20/04/12

Ciência - Um estudo liderado por Ana Maria Abreu, da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), Universidade Técnica de Lisboa, acaba de demonstrar que a previsão motora em jogadores profissionais é muito mais complexa do que antes imaginado!




«Basquetebol está no cérebro!


Estudo permite compreender melhor as estratégias ocultas usadas pelos peritos.


Um estudo liderado por Ana Maria Abreu, da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), Universidade Técnica de Lisboa, acaba de demonstrar que a previsão motora em jogadores profissionais é muito mais complexa do que antes imaginado.


“Descobrimos que os jogadores peritos ‘lêem’ o corpo em movimento, tomam consciência dos seus erros durante o processo de previsão e fazem uso de mecanismos de consciência corporal, enquanto os principiantes não ‘lêem’ o corpo do outro, não reconhecem os seus erros e necessitam de usar estratégias temporalmente mais custosas e menos económicas para processar a informação e obter a mesma resposta correcta”, explica a especialista em neurociências do desporto ao Ciência Hoje.


Neste estudo, a ser publicado na edição de Maio do European Journal of Neuroscience, a cientista portuguesa e colaboradores usaram uma técnica de imagiologia (Ressonância Magnética funcional) para investigar se áreas específicas do cérebro se activariam de forma diferente, em basquetebolistas peritos e principiantes, durante uma tarefa de previsão motora. Os basquetebolistas peritos e participantes principiantes observaram filmes incompletos de lançamentos livres e indicavam, ao pressionar um botão, se achavam que a bola entraria no cesto ou não. Durante esta tarefa de previsão, foi registada a actividade cerebral dos participantes.


“Uma grande surpresa deste trabalho foi percebermos que tanto atletas profissionais como principiantes que nunca tinham jogado basquetebol respondiam adequadamente à tarefa”, refere Ana Maria Abreu. Ao verem filmes de lançamentos livres, “tanto os profissionais como os principiantes conseguiam prever se a bola entrava ou saía fora. A diferença estava no tempo que demoravam a chegar a esta resposta e nos índices que necessitavam para chegar à mesma”, descreve.


Activações cerebrais durante a previsão perita das consequências de um lançamento livre
Com estas conclusões, os cientistas podem compreender melhor as estratégias ocultas usadas pelos peritos e exercitar estas estratégias até à perfeição. Deste modo, o estudo permite “retirar aplicações não só ao nível fundamental da compreensão do funcionamento do cérebro, mas de como nos podemos fazer valer desta informação, por exemplo, para optimizar treinos e processos para que a perícia seja alcançada de uma forma sempre mais eficiente”, refere Ana Maria Abreu. E mais acrescenta: “As aplicações vão muito para além do modelo desportivo, podendo ser generalizadas para todo o tipo de perícia motora”.


A investigadora da FMH, que colaborou com o grupo italiano do Social and Cognitive Neuroscience Laboratory, está agora interessada em perceber como é que o corpo dos peritos ‘se activa’ durante a observação de acções. Para tal, estão a usar a técnica de Estimulação Magnética Transcraniana.


“Temos na gaveta uma série de estudos e pretendemos investigar a activação de peritos e principiantes que observam imagens de acções de outros profissionais com a mesma afiliação ou afiliações diferentes. Queremos passar para um próximo nível de investigação e investigar como conceitos subjectivos como seja a mesma afiliação desportiva podem interferir na ‘ressonância’ motora de um jogador”, avança Ana Maria Abreu.


Sobre a investigadora

Ana Maria Abreu nasceu a 15 de Abril de 1978 em Oeiras. Em criança viveu nos Estados Unidos porque o seu pai estava lá a fazer investigação. É psicóloga de formação no ISPA. Estudou Neuropsicologia em Paris e Londres e tirou o primeiro pós-doc em Itália. Regressou a Portugal oito anos mais tarde “porque tinha saudades de andar de patins no paredão e deste povo que só quem esteve e partiu, conhece”, conta. Foi para o ICS, na Universidade Católica, a tirar outro pós-doc de dois anose actualmente está, há quase dois anos também, a trabalhar na FMH em neurociências do desporto no Spertlab. Gosta de montar a cavalo, andar de patins em linha, ler, viajar, dançar, fazer caminhadas, passear por Portugal e conhecer pessoas, apreciar boa comida e paisagens portuguesas. Ouve «Counting Crows» e de vários livros preferidos menciona «L’insoutenable Légèreté D’etre» do Milan Kundera, «The Human Stain» do Philip Roth, «The Catcher in the Rye» do J.D. Salinger e «A Confederacy of Dunces» do John Kennedy Toole.» in http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=53919&op=all


(Basquetebol: FC Porto Ferpinta 86-72 Ovarense)

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