30/12/23

Arte Poesia - Pascoaes descreveu, em tempos, António Nobre como “um dos maiores poetas que a mulher e a terra portuguesa têm dado à luz do dia".




«ANTÓNIO NOBRE – “PENAFIEL, CIDADE DE REPOUSO DE ANTO” 
30/01/2023


Que pitoresca era a jornada!


Logo, ao subir da madrugada,


Prontos os dois para partir:


-Adeus! adeus! é curta a ausência,


Adeus! — rodava a diligência


Com campainhas a tinir!


(…)


E, na subida de Novelas,


O rubro e gordo Cabanelas


Dava-me as guias para a mão:


Isso … queriam os cavalos!


Que eu não podia chicoteá-los…


Era uma dor de coração.


Depois, cansados da viagem,


Repoisávamos na estalagem


(Que era em Casais, mesmo ao dobrar…)


Vinha a Sr. a Ana das Dores


«Que hão-de querer os meus Senhores?


Há pão e carne para assar…»


Oh! ingénuas mesas, honradas!


Toalhas brancas, marmeladas,


Vinho virgem no copo a rir…


O cuco da sala, cantando…


(Mas o Cabanelas, entrando,


Vendo a hora: «É preciso partir».)


(António Nobre, Viagens na minha terra In Só, 1966, p.73-76)


«Ao contemplarmos o rosto de António Nobre em fotografias avistamos um personagem com uma postura romântica, elegante, mas ao mesmo tempo misteriosa, com uma tez luminosa e uns olhos arredondados que transparecem alguma divagação e tristeza.

Parte da sua personalidade terá sido moldada pelos ambientes rurais de Borba de Godim e Recesinhos, terras Natal do seu pai e da sua mãe respetivamente.

Fonte: Espólio António Nobre.

Biblioteca Pública Municipal do Porto.

A Recesinhos retomava com alguma frequência para visitar a sua avó materna e para buscar inspiração para a sua escrita. A viagem até esta região implicava maioritariamente a passagem por Penafiel, onde por diversas ocasiões apeou na estação de comboio de Novelas e seguiu caminho a cavalo até às terras da sua infância. Este percurso é relatado no poema de introdução do presente artigo, um diário de bordo poético que descreve paisagens, estados de espírito, personagens locais, aromas, sabores e sentimentos vividos por Nobre aquando destas visitas.

Penafiel terá sido uma cidade de passagem, mas ao mesmo tempo de alguma permanência. Por esta terra instalou-se por diversas temporadas na Estalagem das Irmãs Andrade (atual casa Bolinhos de Amor), em Casais Novos[1].

Um espaço que frequentou com mais assiduidade depois dos primeiros sintomas de tuberculose (1892)[2] e que o recebeu nos últimos dias de vida.

A 18 de março de 1941, a cidade de Penafiel prestou-lhe homenagem, através da inauguração de um busto localizado no Jardim do Calvário. Um acontecimento que contou com a presença de alguns familiares do poeta, com a declamação de poemas e com figuras solenes como o poeta amarantino Teixeira de Pascoaes.

Pascoaes descreveu, em tempos, António Nobre como “um dos maiores poetas que a mulher e a terra portuguesa têm dado à luz do dia. (…) Ele não alcançou o pleno Espírito e desprezou sempre a Matéria.

Daí o seu campo de ação emotiva limitado ao sítio em que os corpos principiam a descondensar-se em almas. Ele não viu a Nuvem nem a Onda, mas a passagem desta para aquela.

A sua obra poética marca realmente um período de transição.”» (Teixeira de Pascoaes, 1988, p. 29) in https://www.staytotalk.pt/2023/01/30/antonio-nobre-penafiel-cidade-de-repouso-de-anto/


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