"OURO ENVELHECIDO
Porque estás sentada nos braços da solidão,
e as tuas horas são feitas de silêncios,
e querias ter a casa preenchida
de vidas que foram tão tuas,
e das tarefas infindas
que te enchiam os dias.
Querias.
Porque querias percorrer as ruas
com o ânimo renovado
no regresso a casa.
E querias que as presenças
que não te esperam mais
te curassem as feridas,
as fendas que se abriram em ti,
como as que o tempo abre na terra.
Dizem que tens a idade maior,
que é feita de ouro.
Será. Mas é de um ouro envelhecido,
como o ouro das arrecadas,
que guardas apertadas nas mãos,
sinal da tua passagem, outrora,
passado apagado pelo vento que passa,
de mão em mão.
E já nada brilha como o ouro novo, agora.
Querias.
Mas como pode parecer tão simples
o que querias?
Pássaros que era costume esperarem-te
de bicos abertos no ninho?
Memórias. São memórias,
uma seita de memórias embrulhadas em bruma
e com um cheiro escarninho, acre e doce do que foste feita.
Não consegues lembrar-te do dia
em que a casa ficou vazia,
e tudo se degradou, até quase se desmoronar,
porque todos os pássaros foram voando
para longe de ti, até deixarem de regressar.
E tu ficaste, ouro envelhecido,
empoeirado de branco como os teus cabelos,
dependurada de ti, nesse silêncio enevoado,
com uma pergunta nos olhos
e um fio de lágrima que desce lento,
como a água de um ribeiro
que seja estreito de leito.
Ficas, nessa delonga,
dependurada por um fio,
para seres apenas sombra."
Anabela Borges, Poetisa
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esta poesia -- talqualmente se vê -- e bem bonita...não é minha...antes fora...abraço amigo ed parabéns à poeta amanabebla
ResponderEliminarObrigado, Amigo Poeta Ochôa, por me alertar para o lapso de autoria! Bem haja!
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