19/06/13

Música Portuguesa - Depois de ter elogiado o talento de António Zambujo, contribuindo para a popularidade do cantor português no Brasil, Caetano Veloso escreveu uma crónica emocionada sobre a atuação de Carminho numa cerimónia de entrega de prémios.

Carminho faz Caetano Veloso chorar -

«Carminho faz Caetano Veloso chorar

Músico brasileiro assistiu a concerto de fadista portuguesa no Brasil e endereça-lhe os maiores elogios.

Depois de ter elogiado o talento de António Zambujo, contribuindo para a popularidade do cantor português no Brasil, Caetano Veloso escreveu uma crónica emocionada sobre a atuação de Carminho numa cerimónia de entrega de prémios. 

Neste texto, publicado no jornal brasileiro O Globo , a lenda da Música Popular Brasileira expõe que, além de numerosas outras prestações na gala, "tivemos Carminho, prefaciada pela discrição mesoatlântica de António Zambujo, levando o sabiá de Tom Jobim e Chico Buarque ao lugar alto que lhe é de direito na história da língua portuguesa ". 

"Foi uma noite de vários aplausos de pé. Mas o que saudou o evento Carminho/"Sabiá" dizia coisas de que as mesmas pessoas que se levantavam não tinham tempo de consciencializar-se. Carminho é a mais nova e a mais bela floração desse renascimento do fado entre jovens portugueses que já faz agora mais de década. Ouvi-la cantar essa canção de exílio brasileira com voz de quem mal atravessou o oceano para vir aqui nos ensinar tanto, foi de fazer chorar ",  pode ler-se neste link. 

"A plateia se levantou crendo ser levada a isso pela exuberância vocal e musical da jovem cantora. Seria um aplauso entusiástico diante de uma interpretação virtuosística. Justo. Mas era claro que havia mais. Muito mais. As pessoas repassaram (era perceptível), num instante, a história da canção (que lutou com o tempo para ser devidamente amada), a história do Brasil, a história da nossa língua. A voz e a pronúncia de Zambujo eram mesoatlânticas. O canto de Carminho era purissimamente lusitano ". 

"Mas o acontecimento Carminho cantando assim nosso passarinho (nos dois gêneros: "uma sabiá" e "o meu sabiá", como o dicionarismo de Tom conversou com o de Chico, trazendo de volta minhas lembranças de uso do nome da ave, em minha Santo Amaro natal, tanto no masculino quanto no feminino) era, no auge do arrebatamento das notas altas com arabescos ibéricos, a consolidação desse mesoatlântico que busco e que Zambujo anunciou. Não seria preciso consciencializar-se de tudo isso para vivenciar o todo da experiência: cada pessoa que foi arrebatada pelo momento desse breve milagre sabia, em sua carne, que todas essas implicações estavam em jogo ". 

Tendo atuado com frequência no Brasil, Carminho gravou já uma versão de "Carolina", de Chico Buarque, com o próprio autor, canção que seria incluída na edição brasileira do álbum Alma . 

Em entrevista à BLITZ, Carminho teve o seguinte a dizer sobre a experiência: 

"Cantar com o autor uma música dele é uma abertura de portas, é ele dizer: quero-te em minha casa. E isso foi mágico. Cantámos no mesmo estúdio, a olhar um para o outro, não foi daqueles duetos em que está cada um na sua parte do mundo! Foi uma conquista: baseou-se em estarmos juntos, jantarmos, conversarmos. Ele é uma pessoa tímida, reservada, que sai pouco. Nem estava à espera que fosse ao meu concerto [no Rio de Janeiro]. O facto de ele querer ir dar-me força foi um sinal de grande carinho e respeito, por parte dele, e um grande orgulho para mim".» in http://blitz.sapo.pt/carminho-faz-caetano-veloso-chorar=f87876#ixzz2Webk6U59

"Carolina
Chico Buarque

Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar

Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo, pela janela, ah que lindo
Mas Carolina não viu...
Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe,
Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar

Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu."


Carminho e Chico Buarque | Carolina (Vídeo oficial)

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