08/05/15

História de Portugal - Como anda muita gente com saudosismo da Monarquia Tradicional Absoluta, eis aqui um contributo eloquente, do nosso Grande Escritor, Camilo Castelo Branco, no seu livro "Perfil do Marquês do Pombal".



"(...) E a rainha, então, comovida pelo seu confessor, assinou o seguinte decreto, que é a página mais aviltante da vida do marquês do Pombal:

Por justos motivos que me foram presentes, julguei não convir ao meu real serviço que nele continuasse o marquês do Pombal no exercício de secretário de estado dos negócios do reino, ordenando-lhe que saísse da minha corte, e fizesse a sua assistência na vila de Pombal; não esperando que depois desta demonstração se atrevesse com afectada e frívola ocasião a formar uma contrariedade em um pleito civil que se lhe movia a fazer uma apologia do seu passado ministério, a qual fui servida desaprovar pelo meu real decreto de 3 de Setembro de 1779. E, mandando-o ouvir e interrogar sobre vários e cargos que contra ele resultaram, não só se não exonerou deles, mas antes com as suas respostas e diferentes averiguações a que mandei proceder, se qualificaram e agravaram mais as suas culpas:

O que, sendo examinado por uma junta de ministros a que me pareceu encarregar este negócio, foi vencido que o dito Marquês do Pombal ERA RÉU E MERECEDOR DE EXEMPLARES CASTIGOS; a o que porém não mandei proceder atendendo às graves moléstias e decrepidez em que se acha, lembrando-me mais da clemência do que da justiça, e também porque o mesmo marquês me PEDIU PERDÃO, DETESTANDO O TEMERÁRIO EXCESSO QUE COMETERA

Pelo que sou servida perdoar-lhe as PENAS CORPORAIS QUE LHE DEVIAM SER IMPOSTAS, ordenando-lhe que se conserve fora da corte na distância de vinte léguas enquanto por mim não for determinado o contrário, deixando porém ilesos e salvos todos os direitos e justas pretensões que possa ter a minha coroa, e fazendo igualmente os que deviam ter alguns dos meus vassalos para que em juízos competentes possam conseguir e serem indemnizados das perdas, danos, e interesses em que o dito Marquês os tiver prejudicado; porque a minha real intenção é só PERDOAR-LHE A PENA AFLITIVA DA SATISFAÇÃO DA JUSTIÇA, e não a satisfatória das partes, e do meu património real; podendo as mesmas partes, e os meus procuradores régios usarem dos meios que forem legitimamente competentes contra a casa do referido Marquês assim em sua vida  como depois da sua morte. A mesa do desembargo do paço o tenha assim entendido.

Queluz, 16 de Agosto de 1781.

COM A RUBRICA DA RAINHA. (...)"
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A corrupção dos valores e dos costumes, parece-me que foi transversal a todos os regimes políticos que tivemos e isso não nos enobrece enquanto povo... assusta bastante, é a defesa do corporativismo que a ditadura de Salazar tanto defendeu...


(Marquês de Pombal)

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