"Poema do rio
E se um pássaro me cantar,
Das manhãs,
A luz da aurora,
Num sopro frio;
E se o céu de estio
Me trouxer nuvens
De incandescências várias;
E árvores que,
Milenares,
Trago sempre por companhia
Chorarem sobre mim luzes de orvalho,
Gotas melosas, cristalinas,
Tombando em suave melodia
Sobre o espelho inquieto
Que me sei ser…
E nesse ar difuso
Que me envolve os sentidos num lampejo,
Em ansiedades de crescer,
Ah!, passasses tu sobre a ponte,
Que não te vejo!
Passasses sobre o tempo gasto,
Os olhos presos em lânguidas nostalgias
E o perfume que soltasses da pele… um rasto,
Teu corpo enlaçado sobre a sombra.
Que eu liberto os braços que se retorcem
Por força de se arquejar em mim o casario,
Abro as palmas das mãos,
Margens de uma alma que não tenho minha,
Que de tantos é, com tantos caminha…
Estendo o olhar ao vazio.
E inquieto embora,
Ansioso embora,
Fico a ver-te passar,
Que sou rio."
Amarante, Telões, 24 de agosto de 2013.
Poetisa, Anabela Borges
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