01/11/19

Religião Dia de Todos os Santos - Hoje os católicos celebram os santos e mártires que morreram pela fé cristã, mas a festa era pagã e celebrava o início do Inverno.



«Como se começou a celebrar o Dia de Todos os Santos

Hoje os católicos celebram os santos e mártires que morreram pela fé cristã. Mas a festa era pagã e celebrava o início do Inverno

A primeira vez que se celebrou o Dia de Todos os Santos foi em 609 d.C. por ordem do Papa Bonifácio VII para recordar todos os cristãos que tinham sido mortos pelos romanos nos primeiros anos da Igreja Católica. O número, mais ou menos exacto, é de 6.538 santos e beatos, segundo o Martirológio Romano.

Mas o dia já era marcado por festas dedicadas ao início do Inverno disse à SÁBADO o professor Paulo Mendes Pinto, coordenador da área de ciências das religiões da Universidade Lusófona.

Quando foi celebrado pela primeira vez o Dia de Todos os Santos?
É complexo saber quando se terá celebrado esta festa de cariz tão popular. Trata-se de um quadro de heranças religiosas a que o Cristianismo foi buscar material de fé e que é impossível de datar, residindo no registo das estruturas de mentalidade. A associação ao culto aos mártires será, sem dúvida do séc. II, quando o martírio é identificado com a salvação imediata. A sistematização teológica e a data são já do século VII; da época do Papa Bonifácio VII, em 609 ou 610, que a coloca a 13 de Maio e, depois, de Gregório III que a fixa no actual dia 1 de Novembro.

Porque foi instituído o dia? Está relacionado com o martírio dos primeiros cristãos? 
Sim, em virtude das perseguições, da forma fácil com que se matava por motivos religiosos, o martírio terá grassado nas comunidades cristãs dos séculos II a IV. A ideia de santidade no Cristianismo está profundamente marcada e dependente do martírio, forma de se obter a santidade. Assim, podemos encontrar nesses séculos uma estruturação do culto a esses mártires, muitos deles "sem nome", como mediadores entre os vivos e Deus.

Já era festejado antes?
Quase todas as festas cristãs correspondem a festividades anteriores, sejam elas pagãs ou judaicas. É a ordem natural da "criação" religiosa em que o novo se cimenta nas práticas, nos calendários e nos símbolos do que estava antes. O 1º de Novembro era, em algumas culturas, a marca da entrada do Inverno, a época em que a natureza morre. Por toda a simbologia que associa a morte à fertilidade que nessa altura inexiste nos campos, seria naturalmente neste período do ano que se centraria a simbologia associada à morte, seja o Dia de Todos os Santos seja, no dia seguinte, o Dia de Finados.

Celebrava-se o Samhain. Que festa era esta?
Esta festividade, da qual muito pouco se sabe, centrava-se exactamente na ideia de morte associada ao rito agrário. Começava o Inverno, morria a natureza até que na passagem de Abril para Maio, com o Beltane, a natureza ressurgisse na sua capacidade geradora de vida.

Por que razão a igreja católica assimilava as festas pagãs?
É o normal andar das dinâmicas religiosas. Umas vezes conscientes, outras inconscientes, o Cristianismo foi ao encontro do sentir das populações, sentir esse materializado já há milénios em datas, festivais e ritos. Muitos foram cristianizados, integrados.

Houve resistência a esta assimilação?
Houve resistência, sim. O caso mais interessante até se encontra numa personalidade importantíssima para se compreender o Cristianismo em Portugal: Martinho de Dume, ou de Braga (520-579), escreve uma famosa obra, o De Correctione Rusticorum (Correcção aos Rústicos), onde aponta o erro que era manter um sem número de práticas pagãs sob roupagem cristã - a propósito, terá sido ele o grande impulsionador para que em português se deixasse de enumerar os dias da semana através dos nomes de divindades pagãs, realidade que apenas ocorre em português.

Na Idade Média acreditava-se que no Dia de Finados, no dia 2 de Novembro, as almas do purgatório eram libertadas. É daí que surgiram as bruxas e fantasmas do Halloween norte-americano?
Há um sem número de tradições populares, um pouco por toda a Europa, que dizem que as almas são libertas nesse dia. A partir do século XI e XII há uma tensão muito grande em torno do pecado, da salvação e do Purgatório como local e instrumento de possibilidade de obter essa salvação. A pouco e pouco, vão se construindo mecânicas em que os vivos têm obrigação para com o defuntos que se encontram nesse local de purga. São as missas, as rezas, as indulgências, etc.» in https://www.sabado.pt/vida/detalhe/como-se-comecou-a-celebrar-o-dia-de-todos-os-santos


(Por que a Igreja celebra uma festa de Todos os Santos?)


Sem comentários:

Enviar um comentário

Pin It button on image hover