«Ouro de família vendido para pagar livros escolares e propinas
A venda de peças de ouro popular, passadas de geração em geração, está a servir para ajudar as famílias a comprar livros escolares ou a pagar propinas nas universidades, admitiu o ourives Manuel Freitas.
«Há um dado comum a quase todos os que aparecem a vender as suas peças de família. É que tentam dar um ar de que estão bem, que não precisam do dinheiro, apesar de venderem até peças de 50 euros», explica.
Criador do Museu do Ouro Tradicional de Viana do Castelo e especialista com meio século de currículo, garante que a venda de peças de família, algumas «com várias dezenas de anos», nunca foi «tão elevada como agora».
«Tive o caso de uma senhora da classe média que veio entregar peças para comprar os livros da escola para o neto. Ou uma industrial que vivia muitíssimo acima dos padrões médios mas que me vendeu mais que um quilo de peças, com as lágrimas nos olhos, para pagar os salários em atraso aos trabalhadores da empresa», conta Manuel Freitas.
Um negócio que grande parte das vezes termina com «lágrimas a correr pela cara» do cliente, que normalmente se apresenta sozinho na altura de vender ou avaliar as peças.
«Querem quase sempre disfarçar as verdadeiras razões da venda vêm com a sua melhor roupa e com aspecto asseado e até com uma certa altivez. Procuram por todas as gavetas e nunca apareceram tantas peças em metal misturadas com as de ouro», assume.
Ainda assim, motivos de doença ou a compra de um terreno, são os mais apresentados na altura da venda destas peças, muitos desconhecendo mesmo o real valor do que apresentam ao balcão.
«Esta semana apareceu-me uma emigrante com um anel de ouro branco, que lhe tinha sido dado pela patroa. Acabei por perceber que valia dezenas de milhares de euros e eu próprio aconselhei a senhora a não vender, mas que ficasse como reserva», acrescenta.
O que nem todos podem fazer, dado o «aperto» em que vivem e cujas «lágrimas no rosto, não enganam».
«Aparece-me uma mulher com um alfinete em ouro, todo cravejado com diamantes a quem ofereci 5 mil euros. Ela ficou espantada, porque noutra casa só lhe tinham dado 650. Não quis vender logo por desconfiar que podia valer muito mais, mas uma hora depois veio entregar a peça».
Só esta semana, Manuel Freitas comprou, entre outras peças de ouro popular, um crucifixo com cem anos. Algumas servem depois para revenda, como usadas, outras manda fundir para entregar aos fornecedores da sua ourivesaria.
«Sinto-me triste ao ver a lapidação deste património, de peças populares que tanto interesse tinham para a nossa Cultura. Cada vez mais me convenço que tive a atitude correcta ao doar ao município de Viana do Castelo a minha colecção, para que não se perdesse», assume.
Com meio século dedicado à recolha e investigação da história do ouro tradicional e popular, este economista de formação, recorda que a venda das peças de família, passadas de geração para geração, era «muito rara», sobretudo nas aldeias.
«Era quase a última coisa de que se desfaziam. Com o desemprego dos filhos e dos netos, começam a vender os seus tesouros e por uma questão de imagem, é mais fácil a venda do ouro à venda das leiras que dão mais nas vistas aos seus vizinhos», explica Manuel Freitas.
Na Ourivesaria Freitas, negócio de família há 80 anos, todos os dias aparecem pessoas interessadas em avaliar peças. «A maioria vem vender logo passado poucos dias, mas é preciso ter cuidado com o preço do ouro, sempre a subir. Esta semana, uma peça que tinha avaliado em 426 euros, quatro dias depois paguei por ela 477, mas se não fosse sério tinha esquecido a valorização do metal», diz.
Sinais da crise que não se fazem sentir apenas nos portugueses residentes. «Este Verão, com a chegada dos emigrantes, percebi que a crise é generalizada. A febre da venda do ouro chegou aos nossos emigrantes, sobretudo em França, que já começaram também a vender», remata.
Lusa/SOL» in
Criador do Museu do Ouro Tradicional de Viana do Castelo e especialista com meio século de currículo, garante que a venda de peças de família, algumas «com várias dezenas de anos», nunca foi «tão elevada como agora».
«Tive o caso de uma senhora da classe média que veio entregar peças para comprar os livros da escola para o neto. Ou uma industrial que vivia muitíssimo acima dos padrões médios mas que me vendeu mais que um quilo de peças, com as lágrimas nos olhos, para pagar os salários em atraso aos trabalhadores da empresa», conta Manuel Freitas.
Um negócio que grande parte das vezes termina com «lágrimas a correr pela cara» do cliente, que normalmente se apresenta sozinho na altura de vender ou avaliar as peças.
«Querem quase sempre disfarçar as verdadeiras razões da venda vêm com a sua melhor roupa e com aspecto asseado e até com uma certa altivez. Procuram por todas as gavetas e nunca apareceram tantas peças em metal misturadas com as de ouro», assume.
Ainda assim, motivos de doença ou a compra de um terreno, são os mais apresentados na altura da venda destas peças, muitos desconhecendo mesmo o real valor do que apresentam ao balcão.
«Esta semana apareceu-me uma emigrante com um anel de ouro branco, que lhe tinha sido dado pela patroa. Acabei por perceber que valia dezenas de milhares de euros e eu próprio aconselhei a senhora a não vender, mas que ficasse como reserva», acrescenta.
O que nem todos podem fazer, dado o «aperto» em que vivem e cujas «lágrimas no rosto, não enganam».
«Aparece-me uma mulher com um alfinete em ouro, todo cravejado com diamantes a quem ofereci 5 mil euros. Ela ficou espantada, porque noutra casa só lhe tinham dado 650. Não quis vender logo por desconfiar que podia valer muito mais, mas uma hora depois veio entregar a peça».
Só esta semana, Manuel Freitas comprou, entre outras peças de ouro popular, um crucifixo com cem anos. Algumas servem depois para revenda, como usadas, outras manda fundir para entregar aos fornecedores da sua ourivesaria.
«Sinto-me triste ao ver a lapidação deste património, de peças populares que tanto interesse tinham para a nossa Cultura. Cada vez mais me convenço que tive a atitude correcta ao doar ao município de Viana do Castelo a minha colecção, para que não se perdesse», assume.
Com meio século dedicado à recolha e investigação da história do ouro tradicional e popular, este economista de formação, recorda que a venda das peças de família, passadas de geração para geração, era «muito rara», sobretudo nas aldeias.
«Era quase a última coisa de que se desfaziam. Com o desemprego dos filhos e dos netos, começam a vender os seus tesouros e por uma questão de imagem, é mais fácil a venda do ouro à venda das leiras que dão mais nas vistas aos seus vizinhos», explica Manuel Freitas.
Na Ourivesaria Freitas, negócio de família há 80 anos, todos os dias aparecem pessoas interessadas em avaliar peças. «A maioria vem vender logo passado poucos dias, mas é preciso ter cuidado com o preço do ouro, sempre a subir. Esta semana, uma peça que tinha avaliado em 426 euros, quatro dias depois paguei por ela 477, mas se não fosse sério tinha esquecido a valorização do metal», diz.
Sinais da crise que não se fazem sentir apenas nos portugueses residentes. «Este Verão, com a chegada dos emigrantes, percebi que a crise é generalizada. A febre da venda do ouro chegou aos nossos emigrantes, sobretudo em França, que já começaram também a vender», remata.
Lusa/SOL» in
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