«“Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, faz hoje 50 anos. E a BLITZ esteve em Abbey Road
Nos míticos estúdios londrinos, Giles Martin, filho de George Martin e autor da nova remistura de Sgt Pepper's explicou como tentou perceber “a intenção” dos Beatles. A BLITZ esteve lá.
Cheio como um ovo, o estúdio 2 de Abbey Road afadigava-se, no passado mês de abril, para ouvir falar Giles Martin. Aos 47 anos, o músico, produtor e ator acaba de assinar uma nova remistura de um dos álbuns mais emblemáticos de sempre: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band que, a propósito dos 50 anos da edição original, regressou recentemente às lojas, numa série de edições com várias novidades.
Perante uma plateia de jornalistas de todo o mundo, o filho de George Martin, que já deixou a sua marca em numerosas empreitadas relacionadas com os Beatles, puxou pela memória para contar histórias sumarentas relacionadas com os Fab Four, recorrendo ainda à mais moderna tecnologia para ilustrar as diferenças entre a versão que todos conhecem de "Lucy in the Sky with Diamonds" ou "Getting Better" e aquelas que, a partir de 26 de maio, poderemos escutar na reedição do álbum de 1967, disponível em quatro versões: 1 CD, 2 LP, deluxe (2 CD) ou super deluxe (4 CD + 1 DVD + 1 Blu-ray).
"Não consigo falar e mexer no laptop ao mesmo tempo", brincou o britânico, segundos antes de, frente ao seu Mac, começar a selecionar algumas das faixas em que trabalhou, com o fito de partilhar e, na medida do possível, explicar o som "mais luminoso" da reedição. "Hoje em dia, já não ouvimos álbuns", comentou a certa altura.
"Bem, talvez vocês, que estão aqui hoje, ainda ouçam, mas cada vez acontece menos. E o Sgt. Pepper's é um álbum que nos leva a tantos sítios em apenas 38 minutos, e que tem tanta inovação e ideias lá dentro", elogia. "O mais fascinante nos Beatles é que eram eles a criar os seus sons. O meu pai participava [no processo], mas quem estava no estúdio eram eles, com as suas ideias, a fazer barulho. Foi isso que quisemos mostrar com os extras [que incluem conversas em estúdio]: que, no fundo, isto é tudo muito simples. É só inovação e toque humano", resume o inglês, que claramente herdou a paixão do pai pelos heróis de Liverpool.
Ao longo desta missão, na qual garante ter usado sempre doses generosas de "cuidado, carinho e atenção", o produtor tentou "entender a intenção" de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr quando, em 1966, começaram a gravar Sgt. Pepper's neste mesmo estúdio - e a essa intenção inicial aplicou a tecnologia hoje disponível.
"Creio que este é o álbum em que os Beatles abraçaram pela primeira vez o estúdio, em que perceberam que o estúdio era o seu recreio", considera. Libertos das obrigações da estrada, que abandonaram em 1966, os quatro músicos - acompanhados pelo "membro honorário", George Martin - entraram em Abbey Road para canalizar as ideias mais díspares. "O meu pai, que faleceu no ano passado, sempre sentiu que este disco marcava o pináculo da sua colaboração com os Beatles", partilha. "O universo do grupo movia-se incrivelmente depressa. Eles viviam numa bolha e, ao mesmo tempo, num universo excitante que evoluía tão rapidamente! E o Sgt. Pepper's foi o corolário da colaboração entre os Beatles e o meu pai - ele funcionava como um funil gigantesco", exemplifica.
Os Beatles em 1967
"Eles tinham uma data de ideias ali às voltas, por andarem enfiados em digressão e serem uma banda pop. Depois, pegavam nas ideias e tornavam-nas mais esquisitas. [Com a ajuda do meu pai], lá conseguiram filtrar tudo e fazer um disco que se tornou o Sgt. Pepper's." Ainda que as novas misturas tornem o som mais 'amplo', a prioridade continua a ser a mesma: a canção. "Aqui, não há samples, truques ou espelhos", afiança. "Eram só rapazes, numa sala, a fazer barulho. Um barulho bom."
Na versão deluxe, os fãs encontrarão o disco remisturado por Giles Martin e um segundo disco com maquetes e versões alternativas, sequenciadas na mesma ordem que o alinhamento original. Na super deluxe, a esse disco juntam-se mais dois, com 33 maquetes e versões alternativas; um quarto disco com o álbum em mono (ou seja, a versão original) e misturas em mono, inéditas, de "She's Leaving Home", "A Day in the Life" e "Lucy in the Sky with Diamonds", bem como o documentário "The Making of Sgt. Pepper", estreado em 1997, e os filmes promocionais de "A Day in the Life", "Strawberry Fields Forever" e "Penny Lane". Quanto a estes dois temas históricos, editados como single antes da edição do álbum mas deixados de fora do mesmo, o seu áudio surge nos extras da versão deluxe. Giles Martin explica a decisão de não acrescentar as canções ao alinhamento original: "Também remisturámos 'Penny Lane' e 'Strawberry Fields Forever'; estão na caixa, mas nos extras. Pensámos muito se deviam ser incluídas no álbum, e até falei com o Paul sobre isso, mas porquê mudar o disco? E íamos pô-las onde, no lado A ou no lado B?"
Com um mínimo de intromissão no espírito das gravações, Martin quis preservar "o calor e o amor que transparecem" das fitas e honrar a confiança que a 'família' dos Beatles sempre depositou em si. "Não quisemos simplesmente aumentar o volume da bateria", diz, referindo-se ao trabalho que fez com Sam Okell. "O que tentei é que vocês ouçam o que eu ouço, quando peguei nas gravações, e que tem a ver com claridade, impacto e o que uma canção nos faz sentir", afirma, adiantando que teve por referência principal a versão mono. "A lenda diz que a banda se empenhou na mistura mono do álbum; a estéreo, com que muitos de nós crescemos, foi despachada em meia hora." À "Mojo", Paul McCartney confirma: "Nós não gostávamos do estéreo, éramos fanáticos pelo mono. Achávamos que estéreo queria dizer que o som seria duas vezes mais alto, por haver dois altifalantes!", confessa, admitindo que a versão estéreo do disco se encontrava algo datada. Igualmente à "Mojo", Martin admite que tentou "tornar o estéreo mais mono, se é que isso faz sentido. Pôr a voz mais ao centro. Torna o som mais direto e os Beatles são melhores quando são diretos".
De volta a Abbey Road, o nosso anfitrião sublinha que, embora este trabalho resulte "do amor" dos envolvidos "pelo disco e pela música", tentou ser "frio e calculista" na hora de tomar decisões. "Ao preparar os extras, ouvi a voz do meu pai [nas fitas]. É emocionante. E a minha mãe veio ter comigo, quando estávamos a fazer as remisturas 5.1 [incluídas na versão super deluxe] e ouviu a 'Lovely Rita'. Ela não sabia o que estávamos a fazer, mas disse: está muito melhor! Continuo a não gostar da canção, mas está muito melhor", contou entre risadas. "Mas não podemos deixar-nos levar pelas emoções - temos de pôr aquilo a soar bem e as canções têm de nos fazer sentir alguma coisa, senão é só perfeição hi fi. Aprendi isso há dez anos, quando [remisturei] 'I Am the Walrus' para [o projeto] 'Love', aqui no estúdio 3. Soava espetacular e pensei: somos génios! Então fui ouvir o original, que é escuro, claustrofóbico e fixe, enquanto o meu parece Steely Dan", troça.
"Não tem só a ver com [obter um] bom som, mas com fazer as pessoas sentir as coisas certas." Disponível em CD, LP e digital, a reedição daquele que McCartney considera ser o disco mais influente dos Beatles parece seguir um dos motes de Giles Martin. "Os Beatles não soam a velho, e os seus discos não devem soar velhos", diz, para justificar o lifting sonoro. "Hoje em dia usa-se muito a palavra 'imersivo', mas este é um disco em que se pode mesmo mergulhar."
Artigo publicado originalmente na revista E, do Expresso, a 21 de maio de 2017.» in http://blitz.sapo.pt/principal/update/2017-05-26-Sgt.--Peppers-Lonely-Hearts-Club-Band-dos-Beatles-faz-hoje-50-anos.-E-a-BLITZ-esteve-em-Abbey-Road
José Cid - "Ode to the Beatles"
Jimi Hendrix - "Sargent Peppers"
The Beatles - "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"
The Beatles - "A day in the life"
The Beatles - "Lucy in the sky diamonds"
"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
The Beatles
It was twenty years ago today
Sergeant Pepper taught the band to play
They've been going in and out of style
But they're guaranteed to raise a smile
So may I introduce to you
The act you've known for all these years
Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band
We're Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band
We hope you will enjoy the show
Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band
Sit back and let the evening go
Sergeant Pepper's Lonely
Sergeant Pepper's Lonely
Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band
It's wonderful to be here
It's certainly a thrill
You're such a lovely audience
We'd like to take you home with us
We'd love to take you home
I don't really want to stop the show
But I thought you might like to know
That the singer's going to sing a song
And he wants you all to sing along
So let me introduce to you
The one and only Billy Shears
And Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band
Billy Shears!"
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