«Quem anda a tramar Seguro?
Quem é quem (clique para saber mais):
Ex-ministros de Sócrates, antigos apoiantes de Francisco Assis, entusiastas de António Costa e um grupo parlamentar que parece ingovernável. As ondas de choque causam brechas na liderança socialista. VEJA QUEM É QUEM e recorde os episódios da crise
Mais de vinte ex-membros do Governo de José Sócrates, entre eles oito ministros, quase todos nostálgicos da governação socialista, e muitos firmemente fiéis "à memória" do ex-primeiro-ministro era, já de si, uma paróquia da qual seria difícil ser pároco. Carlos Zorrinho, líder parlamentar, escolhido pelo secretário-geral do PS eleito há menos de um ano, foi, ele próprio, secretário de Estado da Energia e da Inovação, no último Governo socialista. Mas as pontes com os seus ex-colegas de Governo começaram a ruir na própria semana em que foi eleito líder parlamentar, quando anunciou "um novo PS". Zorrinho tentava esconjurar a herança de Sócrates, mas as suas palavras caíram muito mal no seio do grupo que passava a liderar, e a desconfiança relativamente à atitude de António José Seguro face ao passado recente do partido intensificava-se. No programa Quadratura do Círculo, António Costa saltava em cima de Zorrinho, afirmando, alto e bom som, que "as proclamações de um novo partido não são boas" e dizendo esperar que do congresso que decorrera dias antes não tivesse saído outro partido, diferente do seu... No hemiciclo, o ambiente deteriorava-se, com as críticas a Zorrinho, por não ter reconduzido os vice-presidentes da bancada Sérgio Sousa Pinto e Ana Catarina Mendes.
O fantasma de Sócrates, a verve de António Costa - com tempo de antena semanal na SIC Notícias - e as alegadas falhas na oposição ao Governo, bem como a reiterada rebeldia de um grupo parlamentar que não escolheu e não domina, mantêm António José Seguro acossado, na defensiva e com pouca capacidade de iniciativa. Talvez por isso, o secretário-geral do PS pretendia, esta quarta-feira, 4, dar uma sacudidela, convocando os deputados para uma reunião considerada de "clarificação". Isto depois de uma semana terrível, em que vários deputados se insurgiram contra a abstenção do PS no caso das novas leis laborais e em que o porta-voz do partido, João Ribeiro, no facebook, criticou José Sócrates. Estava o caldo entornado: não só uma voz oficial da direção punha em causa o próprio Governo do PS, como os deputados ainda tinham de engolir a aprovação de leis laborais que qualquer socialista digno desse nome repudia sem hesitações.
Pelo meio, António José Seguro tentava impor, nos estatutos do partido, a obrigação de a disciplina de voto passar a ser determinada pela Comissão Política do PS - proposta que, in extremis, o líder parlamentar conseguiu retirar da agenda estatutária. Mas subsiste uma dúvida, realçada pela ameaça de punição à deputada rebelde Isabel Moreira, que recusou, na sexta-feira, essa disciplina: onde está a promessa de liberdade de voto em matérias que não afetem a governabilidade - leia-se, de que dependa a sobrevivência do Governo? A reforma laboral não é uma dessas matérias...
Episódio 1 - A guerra do Orçamento
Quando António José Seguro se preparava, na discussão da especialidade, para puxar dos galões de ter pressionado o Governo a suavizar os cortes nos subsídios - aumentando o valor dos salários que seriam afetados -, vários deputados criticaram duramente o orçamento, desvalorizando completamente a alegada influência do PS na sua redação final, no que respeita às parcas conquistas que Seguro ia reivindicar... O líder socialista teve de justificar-se, dizendo que muitos portugueses (que não os seus deputados...) lhe agradeceram ter pressionado o Governo para suavizar os cortes, dando, até, o demagógico exemplo da carta que recebeu de uma pensionista...
Episódio 2 - A segunda guerra do Orçamento
Já depois de o Orçamento ter sido aprovado, 17 deputados do PS, liderados por Vitalino Canas e Alberto Costa, juntavam-se a oito deputados do Bloco de Esquerda, para pedir ao Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva da lei orçamental. Entre eles, nomes como os de José Lello, Sérgio Sousa Pinto, Isabel Moreira, Renato Sampaio e ex-governantes como Ana Paula Vitorino, Paulo Campos ou Eduardo Cabrita. Era a desautorização da direção do partido - e da bancada que, pela voz de Carlos Zorrinho, se demarcou da iniciativa. Mas era tarde: o mesmo partido que, em nome da responsabilidade e dos compromissos com a troika, se tinha abstido na votação do Orçamento, era o que permitia, agora, que deputados seus tentassem, na secretaria, inviabilizá-lo. Em privado, Seguro comentou, a propósito: "Se me perguntassem se preferia que estes deputados não fizessem isto, responderia que sim, preferia..."
Episódio 3 - O prefácio de Cavaco
Na própria manhã em que foi conhecido o prefácio de Cavaco Silva ao seu novo volume dos Roteiros, em que o Presidente arrasa José Sócrates, acusando-o de deslealdade, o ex-ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, surgiu nas rádios e nas televisões a retaliar, devolvendo as acusações e dizendo coisas irremediáveis sobre as "deslealdades de Cavaco". Isto sucedia no preciso momento em que Seguro fazia um esforço de aproximação a Belém, aproveitando a boleia de algumas críticas de Cavaco ao Governo de Passos Coelho. É verdade que Carlos Zorrinho também reagiu contra Cavaco - Seguro foi muito discreto... - mas não houve qualquer concertação de posições. De tal forma que Pedro Silva Pereira ressalvou que falava "em nome pessoal".
Episódio 4 - O processo dos juízes
Quando a Associação Sindical de Juízes processou 14 ministros do Governo Sócrates por irregularidades nos gastos de dinheiros públicos, a direção socialista manteve-se impávida e serena, para grande escândalo dos visados e indignação de boa parte do grupo parlamentar. Sérgio Sousa Pinto e Ana Catarina Mendes, sempre eles, exigiram a Seguro que reagisse em defesa dos ministros socialistas. A apatia de Seguro - ou a sua neutralidade colaborante... - adensou o clima de animosidade dos deputados contra a direção.
Episódio 5 - O 'post' no facebook
Nas vésperas de se abster na polémica reforma laboral, o PS tem uma voz oficial a "postar" no facebook que a culpa é de José Sócrates. João Ribeiro, porta-voz do partido, afirma que os compromissos assumidos, no passado, pelo ex-líder obrigam o PS a calar-se. Era a gota de água. José Lello acusou "alguns camaradas" de fazerem mais oposição ao Governo de Sócrates do que ao do PSD/CDS. E vários deputados ameaçaram não engolir a pílula da reforma laboral. O grupo parlamentar parecia entrar em autogestão, com cada um por si: Sérgio Sousa Pinto anunciou que, se as propostas de alteração do PS não forem aceites, votará contra, na votação final. A deputada independente Isabel Moreira votou contra, na primeira votação. E vários deputados exigem contas sobre a promessa de Seguro acerca da liberdade de voto em matérias que não impliquem o derrube do Governo. João Proença, que assinou a reforma laboral, sente-se desautorizado. Mas em entrevista recente à VISÃO, o deputado independente eleito nas listas socialistas, o ex-centrista Basílio Horta, já arrasava o acordo de concertação social, a reforma laboral e a própria UGT...» in http://visao.sapo.pt/quem-anda-a-tramar-seguro=f657541#ixzz1rNjqcqVj
(António José Seguro , o Populista)
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