07/11/13

Arte Literatura - A Escritora de Telões, Amarante, Professora Anabela Borges, deixa-nos um cheirinho do seu próximo livro: "Lugares e Palavras de Natal"

Foto: ANABELA BORGES (a publicar neste Natal, pela Lugar da Palavra Editora)

(excerto)
Dias antes, as filhas mais novas foram apanhar o musgo – almofadas verdinhas coladas às pedras como lapas a cobrir o chão frio e húmido do monte. Levaram uma navalha e demoraram-se numa canseira apreciada em vagares próprios: viram as minhocas e outros vermes na pele da terra; fizeram estalar poças de água envidraçadas pelo gelo, rodando os tacões das botas até ficar uma papa acastanhada; rasgaram as copas dos sentieiros pelo prazer de testar o gume da navalha; suspenderam a respiração com as gotas que pendiam das pontas do arvoredo a ressumbrar num eco de cristal. Depois de comerem a merenda, na floresta fantástica, cheia de sombras, pequenas clareiras e vapores que se soltavam do centro da terra, onde se falava por meio de fumos mágicos e onde, à noite, andavam os gnomos, regressaram com um cesto de verga cheio de musgo alto e fofo a cheirar a terra.  

Livro: Lugares e Palavras de Natal
* Presépio Gabinete de Artesanato MEP/FF, elaborado para a ilustração da capa* - Um mimo!

«ANABELA BORGES (a publicar neste Natal, pela Lugar da Palavra Editora)
(excerto)

Dias antes, as filhas mais novas foram apanhar o musgo – almofadas verdinhas coladas às pedras como lapas a cobrir o chão frio e húmido do monte. 

Levaram uma navalha e demoraram-se numa canseira apreciada em vagares próprios: viram as minhocas e outros vermes na pele da terra; fizeram estalar poças de água envidraçadas pelo gelo, rodando os tacões das botas até ficar uma papa acastanhada; rasgaram as copas dos sentieiros pelo prazer de testar o gume da navalha; suspenderam a respiração com as gotas que pendiam das pontas do arvoredo a ressumbrar num eco de cristal. 

Depois de comerem a merenda, na floresta fantástica, cheia de sombras, pequenas clareiras e vapores que se soltavam do centro da terra, onde se falava por meio de fumos mágicos e onde, à noite, andavam os gnomos, regressaram com um cesto de verga cheio de musgo alto e fofo a cheirar a terra. 

Livro: Lugares e Palavras de Natal
* Presépio Gabinete de Artesanato MEP/FF, elaborado para a ilustração da capa* -» in https://www.facebook.com/anabela.borges.900


Rui Veloso - "Presépio de lata"


"Presépio De Lata
Rui Veloso

Três estrelas de alumínio
A luzir num céu de querosene
Um bêbedo julgando-se césar
Faz um discurso solene

Sombras chinesas nas ruas
Esmeram-se aranhas nas teias
Impacientam-se gazuas
Corre o cavalo nas veias

Há uma luz branca na barraca
Lá dentro uma sagrada família
À porta um velho pneu com terra
Onde cresce uma buganvília

É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells,

Oiçam um choro de criança
Será branca negra ou mulata
Toquem as trompas da esperança
E assentem bem qual a data

A lua leva a boa nova
Aos arrabaldes mais distantes
Avisa os pastores sem tecto
Tristes reis magos errantes
E vem um sol de chapa fina
Subindo a anunciar o dia
Dois anjinhos de cartolina
Vão cantando aleluia

É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells,

Nasceu enfim o menino
Foi posto aqui à falsa fé
A mãe deixou-o sozinho
E o pai não se sabe quem é

É o presépio de lata

Jingle bells, jingle bells"

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