«Morangos e alfaces no lugar de flores
Os hortícolas estão a substituir as plantas tradicionais nos jardins. Os portugueses cultivam-nos como se fossem flores em canteiros. Nascem hortas ajardinadas, tal como acontece na paisagem francesa de Villandry.
A inspiração chega de França, do vale do Loire, e é adoptada em Portugal nas chamadas hortas ajardinadas. Tendo como exemplo os jardins do castelo de Villandry, onde couves e flores convivem em canteiros feitos de arbustos, os portugueses começam agora a cultivar hortícolas ao lado de plantas tradicionais de jardim.
«Os hortícolas são mais baratos do que as plantas normais», diz Pedro Pulido Valente, director comercial do Horto do Campo Grande, para explicar o facto de, há um ano, não vender plantas para produção e de, agora, ter as suas lojas carregadas de alfaces, couves, melão, melancia, morangueiros, feijão e tomate. «Há uma procura enorme destes alimentos para os colocarem em jardins. Talvez porque o seu crescimento seja rápido. Por exemplo, em cinco ou seis semanas tem-se uma alface grande e é possível conseguir uma produção quase em contínuo».
Elsa Severino, arquitecta paisagista, considera que este aumento do cultivo dos hortícolas é uma consequência da crise e de uma maior disponibilidade das famílias, mas também da «mediatização das hortas sociais». Hoje, pedem-lhe muitas vezes para idealizar hortas desenhadas tal qual um jardim, onde cenouras, beterrabas, espinafres e alcachofras crescem ao lado de bancos de pedra e pérgulas. Um pouco à semelhança do que acontecia no tempo das quintas de recreio, onde junto a fontes cresciam vinhas. E do que já acontecia Europa fora com couves de tonalidades roxas a serem plantadas no mesmo local de roseiras.
Para o desenho deste tipo de jardins há, porém, limitações «com carácter de produção»: a rotação de culturas obriga a uma área razoável de terreno, o solo deve ser uma mistura de areia, limo, argila e húmus – de textura leve – e o espaço deve estar protegido dos ventos de Norte e bem exposto ao sol.
Por isso é que Elsa Severino aconselha a plantar-se árvores de frutos contra muros, em vedações ou sob a forma de palmeta para que as copas não façam sombra sobre os canteiros – sejam as árvores limoeiros, macieiras ou pereiras.
Morangos entre malaguetas
Nos frutos e nesta época do ano, são os morangueiros que mais se vendem no Horto do Campo Grande. Pedro Pulido Valente conta que a venda está muito acima das aromáticas. Mas estes dois tipos de plantas não têm de ser ‘inimigos’. A arquitecta paisagista Elsa Severino dá conta de terrenos onde morangueiros e framboeseiros crescem, lado a lado, com condimentares, como malaguetas.
Nestes jardins, as variantes de cor assemelham-se aos campos holandeses de tulipas – parcelas de morangos alternam com outras de malaguetas vermelhas e amarelas. Nas extremidades, surge o lilás dos canteiros de alfazemas.
Tudo isto só é possível numa zona com água em abundância. Só assim se poderá ver crescer alho-francês ou couves-de-bruxelas junto a alfaces. Aliás, se em França são as couves que mais se destacam na paisagem, em Portugal a opção vai para a verdura mais usada em saladas.
Aqui, o tempo é mais quente e, com o calor, as alfaces crescem mais facilmente. No negócio de Pedro Pulido Valente são o hortícola mais vendido. «Estão no topo».
francisca.seabra@sol.pt» in http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=49956
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