«Elsa Cerqueira, Cineclube de Amarante
O Sr. Alfredo é singular: a máquina de projetar, desde há muito que abandonou a sua dimensão superficial. A máquina não é apenas uma máquina. O objeto deixou de ser redutível à categoria de objeto. Por quê?
Simplesmente porque há uma relação dialética de transcendência-imanência que subjaz à máquina de projetar.
Por um lado, sente-se o profundo respeito – quase veneração - que tem para com a sua máquina. Há algo de sacralizado nesta máquina que o faz sonhar. É a dimensão transcendente.
Por outro lado, esta máquina é o prolongamento visceral do seu ser. É percetível esta imanência do objeto máquina no Sr. Alfredo. É co-natural à sua essência, quer dizer, faz parte das suas raízes identitárias.
O que é um escritor sem as palavras?
Não sei, mas certamente o mesmo que o Sr. Alfredo sem a sua máquina de projetar.
Assim, parece-me erróneo afirmar-se “O Sr. Alfredo e a máquina”. Enuncie-se “o Sr. Alfredo”. Bastará.
Pensando que a máquina é objeto e etimologicamente objectum é aquilo que se manifesta na exterioridade do sujeito, tudo o que escrevinhei parece contraditório. Mas o ser humano não é, apenas, razão. É contradição viva e dinâmica. É pulsar antinómico. É complexidade.
Percebo, agora, que a dialética transcendência-imanência co-habita neste homem e que ela traduz de forma perfeita a relação ambivalente e cúmplice que o Sr. Alfredo encerra.
Socorrendo-me do título de uma obra cinematográfica de Eisenstein, poderei dizer que este homem não é “o velho” e a máquina “o novo” porque têm a mesma idade. São unidade e não diversidade.
Creio que nisto reside o poder encantatório do Sr. Alfredo Guedes.
Para mim é, e será sempre, o Senhor que sonha e me faz sonhar.»
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