23/09/08

Religião - Santo Agostinho pelas mãos de Piero della Francesco!



«Santo Agostinho

Piero della Francesca (c.1420-1490)
c.1465
Têmpera sobre madeira dechoupo
Aquisição (leilão da Colecção Burnay), 1936
Inv. 1785 Pint

Adquirido na década de 1880-90 pelo coleccionador Henry Burnay no mercado antiquário de Paris, o Santo Agostinho é um dos painéis que originalmente constituíram o políptico pintado por Piero della Francesca para a igreja dos Eremitas de Santo Agostinho em Borgo Sansepolcro (Itália), obra contratada em 1454 e concluída pelos finais da década seguinte.
O retábulo teria ao centro uma representação da Virgem entronizada com o Menino (painel desaparecido) ladeada por quatro pinturas de idêntico formato hoje dispersas por vários museus: à esquerda, situava-se este Santo Agostinho e o S. Miguel da National Gallery, Londres; do lado direito, inscreviam-se o S. João Evangelista da Frick Collection, New York, e o S. Nicolau Tolentino do Museu Poldi Pezzoli, Milão. Segundo as propostas de reconstituição mais coerentes, o políptico apresentaria também uma predela composta por vários painéis de pequenas dimensões. Porém, desse elemento retabular apenas subsistem quatro pinturas: Crucificação, Santa Mónica e Santo Agostiniano, todas na Frick Collection, e Santa Apolónia, da National Gallery de Washington.
O Santo Agostinho é uma excepcional demonstração da genialidade de Piero, seja pela profunda e solene monumentalidade da figura do Doutor da Igreja e pela extraordinária simplicidade da construção do espaço pictórico, seja pelo magistral virtuosismo de certos pormenores da composição, como a transparente estrutura da vara de cristal do báculo, signo da autoridade episcopal. Seja, ainda, pelos episódios bíblicos que decoram o sebasto do pluvial - uma sequência historiada que abarca a Infância e a Paixão de Cristo -, em que a execução pictural de cada uma das cenas se adapta ao movimento do tecido, sugerindo a natureza têxtil dessas imagens ao negar-lhes uma extrema e límpida definição óptica.No firmal da capa inscreve-se a Ressurreição e, vértice superior da própria figura, a mitra acolhe, por fim, uma imagem de Cristo Triunfante e Ressurrecto. O paramento de Santo Agostinho constitui, assim, uma súmula doutrinal por imagens, uma espécie de compêndio aberto que faz de contraponto ao livro fechado que o santo enverga.
A moldura da obra, embora adoptando um vocabulário classicista, não é original. Foi aplicada à pintura depois da sua incorporação no museu.» in http://www.e-cultura.pt/DestaquesDisplay.aspx?ID=987

«Agostinho de Hipona

Santo Agostinho de Hipona
Santo Agostinho no detalhe de um vitral em St. Augustine, Florida, Estados Unidos da América
Bispo, Padre da Igreja e Doutor da Igreja (Doctor Gratiae)
Nascimento 13 de Novembro de 354 em Tagaste, Argélia
Falecimento 28 de Agosto de 430 em Hipona, Argélia
Venerado pela maioria das comunidades cristãs
Festa litúrgica 28 de Agosto
Padroeiro: teólogos, agostinianos, cervejeiros e impressores.
Polêmicas Combateu as heresias do Maniqueísmo, do Donatismo e do Arianismo. A sua posição relativamente aos Judeus.

Aurélio Agostinho (do latim, Aurelius Augustinus), Agostinho de Hipona, São Agostinho ou Santo Agostinho[1] (Tagaste, 13 de Novembro de 354 — Hipona, 28 de Agosto de 430) foi um bispo católico, teólogo e filósofo, considerado pelos católicos santo e Doutor da Igreja.

Vida

Agostinho cresceu no norte da África colonizado por Roma, educado em Cartago. Foi professor de retórica em Milão em 383. Seguiu o Maniqueísmo nos seus dias de estudante e se converteu ao cristianismo pela pregação de Ambrósio de Milão. Foi batizado na Páscoa de 387 e retornou ao norte da África, estabelecendo em Tagaste uma fundação monástica junto com alguns amigos. Em 391 foi ordenado sacerdote em Hipona. Tornou-se um pregador famoso (há mais de 350 sermões dele preservados, e crê-se que são autênticos) e notado pelo seu combate à heresia do Maniqueísmo. Defendeu também o uso de força contra os Donatistas, perguntando "Por que (...) a Igreja não deveria usar de força para compelir seus filhos perdidos a retornar, se os filhos perdidos compelem outros à sua própria destruição?" (A Correção dos Donatistas, 22-24)
Em 396 foi nomeado bispo assistente de Hipona (com o direito de sucessão em caso de morte do bispo corrente), e permaneceu como bispo de Hipona até sua morte em 430. Deixou seu mosteiro, mas manteve vida monástica em sua residência episcopal. Deixou a Regula para seu mosteiro que o levou a ser designado o "santo Patrono do Clero Regular", que é uma paróquia de clérigos que vivem sob uma regra monástica.
Agostinho morreu em 430, durante o cerco de Hipona pelos Vândalos. Diz-se que ele encorajou seus cidadãos a resistirem aos ataques, principalmente porque os Vândalos haviam aderido ao arianismo, que Agostinho considerava uma heresia.

Agostinho e os Judeus

Agostinho escreveu, no Livro 18, Capítulo 46, da Cidade de Deus, "Os Judeus que O assassinaram, e não criam nele, porque coube a Ele morrer e viver novamente, foram ainda mais miseravelmente assolados pelos romanos, e completamente expulsos do seu reino, onde estrangeiros já os tinham dominado , e foram dispersos pelas terras (tanto que não há lugar onde eles não estejam), e são assim, pelas suas próprias Escrituras, um testemunho para nós de que não forjámos as profecias a respeito de Cristo." 1. Escreveu também uma das principais obras que apoia a crença na Trindade.
Agostinho considerou a dispersão importante, porque ele acreditava que isto era um cumprimento de certas profecias, provando assim que Jesus era o Messias. Isto deve-se ao facto de Agostinho crer que os judeus que foram dispersados eram inimigos da Igreja Cristã. Ele também cita parte da mesma profecia, que diz "Não os mates, para que o meu povo não se esqueça; espalha-os pelo teu poder". Algumas pessoas usaram as palavras de Agostinho para atacar os judeus, enquanto outros as usaram para atacar cristãos. Veja cristianismo e anti-semitismo.

Influência como teólogo e pensador

Na história do pensamento ocidental, sendo muito influenciado pelo platonismo e neoplatonismo, particularmente por Plotino, Agostinho foi importante para o baptismo do pensamento grego e a sua entrada na tradição cristã e, posteriormente, na tradição intelectual europeia. Também importantes foram os seus adiantados e influentes escritos sobre a vontade humana, um tópico central na ética, que se tornaram um foco para filósofos posteriores, como Schopenhauer e Nietzsche, mas ainda encontrando eco na obra de Camus e Hannah Arendt (ambos os filósofos escreveram teses sobre Agostinho).
É largamente devido à influência de Agostinho que o cristianismo ocidental concorda com a doutrina do pecado original e a Igreja Católica sustenta que baptismo e ordenações feitos fora dela podem ser válidos (a Igreja Católica Romana reconhece ordenações feitas na Igreja Ortodoxa Oriental e Ocidental, mas não nas igrejas protestantes, e reconhece baptismos de quase todas as igrejas cristãs). Os teólogos católicos geralmente concordam com a crença de Agostinho de que Deus existe fora do tempo e no "presente eterno"; o tempo só existe dentro do universo criado.
O pensamento de Agostinho foi também basilar na orientação da visão do homem medieval sobre a relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do conhecimento, mas entendia que a fé em Cristo vinha restaurar a condição decaída da razão humana, sendo portanto mais importante. Agostinho afirmava que a interpretação das escrituras deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo natural. Escritos como sua interpretação do livro bíblico do Génesis como o que chamaríamos hoje de um "texto alegórico" iriam influenciar fortemente a Igreja medieval, que teria uma visão mais interpretativa e menos literal dos textos sagrados.
Tomás de Aquino tomou muito de Agostinho para criar sua própria síntese do pensamento grego e cristão. Dois teólogos posteriores que admitiram influência especial de Agostinho foram João Calvino e Cornelius Jansen. O Calvinismo desenvolveu-se como parte da teologia da Reforma, enquanto que o Jansenismo foi um movimento dentro da Igreja Católica; alguns Jansenistas entraram em divisão e formaram a sua própria igreja.
Agostinho foi canonizado por reconhecimento popular e reconhecido como um doutor da Igreja. O seu dia é 28 de Agosto, o dia no qual ele supostamente morreu. Ele é considerado o santo padroeiro dos cervejeiros, impressores, teólogos e de um grande número de cidades e dioceses.

Escritos

* Da Doutrina Cristã, 397-426
* Confissões, 397-398
* A Cidade de Deus, iniciado c. de 413, terminado 426.
* Da Trindade, 400-416
* Enquirídio
* Retratações
* De Magistro
* Conhecendo a si mesmo

Cartas

* Da Catequese dos não instruídos
* Da Fé e do Credo
* Fé concernente às coisas que não se vêem
* Do benefício da crença
* Do Credo: Um sermão para catecúmenos
* Da continência
* Da bondade do casamento
* Da Santa Virgindade
* Da bondade da viuvez
* Da mentira
* Para Consêncio: Contra a mentira
* Do trabalho dos monges
* Da paciência
* Do cuidado de ser tido pelos mortos
* Da Moral da Igreja Católica
* Da Moral dos Maniqueístas
* Das duas almas, contra os Maniqueístas
* Actos ou disputa contra Fortunato, o Maniqueísta
* Contra a Epístola de Maniqueu chamada Fundamental
* Resposta a Fausto o Maniqueísta
* Concernente à Natureza de Deus, contra os Maniqueístas
* Do Baptismo, contra os Donatistas
* Resposta às cartas de Petiliano, bispo de Cirta
* A correcção dos Donatistas
* Méritos e remissão do pecado e baptismo de crianças
* Do Espírito e da carta
* Da Natureza e Graça
* Da perfeição e rectidão do homem
* Dos procedimentos de Pelágio
* Da graça de Cristo, e do pecado original
* Do casamento e concupiscência
* Da alma e sua origem
* Contra duas cartas dos Pelagianos
* Da graça e livre arbítrio
* Da repreensão e graça
* A predestinação dos santos/Dom de perseverança
* O Sermão do Monte de Nosso Senhor
* A harmonia dos Evangelhos
* Sermões sobre lições seleccionadas do Novo Testamento
* Tratados sobre o Evangelho de João
* Sermões sobre a Primeira Epístola de João
* Solilóquios
* As enarrações, ou exposições, dos Salmos

Agostinho foi um autor prolífico em muitos géneros -- tratados teológicos, sermões, comentários da escritura, e autobiografia. As suas Confissões são geralmente consideradas como a primeira autobiografia; Agostinho descreve sua vida desde sua concepção até à sua então (com cerca de cinquenta anos) relação com Deus, e termina com um longo discurso sobre o livro de Génesis, no qual ele demonstra como interpretar as escrituras. A consciência psicológica e auto-revelação da obra ainda impressionam leitores.
No fim da sua vida (426-428?) Agostinho revisitou os seus trabalhos anteriores por ordem cronológica e sugeriu que teria falado de forma diferente numa obra intitulada Retracções, que nos daria uma imagem considerável do desenvolvimento de um escritor e os seus pensamentos finais, além de se arrepender de ter utilizado demais filósofos pagãos.

A exegese

A exegese de Ambrósio está centrada no Antigo Testamento, e o jovem ouvinte Agostinho declara ter frequentemente encontrado aí resposta para questões perturbadoras. Não se conhece dele a não ser um único escrito consagrado ao Novo Testamento, aliás o mais volumoso. O texto de Lucas é estudado sistematicamente, como o são, no caso do Antigo Testamento, a narrativa da criação, doze Salmos e as 22 estrofes do Salmo 118. Habitualmente, o texto anunciado por Ambrósio é antes um pretexto. Ora reagrupa deliberadamente um florilégio de citações bíblicas comentadas em torno de um tema: a morte, a fuga dos séculos, a felicidade..., ora prolonga o texto de partida mediante outro texto da Escritura no qual se demora longamente: o reencontro de Isaac e Rebeca desemboca definitivamente no Cântico dos cânticos. Muitas vezes a personagem principal do texto torna-se a encarnação de uma virtude, e o comentário torna-se um tratado sobre a paciência, a castidade ou o jejum... Esse desenvolvimento supõe uma interpretação alegórica. Ambrósio, sem negá-lo, ultrapassa constantemente os factos históricos. Nos quatro poços cavados pelos servos de Isaac (Gn 26 15-24), ele descobre não verdades “terrestres”, mas do “espiritual”, “a profundeza de uma ciência abissal”, uma tripla sabedoria inspirada nas três partes da filosofia antiga, que ele situa além do racional: moral, física (ou metafísica) e mística, divisão essa encontrada pelo menos quinze vezes na sua obra. Algures, ele vê nos personagens e acontecimentos do Antigo Testamento as realidades da vida de Cristo. Noé e as águas do dilúvio são “tipos” que anunciam a “verdade”: Jesus, seu sangue e as águas do Baptismo. Alegoria e tipologia misturam-se numa procura progressiva de Deus, que tem seus altos e baixos, enquanto espera a visão. Já se chamou muitas vezes a atenção para os empréstimos de Ambrósio na sua obra Os quatro poços (cf. Gn 26,15-24) terem sido explicados precedentemente por Ambrósio no seu contexto (IV, 22), em que o primeiro poço, chamado poço da visão, é identificado com a parte racional da alma.

Moral, física e mística

Do mesmo modo, no próprio livro do Cântico, Salomão exprimiu claramente esta tripla sabedoria, embora tenha sido nos Provérbios que ele disse que aquele que quisesse entender a sabedoria devia escrevê-la três vezes para si mesmo (cf. Pr 22,20).
No Cântico, pois, a esposa diz ao esposo: “Como és belo, meu querido, como és gracioso! Como é verdejante o nosso leito! As colunas de nossa casa são os cedros e os lambris, os pés de zimbro” (1,16-17). Podemos entender esta passagem da moral. Onde, pois, Cristo descansa com a Igreja, senão nas obras de seu povo? Porque onde reinavam lascívia, orgulho, iniquidade, Jesus diz: “O Filho do Homem, porém, não tem onde recostar a cabeça” (Mt 8,20).
A respeito da física, que ficamos nós a saber? Ela diz: “Sento à sua sombra, assim como eu desejo; o seu fruto é doce ao meu paladar” (Ct 2,3). Porque aquele que se eleva acima das coisas terrestres e para o qual as coisas deste mundo estão mortas, porque o mundo está crucificado para ele e ele para o mundo (Gl 6,14), despreza tudo o que existe debaixo do sol e de tudo foge.
A respeito da mística ele diz: “Faz-me entrar na taberna, seu estandarte sobre mim é Amor” (Ct 2,4). Porque assim como a vinha rodeia a sua parreira, assim também Jesus, como uma vinha eterna, rodeia de alguma maneira o seu povo, com os braços do amor.
Surlsaac et l’âme, IV, 27-29, PL, 14, 512 C-153 A = CSEL, 32/1, pp. 659, 21-660, 16, trad. G. Nauroy, a partir de 5. Sagot.

O Problema do Mal

Em seu livro 'O Livre-arbítrio', Santo agostinho tenta provar de forma filosófica de que Deus não é o criador do mal. Pois, para ele, tornava-se inconcebível o fato de que um ser tão bom, pudesse ter criado o mal. A concepção que agostinho tem do mal, esta baseada na teoria platônica, assim o mal não é um ser, mas sim a ausência de um outro ser, o bem. O mal é aquilo que “sobraria” quando não existe mais a presença do bem. Deus seria a completa personificação deste bem, portanto não poderia ter criado o mal. No diálogo com seu amigo Evódio, Agostinho tenta explicar-lhe de que a origem do mal esta no Livre-Arbítrio concedido por Deus. Deus em sua perfeição, quis criar um ser que pudesse ser autônomo e assim escolher o bem de forma voluntária. O homem, então, é o único ser que possuiria as faculdades da vontade, da liberdade e do conhecimento. Por esta forma ele é capaz de entender os sentidos existentes em si mesmo e na natureza. Ele é um ser capacitado a escolher entre algo bom (proveniente da vontade de Deus) e algo mal (a prevalência da vontade das paixões humanas). Entretanto, por ter em si mesmo a carga do pecado original de Adão e Eva, estaria constantemente tendenciado a escolher praticar uma ação que satisfizesse suas paixões (a ausência de Deus em sua vida). Deus, portanto, não é o autor do mal, mas é autor do livre-arbítrio, que concede aos homens a liberdade de exercer o mal, ou melhor, de não praticar o bem.

A moral

Se a obra exegética de Ambrósio, divulgada sob este nome, é preponderante, nem por isso o bispo de Milão deixa de ser essencialmente um moralista. Ele é, antes de tudo, o autor de uma célebre exposição geral de moral prática. Sobre os deveres dos clérigos, inscreve-se na moldura do tratado Sobre os deveres, de Cícero: “Ele adoptou ou adaptou o título da obra de Cícerna na sua formulação textual”, escreve G. Madec, mas a crítica, mesmo admitindo alguma influência “provavelmente (...) mais importante do que aquela que Ambrósio não teria querido”, destaca a sua vontade de independência e considera os empréstimos mais literários que filosóficos. Por meio do honesto (I), do útil (II) e de seus conflitos (III), o autor trata, em especial, sobretudo na primeira parte, das grandes virtudes que ele chama de cardeais: a prudência, a justiça acompanhada da beneficência, da benevolência e até da gratidão, a fortaleza e a temperança. Mas a Bíblia insufla outra alma nesse corpo e toda a actividade moral está orientada para a vida eterna. A obra, de composição fluída e de terminologia equívoca, mal emanada de Cícero e de uma Antiguidade ao mesmo tempo explorada e contestada, não é uma síntese entre o cristianismo e o estoicismo predominante, nem ‘o primeiro tratado de moral cristã, mas uma série de definições e de conselhos, na maioria das vezes tradicionais, dirigidos sobretudo aos clérigos, mas também ao povo cristão. Ambrósio é mais ele próprio num grande número de estudos e de exortações particulares. É o caso de uma parte das suas cartas, em que ele trata com Simpliciano da “verdadeira liberdade”, com o conde Studion da demência cristã no exercício da justiça, com o diácono Ireneu do bem supremo... É também ocaso, com o já vimos, de muitos escritos exegéticos, em que se assiste ao desfile da paciência com Jó, da castidade com José, do jejum com Elias, da penitência e do perdão dos grandes com David... Se procurarmos temas predominantes, poderíamos ficar, no bem, com a misericórdia e, no mal, com o abuso das riquezas. Certas formas da misericórdia aparecem já no objecto mesmo dos opúsculos e comentários enumerados. No tratado Da penitência, o autor sublinha a compaixão de Cristo, oposta à intransigência dos novacianos. Pede para si mesmo “a graça da compaixão”, que chama de “a virtude suprema”. Convida a “pesar de alguma forma a fraqueza humana nos próprios ombros em lugar de rejeitá-la”. Faz alusão à “ovelha cansada”, tema que ele trata magnificamente no final da sua Exposição sobre o Salmo 118: “Vem, pois, Senhor Jesus, procurar teu servo, procurar a ovelha cansada (...). Vem trazer a salvação à terra, a alegria ao céu”. “Os braços de Cristo são os braços da cruz”, diz ele algures. Nabot encarna precisamente o homem vítima da dureza e do egoísmo. É ocasião de páginas terríveis contra a rapacidade dos ricos: “São os vossos imensos palácios que vos enchem de orgulho? (...) Recobris os muros enquanto desnudais os homens. (...) A pedra preciosa que cintila no teu dedo poderia muito bem salvar a vida de todo um povo”. Ambrósio encontra também na história de Tobias ocasião para denunciar a usura e a avareza. Com as suas sátiras, desprende uma moral do uso dos bens terrenos em que se percebe facilmente a marca dos capadócios. Mas existe um ponto sobre o qual ele talvez insista mais do que eles no conjunto da sua obra: a comunidade original das riquezas. A tese aparece em Comentário do Hexaémeron e Sobre Nabot, em que ela pode até provir dos seus mestres gregos, mas as expressões mais vigorosas encontram-se na Exposição sobre o Salmo 118 e nos Deveres dos clérigos, tratado sistemático, em que elas são inspiradas em Cícero e, às vezes, tiradas dele literalmente.

«Vem procurar a tua ovelha”

28.(...) Vem, pois, Senhor Jesus, procurar teu servo, procurar a ovelha perdida. Vem, pastor, procurar-me, como José procurou suas ovelhas. Tua ovelha andava desgarrada enquanto tu, lá nas montanhas, habitavas. Deixa lá as tuas outras noventa e nove ovelhas e vem procurar a única que se desgarrou. (...) Vem, mas não com a vara, mas com a caridade e a mansidão do espírito. 29.Não hesites em deixar na montanha as tuas noventa e nove ovelhas; demorando nas montanhas, elas não precisam de temer a incursão dos lobos rapaces. (...) Vem procurar-me, pois eu também te procuro. Procura-me, encontra-me, toma-me contigo; leva-me. Aquele que procuras, podes encontrá-lo; digna-te a acolher aquele que tiveres encontrado e colocá-lo sobre teus ombros. Esta piedosa carga está longe de ser fastidiosa para ti, nem fastidioso este transporte de justiça. (...) Aqueles que deixaste para trás não haverão de ficar tristes; pelo contrário, darão graças pelo retorno do pecador. Vem trazer a salvação à terra, a alegria ao céu. 30.Vem procurar atua ovelha, não por intermédio de servos ou mercenários, mas vem em pessoa. Toma-me nesta carne que, em Adão, foi um fracasso; toma-me a mim, saído não de Sara, mas de Maria, Virgem incorruptível, virgem pela graça de qualquer mancha de pecado. Leva-me sobre tua cruz, salvação dos que erram, único lugar de repouso para quem está fatigado, único elemento de vida para quem morre. Exposé du Ps. 118, sermão 22, trad. D. Gorce.

A terra é de todos

A natureza derramou todas as coisas em comum para todos. Com efeito, Deus mesmo ordenou que todas as coisas fossem criadas de tal sorte que o alimento fosse comum para todos e que a terra, por conseguinte, fosse uma espécie de propriedade comum de todos. Foi, pois, a natureza que produziu o direito comum, e a usurpação (usurpatio) que criou o direito de propriedade. Ora, sobre este ponto, dizem os filósofos, “os estóicos achavam que os produtos da terra são todos criados para as necessidades dos homens e que os homens foram gerados por outros homens, a fim de que eles próprios possam ajudar uns aos outros” (Cícero, Dos deveres, 1, 7, 22). Ambrósio, Surtes
O Senhor nosso Deus quis que esta terra fosse a posse comum de todos os homens e que os frutos dela fossem destinados a todos. Mas a avidez repartiu os direitos de propriedade. É, pois, justo, se reivindicas para ti em particular uma coisa que foi posta em comum para o género humano, ou antes para todos os seres vivos, que distribuas entre pobres pelo menos alguma coisa dela, de forma que não recuses o alimento a quem deves a partilha de teu direito. Exposé du Ps. 118, VIII, 22, PL, 15, 1303 C-1304 A = CSEL, 62/5, pp. 163, 23-164, 3.
A natureza não é de forma alguma deficiente: ela deu os alimentos, não propôs vícios. Fez seus dons em comum, para que tu não reivindiques certas coisas como próprias. (...) Os elementos são dados a todos em comum. Sur l’Hexaéméron, V, 1, 2 e VI, 8,52, PL, 14, 206 C e 263 B = CSEL, 32/1, pp. 141, 16-18 e 244, 2-3.
A terra foi estabelecida em comum para todos, tanto ricos como pobres; por que então vos arrogais para vós somente, ó ricos, o direito de propriedade? A natureza não conhece ricos, ela nos gera todos pobres. Sur Naboth, 1, 2, PL, 14, 731 C, em A-G. Hamman, Riches etpauvres..., p. 220, trad. Fr. Quéré-Jalmes.
O mundo foi criado para todos, e vós, que sois uma minoria de ricos, quereis a todo o custo reivindicá-lo para vós. SurNaboth, III, 11, PL, 14, 734 B, ibid., p. 224.
Não é teu aquilo que distribuis ao pobre, estás apenas lhe restituindo o que é dele. Porque foste tu que usurpaste aquilo que é dado a todos para o bem de todos. A terra pertence a todos, e não aos ricos. SurNaboth, XII, 53, PL, 14, 747 B, ibid., p. 252. Este texto é citado pela encíclica Populorum progressio, n. 23.

A virgem fecunda na Igreja

É assim que a Igreja é imaculada em sua união, fecunda em seu parto, virgem em sua castidade, mãe em seus filhos. Ela nos gera, pois, permanecendo virgem, tendo concebido não de um homem, mas do Espírito. Gera-nos na qualidade de virgem, não na dor de seus membros, mas na alegria dos anjos. Ela nos nutre como virgem não de um leite corporal, mas do leite [da doutrina] de que fala o Apóstolo (l Cor 3,2) e que nutriu a infância ainda frágil do povo [de Deus]. Qual esposa tem mais filhos do que a santa Igreja, que é virgem em seus sacramentos, mãe em seu povo e cuja fecundidade a Escritura mesma atesta quando diz: “Ei-los aqui em multidão, os filhos da desolada mais numerosos que os filhos da desposada, diz o Senhor” (Is 54,1). É a nós que pertence aquela que não tem marido [terrestre], mas um Esposo [celeste], quer dizer, a Igreja para todos os povos, a alma para cada um daqueles que, pela palavra de Deus, sem que seu pudor seja atingido, se une ao Esposo etemal, indene, fecunda espiritualmente.


Sur les vierges, 1, 6, 31, PL, 16,197 CD, trad. L. Bouyer, ibid., pp. 544-545.


A espiritualidade

Há poucos textos em que Ambrósio se entrega a uma fria filosofia. Seja qual for o género literário, a cada momento aflora sua alma apaixonada pelo Verbo. Esse homem de acção é um espiritual que faz da partilha do fervor um dever seu: Cristo deve “viver em mim e falar em mim”, diz ele comentando 5. Lucas. As sete cartas a Horonciano são um verdadeiro curso de espiritualidade. Nelas ele pede a seus discípulos que vivam continuamente na presença de Deus: “Aquele que procura a salvação de Deus medita dia e noite”. “Medita, pois, sempre, e tem sempre nos lábios as realidades divinas. (...) Fala contigo mesmo. (...) Fala enquanto caminha. (...) Fala durante o sono.” Ele situa no centro de sua vida Cristo, que é “tudo para nós”. A perfeição encarna-se nas virgens, às quais ele consagrou quatro tratados. Dá-lhes por modelo a Virgem Maria, “imagem da castidade e ideal da virtude”. Associa-as à fecundidade universal da Igreja, esposa de Cristo, “virgem em seus sacramentos, mãe em seu povo Mas todo cristão é convidado, como as virgens, à experiência mística vivida em Cristo. Sobre Isaac e a alma é a aventura da alma humana, que se purifica das volúpias carnais para se unir à Rebeca, à sabedoria. Inversamente, Rebeca é também a alma ou a Igreja; ela é figura do Antigo Testamento, que vê vir para ela Isaac-o-Cristo. Na exposição sobre o Salmo 118, Ambrósio descreve poeticamente todos os acontecimentos da história do Verbo como tantos saltos da esposa na direcção da Igreja. Como a gazela do Cântico dos cânticos, “ele salta sobre as montanhas” que são Isaías, Jeremias, Pedro, Tiago e João. Mas, acrescenta ele, “se não podes ser uma montanha (...), sê ao menos um vale para que, sobre ti, suba Cristo”. Depois de ter “falado de Cristo e da Igreja”, passa a falar “à alma e ao Verbo”, a essa atenção em que “o Verbo, de ausente, se torna presente em nossos corações”. Assim, Ambrósio vincula sempre a união pessoal com o Verbo e a da Igreja com Cristo. Uma se faz na outra. Insiste sobre a oração na Igreja, convida a receber quotidianamente “o pão nosso de cada dia”, o corpo de Cristo: “Recebe cada dia aquilo que deve te aproveitar cada dia (...). Aquele que não merece recebê-lo cada dia não merece recebê-lo uma vez por ano”. É preciso tornar quotidiano o hoje da ressurreição. É assim que se procura a construção da Igreja, Eva mística saída do novo Adão, que será um dia “transportada ao céu”. Ambrósio permaneceu a vida toda um dignitário romano. Ardente patriota, ao Império que abandonava progressivamente seus deuses tradicionais ele apresentou o cristianismo rigoroso como religião nacional diante dos invasores heréticos. Grande deste mundo, familiar de imperadores, longe de os bajular como bispo cortesão, ele os enfrenta nobremente quando sua consciência o convida a isso, chegando a impor-lhes mais de uma vez seu ponto de vista, mas como teólogo e sempre respeitando cada um deles. Ele se serviu algumas vezes de sua autoridade e até se alegrou com ela, mas foi para favorecer a ortodoxia, com certa falta de tolerância; mas previu e denunciou o perigo da confusão de poderes. Ele, tão firme diante do erro, diante da injustiça ou de sua ameaça, mostra-se sensível aos imperadores crianças, como Graciano ou Valentiniano II, ou mesmo ao grande Teodósio: “Eu amei este homem”. Sua correspondência com a irmã Marcelina é profundamente fraternal, e ele faz um duplo elogio, todo afectuoso, de seu irmão Sátiro, que renunciara à administração pública para dirigir seu palácio episcopal. Esse aristocrata não fizera sua revolução social para se tornar amoroso dos pobres e se colocar do lado dos pequeninos? Ele sempre se confessou pecador entre os pecadores, com uma comovente humildade. O próprio Santo Agostinho atesta a benevolência desse “homem de Deus”, que o acolheu com “a caridade de um bispo”: “Comecei a amá-lo”, escreve ele. Quem não o ama? Catecúmeno Agostinho é seduzido também pela eloquência do pregador e por sua exegese espiritual do Antigo Testamento. Ambrósio deixa uma obra abundante e variada. A delicadeza de sua fé, de seu coração e de sua pena inspira-lhe páginas de uma comovente beleza, dignas de entrar nos florilégios mais selectos. Sublinha-se naturalmente que ele tomou dos que o precederam e de seus contemporâneos o melhor de suas doutrinas, às vezes até na expressão. É bem verdade que ele lhes deve muito. Mas, se é um leitor dócil de seus colegas, que ajudam a traduzir a fé de sua Igreja, não deixa de manifestar sempre a respeito de seus inspiradores uma independência crítica. Plotino, mas sobretudo Philon e Cícero não são menos fontes que modelos a contrariar, e dos quais ele parece sentir necessidade para formular e desenvolver seu próprio pensamento. Seja o que for, por sua abertura aos autores gregos, ele tem o mérito de haver colocado, com mais sedução que os tradutores, o Oriente ao alcance do Ocidente. Ambrósio, na página admirável que coroa sua exegese da obra dos seis dias, justifica o repouso de Deus: ele criara “o homem em sua perfeição”. Deus certamente descansou quando Ambrósio abriu os olhos.


Os segredos da experiência mística


A estas palavras, a alma colhe a embriaguez dos mistérios celestes, e, como que adormecida pelo vinho, e, por assim dizer, colocada num estado de êxtase e de arrebatamento, diz: “Eu durmo, e meu coração vela” (Ct 5,2). Então, surpreendida pela luz da presença do Verbo, enquanto ela repousava com as pálpebras dobradas, é despertada pelo Verbo (...). Pela quarta vez já, ele a desperta do sono, enquanto ela velava com o coração, a ponto de ouvir sempre a voz daquele que batia. Mas, tendo demorado um tanto para se levantar, por não poder alcançar a rapidez do Verbo, quando ela abre a porta, o Verbo já tinha passado. E ei-la que sai, fiada em sua palavra, para procurá-lo no meio de suas feridas, suas feridas de amor. A custo, finalmente ela o encontrou e o reteve, para nunca mais perdê-lo.
Sur lsaac et l’âme, VI, 50, PL, 14, 519 C-520 A = CSEL 32/1, 673, 21-675, 1.

Os saltos do Esposo rumo à Igreja e à alma

6.“Ei-lo, diz-nos o Cântico do esposo, que vem, semelhante à gazela”. (...) Ele salta sobre as alturas para subir até a esposa. (...) Ele salta acima de Adão; passa por cima da sinagoga, salta sobre as nações; passa por cima dos juízes. Vejamos seus saltos: ele salta do céu ao seio da Virgem, de seu seio ao presépio, do presépio ao Jordão, do Jordão à cruz, da cruz ao túmulo, do sepulcro ao céu... Agora ele ainda salta, agora ele ainda corre do coração do Pai por cima de seus santos, do Oriente ao Ocidente, do Setentrião ao Meio-Dia. 7.(...) Deus é o deus das montanhas, não dos vales. Onde salta ele? “Sobre as montanhas.” Se és uma montanha, ele salta sobre ti. Ele salta sobre Isaías, salta sobre Jeremias, salta sobre Pedro, João, Tiago. “Há montanhas ao seu redor” (51 124,2). Se não podes ser uma montanha e não tens a envergadura dela, sejas pelo menos um vale para que, sobre ti, suba Cristo e, se ele vier passar, o faça de tal modo que sua passagem te guarde sob sua sombra. 8. Falamos de Cristo e da Igreja. Falemos agora da alma e do Verbo. A alma do justo é esposa do Verbo. Se ela deseja, se ela cobiça, se ela roga, e roga assiduamente e sem cessar, se ela está inteiramente voltada para ele, parece-lhe subitamente entender a voz daquele que ela não vê. (...) 9.Não é verdade que, quando temos em vista algum ponto das Escrituras sem poder encontrar a explicação disso, parece-nos de repente vê-lo subir sobre os ensinamentos mais elevados, como sobre as montanhas, depois, parece-nos como sobre as colinas, iluminar nosso espírito, para levar até o intimo de nosso sentido o que nos parece difícil chegar a encontrar. O Verbo, a partir de então, de ausente se torna presente em nossos corações... Exposé du Ps. 118, sermão 6, PL, 15, 1269 C-1270 C, trad. D. Gorce

Da Eva carnal à nova Eva


86. (...) A mãe dos viventes é a Igreja que Deus construiu tendo por pedra angular o próprio Cristo, no qual todo o edifício está aparelhado e se eleva para formar um templo (Ef 2,20). 87. Que venha Deus, pois; que construa a mulher: a outra como ajuda de Adão, esta para Cristo; não que Cristo precise de um auxiliar, mas porque desejamos, nos, e procuramos chegará graça de Cristo por meio da Igreja. No momento ela ainda está em construção, por enquanto ela ainda se forma, por enquanto ainda a mulher está sendo moldada, por enquanto ela ainda está sendo criada. (...) Vinde, Senhor Deus, construí esta mulher, construí a cidade. Que vosso servo venha também; porque creio em vossa palavra: “E ele que construirá minha cidade” (Is 45,13). Eis a mulher, mãe de todos, eis a morada espiritual, eis a cidade que vive para sempre, porque ela não poderia morrer: é precisamente ela a cidade de Jerusalém, que agora vemos sobre a terra, mas que será arrebatada para o alto com Elias. Exposé de l’Évangile selon Luc, II, 86-88, SC, n. 45 bis, pp. 113-114, trad. G. Tissot.

A humildade de um bispo

67. Possas tu reservar-me, a mim também, ó Jesus, o cuidado de lavar teus pés, que sujaste enquanto caminhavas em mim! Possas tu apresentar-me, para que eu as lave, as manchas de teus pés, que prendi a teus passos por minha conduta! Mas onde encontrarei a água viva com a qual poderia lavar teus pés? Não tenho água, mas tenho lágrimas. Possa eu, lavando teus pés com elas, purificar-me a mim mesmo! Como fazer para que tu possas dizer de mim: “Muitos pecados lhe são perdoados, porque ele muito amou”. Confesso que minha dívida é mais considerável, mas que muita coisa me foi perdoada, a mim que fui arrancado ao barulho das querelas do fórum e às terríveis responsabilidades da administração pública para ser chamado ao sacerdócio. Temo, pois, ser considerado um ingrato se amo menos, quando muito me foi perdoado. (...) 71.Digna-te, pois, vir, Senhor Jesus, a este túmulo que sou! Lava-me com tuas próprias lágrimas, porque em meus olhos demasiado secos não encontro lágrimas suficientes para poder lavar minhas faltas. Se chorar por mim, estarei salvo. Se sou digno de tuas lágrimas, estarei livre do mau odor de todas as minhas faltas. Se eu for digno de que chores nem que seja um pouco, tu haverás de chamar-me para fora do túmulo deste corpo, dizendo: “Vem para fora!” (...) 73.Vela, Senhor, sobre teu presente; tem sobre tua custódia o dom que me fizeste apesar de minha resistência! Eu sabia que não era digno de ser chamado ao episcopado, porque eu me tinha entregado totalmente a este mundo. É por tua graça que sou o que sou. E sou, sem a menor dúvida, o mínimo de todos os bispos e o mais pobre em méritos. Mas uma vez que também eu empreendi algum trabalho por tua santa Igreja, encarrega-te dos frutos deste trabalho. Não permitas que se perca, agora que é ele sacerdote, aquele que chamaste ao sacerdócio quando ainda estava perdido. E acima de tudo, permite-nos saber partilhar do fundo do coração a aflição daqueles que pecam. E esta a virtude suprema, pois está escrito: “Não te rejubilarás sobre os filhos de Judá no dia de sua ruína e não farás grandes discursos no dia de sua tribulação”. Cada vez que se trata do pecado de alguém que caiu, que eu seja o primeiro a compadecer dele! Possa eu, em vez de me derramar em invectivas com orgulho, de preferência gemer e chorar, de tal modo que ao chorar o outro, chore também a mim mesmo, dizendo: “Tamar é mais justa do que eu!”. Sur Ia Pénitence, II, 8, 67-73, SC, n. 179, pp. 177-181, trad. R. Gryson.

O repouso de Deus no homem

Que aqui termine nossa exposição, pois o sexto dia já se terminou e a totalidade do mundo á se completou; quero falar agora do homem em sua perfeição. Nele estão contidos os princípios de todos os seres animados e de alguma maneira a totalidade do universo, e toda a beleza da criação. Decerto fazemos silêncio porque Deus repousou de todas as obras deste mundo. Repousou no retiro do coração do homem. Repousou em seu espírito, em seu pensamento. Ele tinha moldado, com efeito, um homem capaz de razão, seu imitador, rival de suas virtudes, ávido das graças celestes. Deus repousa neles, ele diz: “E para este que eu olho: para o humilhado, o que tem o espírito abatido, e que treme à minha palavra” (Is 66,1-2).
Dou graças ao Senhor nosso Deus cuja obra foi tal que ele teve de repousar dela! Ele fez o céu e não consta que tenha repousado por isso. Fez também a terra e nunca li que tenha repousado! Fez o sol, a lua e as estrelas, e nem nesse caso consta que tenha repousado. Mas eis que leio que ele fez o homem e então repousou, pois tinha feito alguém a quem ele pôde perdoar os pecados! Ou então, talvez já se tivesse antecipado o mistério da paixão futura do Senhor, ou tivesse sido revelado que Cristo repousaria como homem, ele que desde todo o sempre preparou o repouso num corpo para a redenção do homem, de acordo com o que ele próprio disse com justeza: “Deitei-me e dormi; acordei: o Senhor me sustenta” (51 3,6). L’Hexaéméron, VI, 10, 75-76, PL, 14, 272 B-273 A = CSEL, 32/1, pp. 260, 22-261, 18 (fim da exposição sem a doxologia).

Referências

1. ↑ Agostinho é um dentre os santos que é chamado tanto de "santo" quanto de "são". Normalmente, apenas os santos com a letra inicial de seu nome iniciada em vogal são chamados de "santo" (Ex. Santo Antonio), e os que possuem a letra inicial de seu nome em consoante, são chamados de "são" (Ex. São João, São Pedro)[carece de fontes?].

DILMAN, Ilham. Free Will: An Historical and Philosophical Introduction. Florence, KY, USA: Routledge, 1999.

www.fapas.edu.br/frontistes/artigos/Artigo%2006.doc

http://www.ufpel.edu.br/ich/filosofiamedieval/pdf/monografia_elisa.pdf» in Wikipédia.

Mais informações sobre este Santo, no seguinte link:
http://www.vidaslusofonas.pt/santo_agostinho.htm

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