«Disco da semana: Os últimos tesouros de Amy Winehouse
Amy Winehouse - "The Girl From Ipanema"
Amy Winehouse - "Our Day Will Come" - (Official Lyrics - Tribute)
Amy Winehouse - "All my lovin"
É um tributo em forma de 12 canções. Os produtores e amigos de Amy Winehouse, Mark Ronson e Salaam Remi, criaram, em conjunto com a editora e a família da cantora, um álbum com novos temas e versões alternativas de clássicos de Amy. Porque a música, essa, é eterna.
Não será por acaso que, terminados os 12 temas do disco póstumo de Amy Winehouse, ainda se ouça novamente a voz da cantora. O que aí vem é uma espécie de confissão: «Sabem? O Marvin Gaye é ótimo, mas o Donny Hathaway... (longa pausa, talvez pense nele, talvez pense nela) ele não conseguia conter-se. Tinha alguma coisa dentro dele, sabem?».
A identificação de Amy Winehouse com o cantor soul Donny Hathaway - que cometeu suicídio em 1979, aos 34 anos - pode ser a de quem quase se olha ao espelho. Amy tinha também algo dentro dela, alguma coisa de incontrolável, explosivo, excessivo, fatal. Amy estava a gravar uma versão do tema Donny Hathaway «A Song For You», que faria parte do terceiro álbum da cantora e que chega agora como tema que fecha o álbum «Amy Winehouse Lioness: Hidden Treasures». Tesouros de Amy Winehouse para fãs e não só, ávidos de uma Amy que os deixou demasiado cedo. Muitos continuam a passar em frente à casa da cantora, em Camden, Inglaterra, para prestar homenagem.
Após a morte da cantora em julho, aos 27 anos, os produtores Mark Ronson e Salaam Remi, com quem Amy Winehouse estaria a preparar o novo disco, passaram algum tempo a remexer no «baú» das canções, a ouvir as gravações que Amy fez antes, durante e depois da edição dos álbuns que a tornaram num sucesso mundial - «Frank» e «Back to Black»». Ao jornal O Globo, Salaam Remi disse que “ouviu horas e horas de arquivos registados por ele entre 2002 e 2011”.
O que saiu de lá foi inevitavelmente uma mistura. Uma manta de retalhos que funciona desde logo porque o que cose temas mais antigos aos mais novos, os mais trabalhados aos menos trabalhados, é a autenticidade de Amy Winehouse. Por isso aceitamos quando ouvimos uma voz novinha de Amy a cantar uma versão despida de «The Girl from Ipanema» de Tom Jobim e Vinicius de Morais. Nem ficamos aborrecidos quando percebemos que alguns temas podiam ser muito mais se Amy tivesse tido mais tempo para trabalhar neles. Ainda assim, para alguns este disco será a porta de entrada no universo Amy Winehouse.
Para o pai da cantora, por exemplo, foi quase um momento de iluminação. «Passei tanto tempo a correr atrás da Amy, a ralhar com ela, que acabei por nunca compreender realmente a sua verdadeira genialidade. Só depois de me sentar, com o resto da família, a ouvir este disco, é que fui capaz de apreciar a total plenitude da profundidade do talento da Amy, dos clássicos jazz às canções hip hop», afirmou Mitchell Winehouse. No texto que escreveu para acompanhar este disco, diz mesmo que se a família não achasse que este disco estava ao nível dos anteriores nunca teria concordado com a sua edição.
Os 12 temas do disco que chega hoje às lojas incluem canções nunca antes editadas, como «Between The Cheats» (de 2008) e o dueto «Like Smoke» com o rapper Nas.
Para além das covers «Will You Still Love Me Tomorrow» (The Shirelles), «A Song For You» (Donny Hathaway) e «Our Day Will Come» (Ruby & The Romantics), «Hidden Treasures» conta ainda versões alternativas de temas como «Wake Up Alone», «Tears Dry On Their Own» e «Valerie». A versão de um dos maiores sucessos de Amy, «Valerie», é mesmo, escreve Mark Ronson num texto que acompanha o álbum, a versão de que Amy gostava mais.
Além destes, «Body & Soul», o dueto com Tony Bennett lançado no novo disco do cantor, também marca presença no alinhamento neste que é o primeiro álbum de Amy Winehouse a chegar às lojas após a sua morte.
Os produtores já deixaram até várias mensagens em forma de aviso. Este será muito provavelmente o último registo com músicas de Amy Winehouse. Não haverá muito mais no «baú», nem muito mais que valha a pena publicar, até porque nos últimos dois anos Amy Winehouse terá gravado muito pouco.
Este é mais um pedaço do que fica de Amy. Mark Ronson escreve que parte da sua «alma criativa» nunca mais será recuperada. Salaam Remi recorda uma Amy de 18 anos que entrou no seu estúdio em 2002, pegou na guitarra e cantou uma versão do tema «Garota de Ipanema».
Se tivessemos de eleger o maior mérito de «Amy Winehouse Lioness: Hidden Treasures» seria provavelmente este: mostrar a evolução e percurso de Amy, dos tempos da voz de menina em «Garota de Ipanema» ao sofrido e à beira das lágrimas «A Song for You». Deixar-nos mais uma parte da alma soul de alguém que não se conseguia conter e que estava sempre à beira do precipício como quem está quase sempre à beira do génio.» in http://musica.sapo.pt/noticias/discos/disco-da-semana-os-ultimos-tesouros-de-amy-winehouse
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