(Fotografia do Poeta na escadaria da Casa de Pascoaes, já perto do fim...)
«Não temia a morte. Detestava o seu aparatoso cenário. Negros crepes em pomposa procissão isso é que o impressionava. Mas a morte, a grande libertadora, fora deusa da sua inspiração. Sempre a cantara em versos feitos de eternidade:
Que vai arrefecendo
E escurecendo,
Para que nele surja uma outra luz mais bela,
A luz espiritual.
É preciso baixar à negra sepultura,
Para que a humana e pobre criatura
Alcance o eterno amor.
É preciso sofrer o último estertor,
Chorar a lágrima final...!»
Mas não chorou nenhuma lágrima, nem teve qualquer estertor. Apagou-se. O seu corpo adormeceu profundamente criando silêncio, sombra e vazio, enquanto o seu espírito, em aceso clarão, desvenda novos mistérios.
Ao adoecer teve logo a antevisão da morte. Desânimo e desapego era o que nos mostrava o seu rosto macerado, os gestos lassos.
Trabalhava ainda, à pressa, como quem tem medo de não chegar ao fim!» in "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.
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