década o FC Porto tinha sido três vezes quarto classificado, uma vez quinto e outra nono), mas a conquista da Taça de Portugal foi um prenúncio do que estava para vir. Rodolfo não tem dúvidas: “Aquela equipa já não tinha nada a ver com o passado. Estávamos a formar uma equipa com os pensamentos do Pedroto. Era importante ganharmos um título, e ganhámos a taça”.

O mote para a temporada seguinte foi lançado por Pedroto: “Só a vitória final é objetivo. Não importa que nos apodem de obcecados, de fanatizados e de outros termos semelhantes”. A época arrancou com uma vitória caseira sobre o Vitória de Setúbal, mas logo à segunda jornada surgiu uma derrota com o Estoril. Acabou por ser uma bênção, como reconheceu Rodolfo: “Nós vínhamos de ganhar a Taça e isso já não acontecia há muito tempo. Ficámos com o rei na barriga. O jogo do Estoril trouxe-nos de volta à realidade. Percebemos que se não fossemos a equipa que tínhamos sido no ano anterior, não íamos ganhar”. Seguiu-se um empate a duas bolas na Alemanha, frente ao poderoso Colónia, e a partir daí a equipa encarrilou: sucederam-se 21 vitórias e sete empates para a Liga, um caminho imaculado até à final da Taça de Portugal e uma boa campanha europeia, que incluiu a eliminação do Manchester United (goleado por 4-0 nas Antas).

No que toca ao título, tudo se decidiu no fim. A três jornadas do encerramento da Liga, o FC Porto recebeu o Benfica com um ponto de vantagem, sabendo que teria o campeonato no bolso caso não perdesse. E não perdeu: aos três minutos, Simões teve a infelicidade de marcar um autogolo, mas os Dragões estiveram por cima durante quase todo o jogo e empataram perto do fim, com um golo de Ademir. A homologação do título aconteceu a 11 de junho de 1978, novamente nas Antas, frente ao Sporting de Braga. Rodolfo recorda essa tarde: “Nunca pensámos em falhar. O que dizíamos no balneário era que íamos cilindrá-los, abafá-los, fazer golos rápidos, dar porrada neles. Sabíamos que aquele resultado era importante e estávamos focados nele. Chegámos lá, demos quatro e até podiam ter sido mais”.

Todos os títulos são especiais, mas o de 1977/78 tem um estatuto diferente. 19 anos depois da última conquista e quatro anos após o 25 de abril, a revolução chegou ao futebol. A partir dali, nada foi igual: o FC Porto partiu para essa temporada com cinco Ligas e quatro Taças de Portugal no palmarés; desde então, venceu 22 Ligas, 12 Taças, 20 Supertaças, duas Ligas dos Campeões, duas Ligas Europas, duas Taças Intercontinentais e uma Supertaça Europeia. E houve muito mais para além dos títulos: o FC Porto assumiu-se definitivamente como a voz de uma região e, a partir do Norte e com base no sucesso internacional, alcançou reconhecimento em todo o país e no mundo; os clubes não mais se organizaram da mesma maneira; o próprio jogo mudou, em grande medida, com base nos princípios daquela equipa. A época de 1977/78 foi uma espécie de laboratório em que o FC Porto mostrou a Portugal e ao mundo o que viria a ser o futebol do futuro. E, por isso, aquela conquista foi a mãe de todas as vitórias.

Uma versão desenvolvida deste trabalho e a entrevista integral a Rodolfo Reis serão publicadas na revista Dragões, a que pode aceder aqui, na versão digital..» in 

(Futebol: O título de 1977/78)


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