«Em 1928, Pascoaes publicou o livro de «Memórias». Evocação e saudade, com pensamentos lindíssimos. Lembranças preciosas de um regresso às raízes na distância do tempo que passou.
A ideia de Deus está profundamente ligada à pureza da infância. Afirma: «... Porque Deus é um menino ainda! E, se Ele envelhecer, perderá o sol o último sorriso da sua luz, e as árvores nunca mais darão flor.»
A infância e a morte, os dois extremos que perturbam o Poeta. No «Verbo Escuro» dizia: «O homem, ao morrer, apaga, com o último suspiro, o mundo em que viveu.»
Agora fala da infância, quando tudo é luz. E depois evocando os tempos de Coimbra, fala dos seus companheiros estudantes e da vida no Café Lusitano, noite fora.
«E agora o Lusitano, cheio de estudantes, em redor de pequenas mesas de mármore, com chávenas de café, copos doirados de cerveja, venenos multicolores em garrafas de fantasia. Ouvem-se vozes, risos, tilintar de vidros; e vê-se um grande espelho, na parede, onde esse tumulto ansioso se desdobra em figuras irreais da mocidade.
«Lá está a mesa dos poetas. O Fausto bebe, fuma, recita, apaixonado por todas as mulheres; o Gil, com os cotovelos fincados na pedra mármore, esmaga a cara assanhada entre as mãos, como se os dentes lhe doessem. Tem uns bigodes de arame retorcidos para cima e fala quase sempre aos repelões... O Alexandre Braga, um apoio modelado em cera, pelas noites de boémia. O Hilário, trigueiro e lívido, de tacões e bigode negros, a dois meses da morte - uma estrela prestes a extinguir-se... O João Lúcio, na sua primeira fase, radiando uma luz branca de pureza.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.
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