20/09/12

Arte Poesia - O Meu Amigo e Poeta Ângelo Ochôa interpela-nos com o Poema: ‘Meus amigos, que desgraça nascer em Portugal.’



"‘Meus amigos, que desgraça nascer em Portugal.

Boi da paciência, que sempre reencontro,
amo-te e detesto-te até ao vómito.
Quisesse afagar-te os vis corninhos,
e ririas melífluo, como quem padece coceguinhas.
Conheço-te bem demais, engenhoso atávico ruminante.
Conheço e reconheço ‘teu minucioso e porco ritual’.
E ainda aí estás, a ti igual: Anos 0, anos 60.
Marras agora, como já antes marravas,
no tempo em que te toparam O’Neill e Ramos Rosa.
Pronto resmungas, desmaias, fazes que desfaleces;
como em derriço; como se te sorrisse um incisivo.
Deixa-me que te diga: Com os 60, que conto, na passagem,
já não estou pra ti virado.
Mas, se é esse teu melhor gozo, envolve-me de blandícias,
revolvendo-me p’lo bandulho.
Estou farto.
Desafias-me a que nem a relance te suspeite.
Tal nojo me mete a tua baba.
Tais emboscadas tramas a poético transporte, meu tesouro.
Cerre os dentes firme, Cego A Alta Luz.
A que aspiras, mansarrão?
Abre os olhos e vê:
Esses não são já os melhores dias.
Ateimas ’inda?
Continuas, boi boizinho?
Pertinaz aderente,
sei que só sumirás quando, por minha vez, me der o fora.
Espera sentado,
que vou ali, e já morro."

Ângelo Ochôa - "Boi da Paciência"


Ângelo Ochôa - "Boi da Paciência", escrito in Caleidoscópio.


2 comentários:

  1. ...como é 'nosso' mundo de hoje, bom amigo! às 6h 35' da matina, no 'becas' a meu pedido e com minha digital sony já velhinha, paulo marco filmou e pelas 22:20 pm após consulta google da receita da muamba de galinha, a pedido da otília, surpreendo o post do informaticahb. com um abstracto geométrico a ILUSTRÁ-LO. tristeza da desgraça nascer em Portugal rezava António nOBRE. paradoxo português direi eu: ninguém vai a lado nenhum. que isto é muito bom. vale helder barros. aquele abraço

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  2. Amigo Poeta: este Poema representa de forma fiel e lírica!
    Quis eu com uma representação abstrata do caos do Boi da Paciência, tentei dar mais Belo, ao Belo Poema que escreveu, mas a minha tentativa fica sempre muito aquém da Obra de Ochôa: O Poeta da Humanidade com Deus!

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