«APRENDER COM GUERRA JUNQUEIRO
Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. (...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.» in http://abrupto.blogspot.pt/2013/08/aprender-com-guerra-junqueiro-um-povo.html
Conta-mEncanto - Canção Perdida (Guerra Junqueiro)
"Canção Perdida
Escrito por G. Junqueiro / L. P. Oliveira.
LETRA: Guerra Junqueiro (adaptação)
MÚSICA: Luís Pedro Oliveira
Alguém de mim se não lembra
Nas terras d´além do Mar.
Ó Morte, dava-te a vida
Se tu lha fosses levar.
O meu Amor escondi-o
Numa cova ao pé do Mar.
Morre o Amor vive a Saudade
Morre o Sol, olh´ó Luar.
--- solo ---
Quem dá ais ao Rouxinol
Lá para as bandas do Mar ?
É o meu Amor, que na cova
Leva as noites a chorar.
Ó meu Amor dorme, dorme
Na areia fina do Mar,
Que em antes da Estrela D´Alva
Contigo m´irei deitar.
--- solo --"
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