16/08/13

Arte Literatura - O Dr. Pacheco Pereira brinda-nos com alguns escritos de Guerra Junqueiro, tão incrivelmente atuais, que nos fazem lembrar que Portugal é Futebol, Fátima e o nosso Fado de sempre, que já Camões tão bem descreveu...



«APRENDER COM GUERRA JUNQUEIRO

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. (...) 

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. 

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. 

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.» in http://abrupto.blogspot.pt/2013/08/aprender-com-guerra-junqueiro-um-povo.html


Conta-mEncanto - Canção Perdida (Guerra Junqueiro)


"Canção Perdida
Escrito por G. Junqueiro / L. P. Oliveira.
LETRA: Guerra Junqueiro (adaptação)
MÚSICA: Luís Pedro Oliveira


Alguém de mim se não lembra    
Nas terras d´além do Mar.    
    
Ó Morte, dava-te a vida    
Se tu lha fosses levar.    
    
O meu Amor escondi-o    
Numa cova ao pé do Mar.    
    
Morre o Amor  vive a Saudade    
Morre o Sol, olh´ó Luar.    
    
--- solo ---    
    
Quem dá ais ao Rouxinol    
Lá para as bandas do Mar ?    
    
É o meu Amor, que na cova    
Leva as noites a chorar.    
    
Ó meu Amor dorme, dorme    
Na areia fina do Mar,    
    
Que em antes da Estrela D´Alva    
Contigo m´irei deitar.     
    

--- solo --"

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