25/08/13

Poesia - A Minha Colega e Poetisa, Dra. Anabela Borges, interpela-nos com o extraordinário Poema: "Poema do Rio"



"Poema do rio

E se um pássaro me cantar,
Das manhãs,
A luz da aurora,
Num sopro frio;

E se o céu de estio 
Me trouxer nuvens 
De incandescências várias;

E árvores que,
Milenares, 
Trago sempre por companhia
Chorarem sobre mim luzes de orvalho, 
Gotas melosas, cristalinas,
Tombando em suave melodia
Sobre o espelho inquieto 
Que me sei ser…

E nesse ar difuso
Que me envolve os sentidos num lampejo,
Em ansiedades de crescer,
Ah!, passasses tu sobre a ponte, 
Que não te vejo!
Passasses sobre o tempo gasto,
Os olhos presos em lânguidas nostalgias
E o perfume que soltasses da pele… um rasto,
Teu corpo enlaçado sobre a sombra. 

Que eu liberto os braços que se retorcem 
Por força de se arquejar em mim o casario,
Abro as palmas das mãos,
Margens de uma alma que não tenho minha,
Que de tantos é, com tantos caminha…
Estendo o olhar ao vazio.

E inquieto embora,
Ansioso embora,
Fico a ver-te passar,
Que sou rio."

Anabela Borges, Poetisa

*Fotografia de Carlos Moura*

https://www.facebook.com/anabela.borges.900?fref=ts



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