28/09/13

Poesia - Como o Poeta Teixeira de Pascoaes, nos revela de forma sublime, o quanto temos desta terra maravilhosa: "Amarante".



"Canção duma sombra 

Ah, se não fosse a névoa da manhã 
E a velhinha janela, onde me vou 
Debruçar, para ouvir a voz das cousas,
Eu não era o que sou.

Se não fosse esta fonte, que chorava, 
E como nós cantava e que secou... 
E este sol, que eu comungo, de joelhos,
Eu não era o que sou.

Ah, se não fosse este luar, que chama 
Os espectros à vida, e se infiltrou, 
Como fluido mágico, em meu ser, 
Eu não era o que sou.

E se a estrela da tarde não brilhasse; 
E se não fosse o vento, que embalou 
Meu coração e as nuvens, nos seus braços, 
Eu não era o que sou.

Ah, se não fosse a noite misteriosa 
Que meus olhos de sombras povoou, 
E de vozes sombrias meus ouvidos, 
Eu não era o que sou.

Sem esta terra funda e fundo rio, 
Que ergue as asas e sobe, em claro voo; 
Sem estes ermos montes e arvoredos, 
Eu não era o que sou."

Teixeira de Pascoaes


Carlos Carranca - "Canção de uma Sombra"


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