16/12/10

Guerra Colonial - Foi em 16 de Dezembro de 1972 que se deu o terrível Massacre de Wiriyamu, perpetrado pelas tropas Portuguesas!



«O massacre de Wiriyamu 

O morticínio, perpetrado pelas tropas portuguesas a 16 de Dezembro de 1972, em Wiriyamu, Chawola e Juwau, foi uma das maiores manchas da nossa presença em Moçambique (sobre as circunstâncias e a execução do massacre pode ler-se: BERTULLI, Cesare, A Cruz e a Espada em Moçambique, Lisboa, Portugália Editora, s.d.). Os combonianos a trabalhar em Boroma – uma missão a 50 quilómetros das aldeias atingidas - vêm a saber do que se tinha passado no dia seguinte. Segundo o relato dos padres Emílio Franzolin e Valentim Benigna à revista italiana «Famiglia Cristiana», naquele domingo os cristãos estão em alvoroço e só entram na igreja mediante a sua insistência. Durante a oração dos fiéis, um dos jovens levanta-se e diz: «Rezemos pelos mortos de Wiriyamu.» Um outro: «Rezemos pelos que foram assassinados em Chawola...» E outros ainda: «Rezemos pelos mortos de Juwau...» «Rezemos pelos nossos irmãos, pelos feridos e pelos refugiados...» É deste modo que os missionários tomam conhecimento dos massacres acontecidos menos de 24 horas antes. Tiram fotografias de dois sobreviventes de Chawola feridos pelas balas (Podista, uma rapariga de 20 anos, e António Mixoni, de 15 anos) e põem-nos a salvo da DGS. Correm ao hospital de Tete onde estão alguns feridos e falam com os padres de Burgos, cujas paróquias abrangem as aldeias massacradas. A gente fala de 500 mortos. Não havia tempo a perder. Era preciso avisar as autoridades eclesiásticas e dar a conhecer o facto. A 19 de Dezembro escrevem o primeiro relatório, que começa do seguinte modo: «Mais ou menos pelas 14 horas, dois reactores bombardearam as povoações de Wiriyamu e Juwau, a uns 25 quilómetros de Tete, no regulado de Gandale, enquanto cinco helicópteros desembarcavam tropas armadas, que cercavam as ditas povoações e metralhavam o povo que fugia do bombardeamento». (...)A seguir lê-se: «A população de Chawola, povoação muito próxima das de Wiriyamu e Juwau, vendo o fogo dos bombardeamentos, das metralhadoras e das palhotas a arder, juntou-se atemorizada no pátio de Chawola. (...) No dia seguinte, somente no pátio de Chawola, contaram-se 53 cadáveres, dos quais foram identificados 43» (os nomes vêm mencionados no relatório). As autoridades começam por negar até a existência de Wiriyamu. Mas os relatórios chegam à Europa e são amplamente divulgados pelo padre Luís Afonso da Costa, que tinha sido expulso de Moçambique, pelo padre branco Cesare Bertulli e, depois, com mais sucesso, pelo padre Adrian Hastings, no «The Times». Curiosa é a informação dos serviços de segurança sobre a irmã espanhola Maria da Visitación Saenz de Ugarte Iriartre, que usava o nome de Maria Lúcia, residente no Hospital Regional de Tete, onde prestava serviço na cirurgia: «Depois da operação “Marosca” (nome de código do massacre), sub-repticiamente, começou a inquirir feridos e refugiados das regedorias de REGO e GANDAR que chegavam ao Hospital Regional de Tete, de maneira altamente tendenciosa.» Ainda a propósito da irmã, continua a informação: «Foi co-autora dum relatório que veio a cair nas mãos dos nossos inimigos, na Europa, e que provocaram escarcéu infame, depois da publicidade verrinosa que lhe deu o padre Adrian Hastings». A conclusão é óbvia: a sua presença «neste Estado, revela-se altamente incompatível com os superiores interesses da Nação».


A negação da História 

A acrescentar aos documentos escritos e aos testemunhos dos missionários, vimos e ouvimos os autores materiais, da chacina descreverem o que brutalmente fizeram às populações e como, dias depois foram mandados enterrar as vítimas, sem armas para que pudessem ser massacrados. Os helicópteros que os tinham levado não os vieram buscar, como estava combinado e eles acabaram por cair muma emboscada, que vitimou muitos deles. Perante tudo isto, e volvidos quase 27 anos sobre os acontecimentos, surpreende que, Kaúlza de Arriaga, à época comandante-chefe das forças armadas em Moçambique, continue a negar a existência de Wiriyamu (ver entrevista ao jornal «Público», de 13 de Março de 1999). Para o general, tratou-se simplesmente de «rumores de abusos das tropas», um escândalo montado pelos Padres de Burgos. Diz que os três inquéritos feitos não descobriram nada e concluíram que «não ocorreu nada em Wiriyamu. Não houve nenhum crime em Wiriyamu» (como se vê, os inquéritos já então tinham tradição!). Parece que só os políticos e as altas patentes militares é que nunca souberam de nada e persistem em tentar branquear a História!» in http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEuukFZpZFdaulQZWT
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Não há guerras justas, nem guerras limpas... Cada guerra esconde sempre momentos de expressão dos piores instintos do bicho-homem...
Sem querer desculpar, nem desvalorizar factos como estes, que são desprezíveis para a qualidade humana, conheço alguns ex-combatentes, que de facto, foram obrigados a ir lutar para um sítio hostil e desconhecido e sem perceber bem a razão porque lutavam... Afinal, Salazar cultivava a ignorância do povo, por alguma razão...
Sinceramente, repugnam-me muito mais alguns senhores que enriqueceram com esta guerra e hoje são vistos, como autênticos heróis de Abril!



Aliança - "Aquele Inverno"

Resistência - "Aquele Inverno"

Delfins - "Aquele Inverno" - (RFM)

"Delfins - Aquele Inverno

Há sempre um piano
um piano selvagem
que nos gela o coração
e nos trás a imagem
daquele inverno
naquele inferno

Há sempre a lembrança
de um olhar a sangrar
de um soldado perdido
em terras do Ultramar
por obrigação
aquela missão

Combater a selva sem saber porquê
e sentir o inferno a matar alguém
e quem regressou
guarda sensação
que lutou numa guerra sem razão...
sem razão... sem razão...

Há sempre a palavra
a palavra "nação"
os chefes trazem e usam
pra esconder a razão
da sua vontade
aquela verdade

E para eles aquele inverno
será sempre o mesmo inferno
que ninguém poderá esquecer
ter que matar ou morrer
ao sabor do vento
naquele tormento

Perguntei ao céu: será sempre assim?
poderá o inverno nunca ter um fim?
não sei responder
só talvez lembrar
o que alguém que voltou a veio contar... recordar...
recordar...
Aquele Inverno "


Documentário sobre a Guerra Colonial Portuguesa - (Parte - 1/11)

A «GUERRA» 3º Episódio - «Violência do lado Português»

A «GUERRA» 1º Episódio - "Massacres da UPA" - (Parte 1)

Guerra Colonial de Mozambique - (1964-1974)

(Como criminales de guerra)


2 comentários:

  1. E o Que mais custa ė ouvir os ex-comandantes militares a exigirem ao Antonio Lobo Antunes que pedisse desculpa sobre o que disse e passou na guerra colonial, não foi só em wiriyamu foi tambem em Angola eu tenho fotos de familiares que estiveram a combater no ultramar verdadeiramente chocantes, coisas do outro mundo, agora que podiam pelo menos retratar-se e pedir desculpas, continuam a negar as barbaridades, são tudo bons rapazes.

    Abraco

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  2. É verdade, Carlos!

    Não há guerras justas, entre seres racionais...

    A guerra é sempre um catalisador dos instintos mais primários: sobrevivência, medo, poder, força, humilhação...

    Abraço,

    Helder Barros

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